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De Candelria a Cachoeira em busca de diversificao
A visita tcnica, ocorrida na tera, 4, foi acompanhada com exclusividade pela reportagem da Folha. Sete dos oito agropecuaristas que integram o Cite 117 (Centro de Integrao e Troca de Experincias), de Candelria, se deslocaram at a localidade do Capo do Valo e o municpio de Cachoeira para conhecer pomares de nogueiras e oliveiras. Eles foram acompanhados por representantes da Emater, Sindicato Rural e Irga - rgos responsveis, juntamente com a Agrican, por prestar assistncia tcnica ao grupo.
Na primeira parada, a 35 quilmetros da cidade, os candelarienses receberam dicas sobre o cultivo de noz-pec. As informaes foram repassadas pelo scio e diretor operacional da Paralelo 30 Sul, Jos Alberto Aued. Ele explicou inicialmente que a empresa tem dois empreendimentos: o condomnio agropecurio (onde fica o pomar) e a agropecuria (que produz e comercializa muda de nogueira para todo Estado). Ao acrescentar que os negcios resultaram de uma parceria entre seis scios, adiantou que o investimento na rea foi determinado pelos resultados de um estudo recente sobre agronegcio, no qual foram apontados os produtos que menos tiveram flutuao no mercado internacional nos ltimos 30 anos. "A noz-pec ficou em segundo lugar. Pelo fato de haver estabilidade de mercado, por 80% do volume consumido no Brasil ser importado e pela boa adaptao ao clima e ao solo do Rio Grande do Sul, foi que decidimos apostar na cultura", destacou.
Atualmente, a Paralelo 30 Sul tem 80 hectares ocupados com nove variedades de nogueiras e, em breve, expandir a rea em mais 30 ou 40 hectares. "Nosso carro-chefe a gentica. Procuramos espcies resistentes s pragas, com precocidade e com rendimento de fruta. A expectativa de que sejam colhidos at 20 quilos por rvore entre o 10 e o 15 ano. A partir da s tende a aumentar", disse Aued. Ele tambm alertou os agropecuaristas acerca da necessidade de se instalarem pomares em locais com condies de solo favorveis. "Olhamos mais de 50 reas de campo e s aqui (Capo do Valo, s margens da RS 403, na divisa entre Cachoeira e Candelria) encontramos o solo indicado", pontuou ressaltando que ainda foi preciso fazer diversas correes e aplicaes de nutrientes. Outro detalhe observado foi o acompanhamento permanente da plantao. Neste aspecto, Aued citou que ainda conta com a assessoria de dois engenheiros agrnomos da Argentina.
PIONEIRO - O diretor operacional da Paralelo 30 Sul tambm cultiva oliveiras. Pioneiro no Rio Grande do Sul, ele investiu no negcio em 2006, logo depois de ter adquirido uma rea de terras para o plantio de uva. "Eu queria fabricar o meu vinho e o meu espumante. Ocupei uma parte do terreno com parreiras e a outra com olivas, por ser algo diferente, rentvel e que ainda no era muito explorado no Estado", revelou. Assim, Aued comprou 3.500 mudas vindas da Espanha. O plantio ocupou 12 hectares de uma propriedade localizada na estrada do Quartel Mestre, no Alto dos Cassemiros, em Cachoeira.
O empreendimento, denominado Olivas do Sul, deu to certo que Jos Alberto comprou mais 3.500 mudas vindas do Chile para fazer o adensamento do pomar. A escolha das variedades foi o que garantiu o xito do negcio. "A Arbequina e a Arbozana se adaptaram em praticamente todo mundo e aqui na regio, diferente do que se observa no Mediterrneo, onde se concentram os maiores produtores, o desenvolvimento foi extraordinrio. O que l demora at 10 anos, aqui se consegue em trs anos e meio", disse.
Isto se viu na prtica, j que Aued fez a primeira colheita em 2009. E o rendimento tambm surpreendeu. "Ano passado colhemos 300 quilos. Agora, neste, foram oito toneladas". A produo foi transformada em leo que, logo, estar nos mercados de Cachoeira. Ele conta com a parceria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade de Passo Fundo (UPF), da Embrapa Pelotas e da Emater.
CURIOSIDADES - Conforme Aued, as olivas Arbequina e Arbozana no so muito recomendadas para conservas. Isto porque produzem frutos pequenos. Em entrevista Folha, ele explicou que estas espcies produzem leo com cheiro herbceo - semelhante grama cortada. "No tem intensidade no amargo e no picante, mas a Arbequina produz leo com baixa estabilidade e se no for bem armazenado pode estragar num curto espao de tempo. J a Arbozana tem maior durabilidade, por isso as duas se complementam e formam um produto de tima qualidade".
Inovao a palavra-chave
As experincias observadas pelos agropecuaristas do Cite 117 nestas visitas foram importantes por vrios motivos. Alm de adquirirem conhecimento e de conhecerem alternativas rentveis para diversificar a propriedade, eles observaram a necessidade de inovar. O produtor Jos Porto, que solicitou a discusso deste tema e motivou a visita aos pomares de nogueiras e oliveiras, ressaltou que Jos Alberto Aued no teve medo de arriscar. "Uma pessoa que no era do ramo quebrou paradigmas e apostou em algo totalmente novo", evidenciou.
O tcnico agrcola da Emater de Candelria, Sanderlei Pereira, reiterou a avaliao de Porto. "Os agricultores precisam encontrar outros mercados, conquistar novos consumidores (e que tenham poder aquisitivo) e apostar em culturas alternativas. Tem que se quebrar o paradigma de olhar numa nica direo", pontuou. Ele acredita que o municpio tem potencial para expandir o plantio das duas culturas. Os pomares de olivas, por exemplo, poderiam ocupar at 9 mil hectares, considerando o volume que o Brasil importa anualmente e a produo registrada por hectare. Um dos possveis interessados no plantio o agropecuarista Jos Porto. Ele disse que pretende estudar o tipo de investimento para conciliar com o plantio de arroz e a pecuria. Maiores informaes podem ser obtidas no escritrio da Emater de Candelria.
Fique por dentro
> Noz-pec
Pomar foi formado h um ano e meio
80 hectares cultivados
120 hectares a meta a ser alcanada
186 plantas por hectare
R$ 18 mil o custo total por hectare (desde a compra da terra at o plantio)
20 quilos por planta a meta de colheita entre o 10 e o 15 ano
O tipo de solo o franco-arenoso
Preo da muda oscila entre R$ 23 e R$ 24
> Olivas
Pomar foi formado h trs anos e meio
12 hectares cultivados
22 hectares a meta a ser alcanada
350 plantas por hectare
R$ 18 mil o custo aproximado por hectare (desde a compra da terra at o plantio)
20 quilos por planta foi o alcanado na primeira colheita
O tipo de solo o franco-arenoso (35% de argila)
Preo da muda varia de R$ 6 a R$ 12
A origem dos Cites
> A criao dos Clubes de Integrao e Troca de Experincias foi idealizada na Frana, em meados de 1940, quando 15 produtores se uniram e fundaram um centro de estudos e tecnologias agrcolas. A iniciativa foi exitosa e se espalhou pela Europa e outros pases da Amrica Latina, especialmente na Argentina e no Uruguai. No Rio Grande do Sul, a secretaria estadual da Agricultura criou os Cites na tentativa de resolver os problemas de isolamento - ocasionado pela distncia entre as propriedades - e de individualismo do homem do campo. Uma dcada aps a fundao dos primeiros Cites no Estado, em 1986, foi criada a Federacite com objetivo de organizar o funcionamento de cada um destes clubes.
>> O Cite se caracteriza por uma associao de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraes e necessidades econmicas. Suas bases essenciais so a auto-ajuda e a ajuda mtua, atravs das quais se consegue atingir os objetivos propostos. Tambm destaca os fundamentos do associativismo e do cooperativismo.
Fonte: Federacite (Federao dos Clubes de Integrao e Troca de Experincias)