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Geral 07/12/2018 16:01
Por: Luciano Mallmann

Vera Regina Becker: a arte na ponta dos pés

Recital deste sábado, no Clube Rio Branco, revive uma tradição que já dura 37 anos

  • Vera Regina Becker registra seu agradecimento à comunidade de Candelária pela receptividade à sua arte
  • Integrantes da Escola de Ballet Vera Becker

Quem assiste à cena tem a impressão de que os passos conferem ao corpo a capacidade de desafiar, ou mesmo de anular, uma das mais básicas leis da física: a própria gravidade. Olhos mais atentos, porém, percebem que a rara beleza de cada um desses movimentos, traduzidos na forma de uma das mais difíceis formas de arte, é conquistada apenas com um esforço contínuo que inclui vontade, persistência e uma rigorosa disciplina – tudo em grandes e contínuas doses. São esses atributos, somados à dedicação fiel à sua arte e à comunidade de Candelária, que permitem à candelariense Vera Regina Becker apresentar, na tarde deste sábado, 8, uma pequena mostra de um trabalho que vem sendo mostrado ao público candelariense já há quase quatro décadas. Realizados a cada dois anos, esses recitais deixam entrever um pouco da trajetória e do fruto do trabalho da professora à frente da Escola de Ballet Vera Becker – escola que, merecidamente, é uma das mais prestigiadas tradições de Candelária.

Nascida em 10 de julho de 1960, Vera é filha de Dolória (nascida Saueressig) e Ronaldo Becker. Vera cursou as séries inicias e o ensino médio no Colégio Medianeira. Já o contato com o balé data de quando, aos nove anos, iniciou as aulas na escola de Laís Terezinha Guimarães Saraiva. Concluídos os estudos no Medianeira, uma possível influência do balé se deu na escolha da faculdade, em sua opção por Educação Física. Foi então que Laís se mudou para outra cidade e deixou a Vera, como legado e também como uma espécie de missão, a direção da escola de balé. Era o ano de 1981. Uma parte da história da vida de Vera – e também de Candelária – tinha nesse fato o seu primeiro capítulo. Transcorridos 37 anos de contato com meninas e também mulheres de diferentes idades, Vera Regina Becker tem maturidade e conhecimento de causa para falar, não só de dança, mas dos mais diversos aspectos da formação de um ser humano.

Já se sabe que o balé clássico tem o papel de ser a base para os mais diversos tipos de dança. “Em outras escolas, ninguém passa para as diferentes modalidades sem ter aprendido o clássico. É como um pré-requisito”, explica. O aprendizado da técnica do clássico não traz somente, como seria de imaginar, a arte da dança na ponta dos pés, como muitas vezes é chamada. Para desenvolver essa capacidade são necessárias virtudes como disciplina e perseverança, que irão permitir a conquista da leveza, da postura e também de uma melhora da autoestima. Os resultados não se limitam a isso. Mais do que necessários são a repetição incansável, a concentração e a entrega da aluna ao espírito da música. “É mais do que um aprendizado. É uma conquista”, resume Vera. Segundo a professora, “a dança faz com que a pessoa ultrapasse seus limites. O aprendizado é uma forma de superação. Esse aprendizado também ajuda na timidez, na parte física, ortopédica, e é indicada por vários ortopedistas. E a autoestima conquistada se reflete em todos os aspectos da vida”, afirma.

Na trajetória pessoal da professora e bailarina Vera Becker, o balé tem um significado muito maior que uma simples arte. Considerando os atributos necessários para atingir a excelência, o balé clássico não deixa de ser uma filosofia de vida, tendo como pilares primordiais a disciplina, a persistência e a perseverança. Interrogada sobre a maneira como vê sua arte, Vera não mede palavras: “A dança me encanta. É através dela que transponho meus sonhos em realidade. Sinto-me privilegiada por poder, ao longo de tantos anos, conviver com tantas meninas e ter tido a chance de transformá-las em bailarinas”. E registra seu agradecimento à comunidade por sempre ter acreditado em seu trabalho e por lhe ter confiado, ao longo desses 37 anos, as suas filhas para aprender uma arte. Nesse sentido, pode-se perceber o quanto as próprias alunas são, por sua vez, privilegiadas, considerando que, para a professora, “a arte é um presente de Deus”.

Para o espetáculo deste sábado, foi impresso e distribuído junto à comunidade um programa que segue as normas daqueles feitos para os concertos e recitais dos grandes centros urbanos, no qual constam um resumo do enredo a ser apresentado e os nomes das bailarinas. Tendo esse folheto como guia, o público poderá acompanhar a adaptação de um dos títulos mais famosos do repertório dos grandes palcos de balé do mundo: Coppélia (1870), com música de Léo Delibes. No palco, se realizará a apresentação de 60 alunas entre 3 e 59 anos, provando que não existe idade para a prática do balé, bem como para a realização de sonhos. E a tradicional apoteose poderá ser interpretada tanto como a cena final, um clímax com a presença de todas as bailarinas celebrando a dança e a arte como um todo, como também o momento particular vivido por cada uma delas – bem como pela professora –, que, depois de mais dois anos de intensos ensaios, esforços e dedicação, terão na dança clássica uma oportunidade de oferecerem ao público presente uma mostra expressiva dessa arte que constitui para cada uma o melhor que elas têm a oferecer. Dito isso, bom espetáculo a todos!