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O dilema
* Por Edemar Mainardi - Engenheiro Civil
A gente até tenta ser condescendente, mas chega num ponto que não dá mais. A paciência acaba, a tolerância tem seus limites.
Antes, quando a Polícia Federal identificava deputados “mexendo” no orçamento e o Giovani Grisotti flagrava vereadores diaristas se divertindo na praia com o dinheiro do contribuinte, a gente achava que se tratava de episódio fortuito. A gente pensava que, devido às denúncias escandalosas que expunham as vísceras da corrupção, os malfeitores iriam se acanhar envergonhados.
Santo Deus, quanta ingenuidade! Não foi ninguém pra cadeia, os mandatos permanecem incólumes e os atores do mal, revigorados, voltam a atacar. E agora o ataque é praticado por atores de patamar mais elevado.
A impunidade é um incentivo ao meliante que, não reprimido, volta a delinqüir. Desse jeito, preponderando o império da impunidade, a podridão da corrupção disseminada rebentará em pústulas fedorentas, deteriorando o que resta sadio no tecido social.
O grande dilema de Shakespeare, “ser ou não ser, eis a questão”, pode ser parodiado por outro dilema que se ajusta à nossa realidade: “roubar ou não roubar, eis a questão” Veja só a que ponto nós estamos chegando. Já se questiona o valor da honradez e da honestidade. Pior ainda: já se ouvem vozes, por enquanto ainda abafadas, propondo a primeira alternativa do dilema atual. Rumores incentivando a disseminação da roubalheira: “ou se põe ordem na casa ou nos locupletamos todos”, dizem as vozes, propondo democratizar o produto da roubalheira.
Já se vislumbra, logo ali adiante, o conhecido fim da picada.
Perigoso. Estamos vivendo uma passagem de elevado risco. Quando a sociedade começa a descrer das instituições e perder a confiança nas autoridades, o futuro torna-se duvidoso. Tudo é possível, inclusive o advento de mudanças radicais pelo uso da força. Estamos na ante-sala do niilismo.
O niilismo é uma doutrina filosófica revolucionária que prega a destruição dos valores convencionais e abre, à força, o caminho para a construção de novo ordenamento. É uma fase de transformações radicais que geralmente antecede o anarquismo. E no anarquismo exagerado, o povo já cansado e intolerante, costuma seguir comandos drásticos e exaltados, alguns do tipo “vamos quebrar tudo”, não deixar pedra sobre pedra.
Não é necessário a gente chegar nesse estágio de desordem e anarquia. É preciso, agora que as entranhas estão expostas e as mazelas escancaradas, fazer uma profilaxia ou, como dizem os políticos, fazer uma faxina ética, extirpando os elementos putrefeitos. Do Vereador ao Governador, passando pelo Ministro e pelo Desembargador. Roubou, vai pra cadeia. E solucionamos assim o dilema da atualidade “roubar ou não roubar...”, optando pela adesão ao sétimo mandamento do Cristianismo: “não roubarás”.