Riquezas do nosso futebol - Cap�tulo XXXVII - O Olarias, da Linha do Rio (Parte 1)

Olaria � o local onde se fabrica cer�mica. No Brasil h� v�rios tipos de olarias. Algumas s�o pr�prias para a fabrica��o de tijolos e utilizam-se do barro e da for�a el�trica (ou mesmo animal). Embora seja conhecida como meio "primitivo" de fabricar tijolos, foi nela que se desenvolveu o tijolo modular, o qual n�o agride o meio ambiente, j� que n�o precisa ser queimado e economiza madeira. Em geral, uma olaria � constitu�da de escrit�rio - onde � feito o trabalho burocr�tico -, galp�o com maquin�rio e esteira, p�tio para secagem de blocos de argila ou estufa; fornos com chamin�s e �rea para ac�mulo de tijolos j� "queimados" e prontos para a comercializa��o. Em 1950 Candel�ria j� come�ava a se desenvolver economicamente. Na Linha do Rio, duas olarias eram a refer�ncia da localidade. Segundo conta o aposentado Armindo Jacob Frederico Schuck, hoje com 72 anos, as olarias ficavam instaladas pr�ximas � propriedade de Edmundo Faber. Uma delas era de propriedade de Leopoldo Rohde. Jacob lembra que aos finais de tarde, depois do trabalho, a maioria dos funcion�rios das duas Olarias jogava futebol no campo de Edmundo Faber. Foi assim que surgiu o time de futebol do Olarias. Jacob destaca ainda que o nome do time foi colocado pelos pr�prios jogadores, como refer�ncia �s duas olarias existentes. Os primeiros jogadores foram Agenor Sch�nke, Otmar Rohde, Hari Rohde, Nilo Moura, Servino Seckler, Edmundo Faber, Theofredo Rutsatz, Nildo Rohde, Vilibaldo Schmachtenberg, Otmar Roehrs, Ari Mundstock, Vilibaldo Tech, Arnoldo Rehbein, Vendolino Pagel, Armindo Jacob Frederico Schuck, entre outros. Arlindo Jost foi o patrono da equipe e Leopoldo Rohde um dos primeiros patrocinadores. O dia em que um trem decidiu o jogo Jacob recorda que para iniciar a disputa dos amistosos, o patrono Arlindo Jost foi at� as Lojas Renner, em Porto Alegre, comprar o primeiro terno de camisetas do Olarias. "Como a maioria dos atletas era gresmista, o Arlindo comprou as camisetas listradas, em azul e branco, para ser parecido com a do Gr�mio", conta. Nos primeiros anos, como havia poucas equipes em Candel�ria, o Olarias disputou amistosos fora do munic�pio. A equipe jogou contra Trombudo (Vale do Sol), Sinimbu, Rio Pardinho (Santa Cruz), Rio Pequeno (Vera Cruz), Linha S�tio (Vera Cruz), Juventude (Candel�ria), Stanz (Passa Sete), entre outros. Ele revela que um dos amistosos marcantes do Olarias aconteceu no distrito de Bexiga, em Rio Pardo. O Olarias estava jogando contra o Bexiga em um campo que ficava pr�ximo � esta��o de trem. O jogo estava 0x0 e bem disputado, quando surgiu o trem apitando para chegar na esta��o. "N�s n�o conhec�amos trem e quando a m�quina apitou, os nossos jogadores pararam em campo para ver os vag�es, que eram novidade. O pessoal do Bexiga aproveitou e fez um gol. Voltamos para a partida, mas perdemos aquele jogo por 1x0", conta. Permiss�o para jogar em troca de um fog�o O agricultor aposentado Vilibaldo Schmachtenberg, 87 anos, � outro remanescente que acompanhou o in�cio do Olarias nos �ureos tempos. Ponteiro-esquerdo da equipe, Vili, como � chamado pelos amigos, recorda vagamente das partidas amistosas. Auxiliado pela esposa, Emy Schmachtenberg, o agricultor volta ao passado, na plenitude de sua juventude, para lembrar de momentos marcantes proporcionados pelo futebol. Vili lembra do apoio incondicional da torcida do Olarias, formada pelas esposas e namoradas dos jogadores. "Naquela �poca, a maioria dos jogadores j� era casada. As esposas sempre acompanhavam e nos incentivavam nos jogos". O ex-jogador lembra que uma das grandes rivalidades do Olarias era com as equipes do Passa Sete. Eles jogavam com o Stanz, do Passa Sete, e depois com o Tabacos. "Eram grandes jogos que movimentavam as duas localidades", lembra. PROMESSA - Dona Emy fala de uma promessa que ela fez o marido cumprir para, s� ent�o, deix�-lo ir a cavalo, junto com os demais jogadores, que disputaram uma partida amistosa em Herveiras. "Ele queria ir no jogo e eu n�o queria deixar. Fiz ele prometer que ele iria me presentear com um fog�o a g�s para deix�-lo ir ao jogo", conta. Vili confirma que aceitou a proposta e seguiu a cavalo com os demais. A jornada iniciou na madrugada de domingo e o Olarias foi com dois times at� Herveiras para jogar o amistoso. Os candelarienses venceram as duas partidas e retornaram no mesmo dia para a Linha do Rio. Na semana seguinte, Vili comprou o fog�o a g�s para a esposa. Um detalhe: ele funciona at� hoje. Nos anos 60, o Olarias participou de v�rios amistosos e torneios por diversas localidades do interior. Uma das equipes, formada em 1965, contou com os seguintes jogadores: Arceno Radtke (Baiano), Alceb�ades Wegner, Clemente Schmachtenberg, Ivo Schmachtenberg, Arnildo Konrad (Feta), Erni Moraes, Arno Mundstock, Antonio Klaus, Doral�cio dos Santos, Mario Jost, Aldo Welker, Enio Mundstock e Celso Schmidt.