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28/05/2010 13:00
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Histrias de Casamento - Parte IV - O enlace de Arquilau e Adylles

O casamento religioso era um capricho de poucos em meados de 1940. Em funo das despesas, maioria dos casais optava s pela cerimnia civil, no cartrio. Foi o caso de Arquilau Assis de Moura e Adylles Gonalves Pedra, que escolheram o dia 22 de setembro de 1945 para o matrimnio. Embora simples, o enlace foi especial para eles e os familiares. Afinal, ali comeariam uma nova vida. Os votos de unio, respeito, fidelidade e compreenso, firmados diante do Juiz de Paz e dos padrinhos, naquela data, at hoje se mantm. Quando disseram o "sim" reafirmaram o interesse de dividirem as responsabilidades, as alegrias e tambm as tristezas. Eram jovens, mas sabiam o que queriam. Tanto que do namoro at o casamento foram s cinco meses. Conhecidos de longa data - desde a infncia, mais precisamente - comearam os flertes durante um baile no salo de Ado Soares, em Rinco de Fora, e que era muito frequentado naquele tempo. At, de fato, formalizarem o namoro levou algum tempo. "Tinha outras pessoas interessadas nela. Eu tambm j tinha tido outras namoradas, mas um dia cheguei e disse para ela que isso no podia continuar, que tava na hora de comear a namorar srio", lembra Arquilau. E ento, dali em diante, o amor que ele sentia desde criana s aumentou. "Tinha uns 10 anos quando conheci a Adylles. Antes de ir para a escola, chegava numa venda dos pais dela para comprar uns pezinhos com a inteno de poder v-la", confessa. "Os pezinhos eram sovados, muito bons mesmo, e custavam 200 ris, cada". At a, Adylles morava com os pais - Elsa e Mrio Gonalves Pedra - em Rinco do Cedro, numa propriedade prxima a dos pais de Arquilau. Anos depois, ela se mudou para a Picada Escura e, finalmente, para Rinco das Casas, onde passou o restante da juventude. Sem perderem o contato, j que Arquilau seguia frequentando o armazm do futuro sogro, eles fortaleceram a amizade durante a juventude. Neste perodo, Arquilau tambm teve que aprender a danar. "S aprendi com 17 anos porque tinha muito medo de lavar caro. A Adylles j tinha me dito que se eu aprendesse, ela danaria comigo", revela. E assim, entre um baile e outro, o namoro vingou. VIDA A DOIS - Marcada a data do casamento, as famlias Moura e Pedra alugaram o nibus de Teodoro Filter para levar os convidados at o cartrio. Eles saram pela manh da localidade de Rinco do Cedro - a 13 quilmetros da cidade - para a cerimnia. O fretamento foi uma escolha acertada porque, conforme Adylles, tinha chovido muito nos dois dias anteriores e a estrada ainda estava com bastante barro. Em 22 de setembro, no entanto, fez sol. Os noivos chegaram ao cartrio na companhia dos padrinhos Erclia e Joo Lopes Carvalho e Geni e Ado Pedra. Adylles usava vestido branco, de um tecido semelhante a crepe, com vu e grinalda, sapatos claros e um buqu de rosas. J Arquilau estava num terno acinzentado, acompanhado de camisa branca, leno, flor de lapela e sapatos escuros. Os dois trajes foram feitos especialmente para a ocasio. Concluda a cerimnia, retornaram para o Rinco das Casas, onde os pais da noiva serviram um almoo simples. "O que mais se preparava era galinhada, leito assado, cuca. tarde teve caf e bolo", conta Adylles. Depois, seguiram para o Rinco do Cedro, at a casa dos pais de Arquilau - Etelvina e Joo Jos de Moura, onde moraram por durante um ano. TRABALHO - A primeira casa de Adylles e Arquilau, construda naquela mesma localidade, foi erguida com duas cargas de madeira buscadas na regio de Sobradinho. As toras de pinus foram trazidas por Arquilau que, durante a juventude, exercia o trabalho de freteiro. "Levava trs dias para ir e mais trs para voltar", relembra. Esta funo, alis, exerceu por mais cinco anos depois do casamento. Nos anos que vieram, com auxlio de Adylles, se dedicou ao plantio de arroz, milho, feijo e s criaes. Alm de preparar a sua terra, ele ainda preparava a de outros agricultores. "Numa poca cheguei a ter 22 juntas de bois para a lida", observa. Isto sem contar as carroas, carretas e demais implementos. FILHOS - Casados h um ano, tiveram a primeira filha: Geni. Nos anos seguintes nasceram Genira e Gilda Lorena. Depois resolveram adotar um menino - Jairo Sadi, j que haviam tido apenas meninas. Hoje o casal tem 10 netos e sete bisnetos. Para orgulho de todos os seus descendentes, sempre foram tidos como um exemplo de marido e mulher. Tanto , segundo conta a filha mais nova, que eles eram convidados para inmeros casamentos e, antes de encerrar a festa, Adylles organizava a cama do novo casal pela primeira vez, como forma de dar-lhes sorte. Nestes 65 anos de unio foram companheiros, amigos e parceiros. E a esto: felizes, como se v em todo bom romance. * Os nomes que constam neste texto so de responsabilidade das fontes. Nmeros e curiosidades > Levantamento realizado pela Folha no Cartrio de Registros Pblicos da cidade (ou da sede) mostra que em 1945 foram realizados 536 casamentos em Candelria. No ms de setembro daquele ano foram 33. Destes, dois ocorreram no dia 22. Cabe destacar a possibilidade de estes nmeros serem superiores, j que naquela poca tambm havia o Cartrio do distrito de Palmital - atualmente desativado - e o da Vila Botucara. > A lua-de-mel - Pode ter sido originada nos casamentos em que a moa era raptada contra a vontade e escondida por um ms (de uma lua cheia at outra) num lugar afastado. Neste perodo, ela e seu raptor bebiam uma mistura afrodisaca, adocicada com muito mel, at que se rendesse aos seus encantos. > O casamento - A cerimnia se originou na Roma Antiga como uma festa pblica que oficializava um acordo entre famlias e dava legitimidade aos filhos do casal que herdariam a propriedade e os costumes dos pais. Por isso, durante milhares de anos o casamento foi uma espcie de negcio. O que importava no era o amor, mas a continuidade da famlia, de acordo com seus padres e valores. O casamento por amor foi uma proposta do Romantismo, movimento artstico do sculo XIX. > O ms das noivas - O ms de maio foi chamado de ms das noivas por influncia da Igreja Catlica. Ela instituiu que o quinto ms do ano seria o mais promissor para cerimnias religiosas e homenageou Maria, me de Cristo, neste ms. Assim, acreditando que o perodo traria sorte e felicidade, tornou-se um costume marcar a data do casamento no ms de maio. Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br Agradecimento especial A Folha agradece, de forma especial, aos quatro casais que participaram da srie Histrias de Casamento. Atravs deles, o reconhecimento queles que preservam sua unio com respeito e dedicao.