Por: Charles Silva
Depoimento: um novo olhar para a vida depois da covid-19
Colunista social da Folha e fotógrafa, Odete Jochims, fala do medo que sentiu ao se descobrir infectada pelo coronavírus, já que integra o grupo de risco, e da experiência que define como renovadora
À medida que cresceu o contágio do novo coronavírus - que ultrapassou o patamar de 26 milhões de infectados no mundo ontem -, aumentou também a sensação de proximidade da doença. Surgida na China em dezembro de 2019, a covid-19 se espalhou rapidamente e chegou inevitavelmente em Candelária, que registrou o primeiro caso em 15 de abril deste ano. Há alguns dias, o coronavírus também vitimou a colunista social e fotógrafa , Odete Jochims, que hoje, felizmente, já está plenamente restabelecida e, o que é melhor, livre da doença. Em entrevista ao Dial News, Odete relatou para a jornalista Mariele Gross como foram seus dias contagiada pelo vírus que já sacrificou mais de 863 mil pessoas no mundo. Segundo ela, tudo começou com o que parecia um resfriado. Por ser do grupo de risco, Odete procurou ajuda médica, passando a tomar medicamentos para aliviar os sintomas. Passado um tempo, ela seguiu apresentando sintomas e voltou a procurar ajuda no Centro de Atendimento à Covid-19 em Candelária.
Ao buscar o atendimento, Odete recebeu com surpresa a orientação da médica de que precisaria ser internada, pois já apresentava sintomas de um início de pneumonia. Um misto de medo e incertezas se abateram sobre a fotógrafa, que até então não possuía o diagnóstico do exame coletado. Odete disse ter ficado muito nervosa, tendo logo sido encaminhada ao Hospital Ana Nery em Santa Cruz do Sul. “Meu marido Rui me levou e este foi um momento muito marcante. No meio da viagem, meu filho colocou a mão no meu ombro e disse ‘não morre, mãe, eu preciso de ti’ ”, relatou emocionada. Foram quatro dias internada na ala covid, do Hospital Ana Nery, tendo os sintomas controlados e monitorados com antibióticos. A sensação, conforme Odete, foi terrível. "Doía tudo, um mal-estar terrível. Minha cabeça parecia que ia explodir", conta. Passado o tempo necessário para a medicação fazer efeito, a colunista social da Folha começou a apresentar melhoras e, aos poucos, a realidade da doença foi ficando para trás. Já de volta ao trabalho, Odete fala da experiência como algo desafiador, mas renovador. "Passei a ver a vida com outros olhos, tudo está mais bonito. Percebo hoje que nem tudo merece uma resposta, que a vida e a saúde são muito maiores que isso tudo. Meu marido também teve covid, mas ele foi assimtomático. Hoje olho para ele e percebo o quanto tivemos sorte".
Além da realidade da doença, Odete também não ficou imune ao preconceito. Olhares desconfiados, pessoas com medo de se aproximar, inclusive querendo distância de quem dela se aproximasse. "Isso é uma coisa que machuca muito, mas ao mesmo tempo está relacionada à falta de informação das pessoas. Os médicos me disseram que estou curada e não transmito mais a covid-19”, salientou. Ela ressalta que quer agora ser uma pessoa cada vez melhor, agradecendo a Deus todos os dias pela vida. Feliz com a vitória sobre a doença, Odete divide a alegria de também ver um dos filhos que não via há cerca de cinco meses. Com um novo olhar sobre a vida, a fotógrafa, que tantos belos rostos já fez brilhar, certamente agora mais do que nunca, sentirá cada imagem para muito além de suas lentes.