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06/11/2009 12:21
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Ao p do farol

Em poca de Expocande e de correria na redao, chega em boa hora o texto que reproduzo a seguir. Desconheo o autor, mas certamente servir de lio para muitos de ns. "Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles, a isso denominam educao. Nenhuma me duvida, no fundo do corao, que ao ter seu filho pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho aos seus conceitos e valoraes". (Friedrich Nietzsche) Li, certa vez que, ao p do Farol, no h luz. Mas, e o que dizer, quando falamos no de uma proximidade geogrfica, mas emocional, como na relao entre pai e filho, por exemplo? Somente hoje, distante de meu pai, vejo o suficiente para enxergar, com relativa nitidez, a luz de seu farol e para compreender a liberdade acolhedora de seu amor que, poca, eu percebia como sufocante e limitador. Foi preciso jogar-me ao mar, navegar nas ondas e intempries daquilo a que chamamos vida, para vislumbrar no somente em que me tornei, mas tambm para reconhecer a segurana do porto de onde parti. S assim pude entender no apenas o que hoje sou, mas de que razes brotei... Lembro-me de, quando jovem, ter dado a meu pai um livro do genial poeta Kahlil Gibran. No captulo "Dos Filhos", Gibran escreve: "Vossos filhos no so vossos filhos. So filhos e filhas da nsia da vida por si mesma". Eu, como todo jovem, clamava por liberdade. E, como jovem, ignorante e esquecido dos perigos do desconhecido, enxergava apenas o mar que minha frente se expandia. Dar o livro a meu pai era como dizer a ele: "me deixa viver, me conceda a liberdade plena da experincia". Lembro que toda vez que discutamos sobre liberdade ele me falava dos perigos que a vida nos reserva. Mas eu, que estava ao p do farol, enxergava apenas a beleza do horizonte e meus olhos no percebiam a dureza do percurso... Hoje sou pai. Os filhos crescem, amadurecem, e percebo que, como muitos pais, continuo a trat-los como se tivessem sempre a mesma idade, a mesma mentalidade, as mesmas fraquezas... Como hoje eu entendo que, para aprender a navegar, precisamos desafiar os tormentos e as borrascas do mar, chegada a hora de aceitar um dos inevitveis desgnios da vida: se nossos filhos esto ao p do farol, eles s podero ver a luz se entrarem mar adentro... E o melhor que podemos fazer, desejar-lhes boa viagem. E torcer para que carreguem consigo um pouco de suas razes.