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Cheiros
Fecho os olhos e, por um momento, lembro de cheiros que jamais sentirei novamente. Nestes ltimos tempos a falta de inspirao tem justificativa, pois me vm tona reminiscncias dodas. Me faltam palavras para escrever algo alegre ao invs de tragdias recorrentes em jornais e TV. Hoje ento escrevo algo diferente para prestar uma singela homenagem para uma pessoa que viveu na simplicidade, mas que de longe passou de ser simples por ser to especial. No dia 30 de julho de 2009, h exatamente um ano, algum muito importante se foi. E justamente no inverno, que gostava tanto. At aquele frio cortante de Bag no ano passado me fazer mudar de opinio. Desde ali prometi a mim mesmo que nunca mais me queixaria do calor do vero. Agora queixo-me do frio do inverno, pois dele que carrego as mais vivas e talvez as mais tristes lembranas.
O vazio que ela deixou nunca ser preenchido, e como a memria injusta ao trazer tona a saudade e nos remeter a certos questionamentos. Por que no lembramos com mais intensidade das situaes engraadas que passamos? Por que os momentos de dificuldade se sobrepem s alegrias? Parece que foi ontem que nasci. Parece que foi ontem que o bife na chapa era uma ferramenta mais forte para tirar da cama um pirralho resmunguento do que uma sacudidela carinhosa. Parece que foi ontem que sentia o cheiro do caf ao vestir o uniforme do colgio, onde ia tomar lies que no se resumiam ao passar de ano, mas que me garantiu um aprendizado para a vida inteira. Parece que foi ontem que, na volta do colgio, sentia o cheiro de um feijo bem temperado para fazer companhia a um po caseiro que, por vezes, substitua o arroz.
Parece que foi ontem que uma voz me chamava do jogo de futebol no campinho, quando a luz j havia se ido h muito tempo. Parece que foi ontem que a fumaa dos foges lenha do Rinco queriam imitar as nuvens, fazendo joguetes entre os cinamomos sem folhas. Parece que foi ontem que, aos 19 anos, abandonei a casa pela primeira vez. Parece que foi ontem que voltei do quartel e que meus velhos remoaram alguns anos e viraram mais do que pais, mas grandes amigos.
E o cheiro dos churrascos de domingo, e os cheiros das flores nas manhs de primavera, e o cheiro de folhas de pltanos do outono, e o cheiro das frias de vero, onde ficaram? No sei bem... ando em desencontro comigo mesmo; algo me falta. Tento mas no consigo encontrar algo perdido. Definitivamente os cheiros do inverno so os mais doloridos. Por que no aceitar que o ciclo este mesmo? Mas, pensando bem, dona Dorilda, mesmo que no estejas mais presente, o que se deixa nesta vida so os exemplos e as lies, por isso fao de cada tombo um degrau para alar a escada da vida. Lembrar dos cheiros e sabores que deixaste em nossas vidas vida foi o que restou, mas se restou algo, porque algo de bom houve. Talvez estes cheiros que vez por outra me atordoam sejam o tempero da alma, e se realmente forem, tenha a certeza de que tua misso foi cumprida com dignidade. Hoje, neste inverno, s sinto o cheiro da magnlia branca abandonada em frente casa. Preto, Cristiane, Ivana, Richard, Nadine e Jlia tambm agradecem por tudo. E vem mais uma netinha a, certamente ser uma pessoa que ter orgulho de ti, apesar de no ter te conhecido, pois no pra qualquer um deixar um legado de lies to ricas. Tenha a certeza de que tudo o que nos ensinaste poderia ser multiplicado; ns talvez no tenhamos aprendido as regras bsicas da matemtica da vida: multiplicar alegrias, dividir responsabilidades, subtrair tristezas e somar foras. Mas ainda estamos aprendendo. A vida um aprendizado sem fim. Somos gratos a Deus por t-la conosco, e pedimos que a tenha com carinho ao seu lado. At um dia. Beijos, carinho e nossa gratido.