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Burrice na Candelria
O Srgio Cabral e o Paulo Hartung assustaram-se. O Srgio chorou, eu vi. J o Paulo, se chorou, eu no vi. A Globo no mostrou. Na condio de governadores de dois importantes estados da federao, Rio de Janeiro e Espirito Santo, o Srgio e o Paulo armaram uma arapuca. Programaram uma portentosa manifestao para, com ela, constranger os Senadores e coagir o Congresso Nacional.
Na Cmara, os representantes do povo j haviam aprovado, por colossal maioria, projeto do Deputado Ibsen Pinheiro que redistribui os royalties do petrleo de forma nova, justa e igualitria. S que, na concepo do Srgio e do Paulo a nova modalidade no justa e muito menos igualitria. A propsito, no sistema democrtico todos so iguais, mas no conceito do Srgio e do Paulo os fluminenses e os capixabas so mais iguais. Ento inventaram a tal manifestao para chantagear o Senado e vitimar o projeto ainda no Congresso. De inhapa evitariam saia-justa ao Lula de vetar projeto de incontestvel apelo nacional justo em ano eleitoral.
Refeitos do susto e aparelhados na estratgia os dois Governadores assediaram a Globo, a Band, a Record, o Jornal do Brasil, o Estado, a Folha e outros veculos menos famosos e partiram para a empreitada de desagravo. Colocaram faixa enorme de brao a brao no Cristo Redentor conclamando o fim da "injustia", cooptaram o Vasco e o Flamengo para os jogadores adentrarem o Maracan, no Clssico dos Milhes, levando faixa de protesto e convocando para manifestao popular no Largo da Candelria. Estabeleceram a data, o horrio, o local da mega manifestao e concederam o famigerado ponto facultativo.
Para atrair o povo, contrataram artistas famosos, bandas de renome e ornamentaram o centro da Cidade Maravilhosa, desde o Largo da Candelria at a Cinelandia. O objetivo era superar a afluncia de um milho obtida na passeata das Diretas J. Segundo recenseamento recente, o Estado do Rio tem 16.2 milhes de habitantes e o Espirito Santo 3.4 milhes. Somadas as populaes, o total apoxima-se de 20 milhes.
At que chegou o dia, as reparties pblicas foram fechadas e ficaram vazias, os alto-falantes berraram 140 decibis e romperam os tmpanos dos cariocas, as bandeirolas de crepom colorido tremularam em cordas vergadas sobre as avenidas, tudo conforme planejado. S faltou a multido de um milho. Compareceram mseros oitenta mil, menos da metade do funcionalismo agraciado com o ponto facultativo.
Oitenta mil, para uma populao de quase vinte milhes, significa 0,42% do povo. como se o Lauro, nosso Prefeito, convocasse o povo para manifestao-bomba na Praa Alberto Blanchard da Silveira e comparecessem 126 candelarienses, 0,42% da populao. Os manifestantes caberiam em trs nibus, todos confortavelmente sentados.
Sabe a razo do fracasso no Rio? Eu explico. Na primeira metade do sculo passado os estudantes brasileiros saram rua, na mais legitima manifestao de nacionalismo, exigindo das autoridades a estatizao do petrleo. Muitos apanharam, alguns foram presos e, no fim, todos comemoraram. "O Petrleo Nosso" deixou de ser lema de passeatas para tornar-se realidade dos brasileiros.
Nosso, de todos os brasileiros, e no s dos capixabas e dos fluminenses. No tem porqu o Estado do Rio ficar com nove bilhes de reais por ano e o Rio Grande do Sul com menos de duzentos milhes. Ser que os cariocas so mais brasileiros do que os gachos, do que os mineiros, do que os potiguares? Foi por isso que o povo no lotou o Centro da Cidade Maravilhosa. O povo no bobo e no serve mais de massa de manobra de polticos arcaicos e suas estratgias obsoletas. O povo sabe que o projeto do Ibsen vislumbra a equidade e revoga a injustia distributiva dos royalties. Por isso ficou em casa.
O feitio virou contra os feiticeiros. E os Senadores, quando viram a pfia manifestao no Rio, botaram as barbas de molho. No repetiro em Braslia a burrice cristalizada no Largo da Candelria.
Edemar Mainardi - Engenheiro Civil