Por:
Marcas que permanecem vivas na memria dos candelarienses
Candelria, 4 de janeiro de 2010. Um dia calmo e tranquilo para todos. Era uma segunda-feira, o primeiro dia til do ano, com algumas pessoas voltando rotina de trabalho aps as comemoraes de fim de ano e outras entrando em frias. O que ningum imaginava era que, para todos os cidados candelarienses, este dia entraria para histria como o da maior enchente do rio Pardo.
Na memria dos moradores das localidades de Costa do Rio, Linha do Rio, Passa Sete, Linha do Sul, Vila Ftima e Rebentona e tambm das pessoas que residem nas imediaes da Prainha e dos bairros Esmeralda e Rinco Comprido, na cidade, ficar para sempre a imagem da destruio. Bens que levaram uma vida para ser adquiridos e que a gua levou em minutos. Um ano depois, famlias atingidas pela enxurrada no conseguem esquecer as cenas daquele dia. As lembranas da tragdia que inundou a regio esto vivas, assim como os transtornos que ainda atrapalham o cotidiano de quem teve lavouras perdidas e casas invadidas pela gua.
Uma das localidades mais atingidas foi a Linha do Rio. Na poca, a enchente deixou um rastro de destruio com um grande volume de rvores e troncos espalhados pela localidade, assim como a deteriorao do asfalto da VRS 858. Na Linha do Rio tambm foi registrada a nica morte da grande enchente, que vitimou fatalmente o agricultor Hari Kappaun.
RECOMEO - Vtima das guas que asssolaram a Linha do Rio no fatdico 4 de janeiro, a famlia de Lauro Stein, 58 anos, precisou buscar na superao e perseverana novos meios para sobreviver. De acordo com o relato de Leoni Gewehr Stein, 50 anos, esposa de Lauro, no dia da enchente a fora das guas destruiu o assoalho da residncia e parte do galpo onde funcionava a marcenaria do marido, alm de molhar quase toda a safra de fumo que j estava pronta para ser vendida. "Conseguimos recuperar somente 86 arrobas de fumo para vender", lembra. Ao todo, a famlia teve um prejuzo de aproximadamente R$ 42 mil com a enchente.
Leoni recorda que os primeiros meses foram difceis. "Aps a enchente, passamos quatro dias sem luz, gua e telefone. Levamos dois meses para deixar tudo em ordem novamente", conta. A famlia recebeu vrias doaes da comunidade, como gua, utenslios domsticos e cestas bsicas, alm das doaes da Philip Morris. Em abril do ano passado, a empresa do ramo fumageiro confirmou a doao de R$ 300 mil para a compra de mveis e eletrodomsticos s famlias atingidas.
Com a perda da safra de fumo, o casal precisou buscar outras formas de renda. Leoni revela que comeou a cuidar da economia do ginsio do Olarias e a receber os lucros da copa. Lauro e o genro, Elci, trabalharam como servente de pedreiro na localidade. J a filha do casal, Lcia Stein, descobriu na internet que poderia produzir trufas de chocolate com bombom sob encomenda. "Aos poucos, estamos vendo uma luz no fim do tnel", avalia Leoni. Sobre a prxima safra de fumo, a famila explica que parte ser destinada ao pagamento de contas. O casal acredita que levar mais uns dois anos para se estabilizar. "Esta enchente nos ensinou valores que levaremos para sempre", finalizou Leoni.
Na Prainha, o lazer recuperado aps o caos
Giovane Larger recebeu a reportagem da Folha nesta semana no seu estabelecimento, o Bar e Restaurante da Prainha. Se essa situao fosse h um ano, mais precisamente no dia 4 de janeiro de 2010, o local estaria irreconhecvel. Em um ambiente totalmente recuperado aps a tragdia, tanto o restaurante quanto o entorno esto, como defendeu o ecnomo, em totais condies de receber a populao.
A famlia de Giovane foi uma das atingidas diretas da enchente. Alm da perda do estoque do restaurante, que somou aproximadamente R$ 7 mil em prejuzo, ele contabilizou cerca de R$ 3 mil em perda de bens pessoais e alguns equipamentos de cozinha. "A velocidade com que a gua chegou foi muito rpida, no tivemos tempo de tirar nada", recorda-se.
Lembrando do episdio, Larger conta que logo no dia seguinte ele e a famlia, acompanhados de mais de 20 pessoas, comearam a limpeza do estabelecimento, que durou cerca de seis dias. Segundo ele, eram tantas outras situaes emergenciais para a prefeitura atender que os moradores do local recolheram toda a lama da rea, j que as mquinas s puderam atender aquele ponto cerca de um ms depois. Com o passar do tempo e a resoluo de tantos outros estragos, Giovane conta que a prefeitura comeou a priorizar o local, j que pode disponibilizar pessoal e maquinrio. Todas as reformas necessrias, co-mo a recuperao das instalaes eltricas, foram feitas e hoje o balnerio est em timas condies, afirma o ecnomo.
Quanto ao movimento de pessoal, Giovane calcula uma diminuio de 40% em relao a outros anos. "O pessoal vinha antes e consumia bastante. Mas este ano, a falta de dinheiro das colheitas e, principalmente, o clima, que no est to quente, so as principais causas do pouco movimento", afirma. Segundo ele, como o ambiente foi totalmente recuperado, a abertura da atual temporada, dia 7 de novembro do ano passado, e os feriados de fim de ano, foram as datas que mais trouxeram visitantes ao local. "No ano novo teve bastante gente acampando", diz Giovane, que espera ainda mais clientela quando ocorrer o concurso Musa do Sol 2011.
MAIS - O ecnomo argumenta que, sozinho, no tem como investir em outras atraes na Prainha, j que difcil controlar o consumo de comidas e bebidas em um lugar aberto e muita gente j traz algo de casa. Entretanto, uma possvel parceria com a prefeitura, por exemplo, no s aumentaria o pblico, mas valorizaria um importante ponto turstico da cidade.
A mudana do rio
A grande enchente do dia 4 de janeiro de 2010 no transformou apenas a vida dos moradores das reas atingidas. O rio Pardo tambm sofreu uma transformao na sua imagem, que j estava arranhada devido ao contnuo assoreamento nas margens. Com a recuperao das reas de natureza e espao pblico da Prainha, Giovane Larger garante que a nica falha est na rea de banho. A Fundao Estadual de Proteo Ambiental (Fepam) j libera a comunidade a usufruir de um banho, mas, segundo Larger, o problema que o rio est assoreado e que a situao j era precria antes mesmo da enchente. "Depois ainda havia alguns poos e diferenas de nvel de gua, possibilitando algumas reas de banho melhores, mas com as cheias seguintes, o rio ficou totalmente emparelhado", argumenta.
A riqueza do rio, porm, ainda permanece viva na memria dos cidados candelarienses que acompanharam a sua trajetria. Ao circular pelo balnerio Carlos Larger, a reportagem da Folha conversou com uma famlia que, sentada diante do rio, lembrava com nostalgia dos seus tempos ureos.
De acordo com o aposentado Sigmar Krick, o Rio Pardo era fundo e abundante na rea da Prainha. "O rio tinha poos e algumas ilhas formadas. Era largo e bonito. Aqui se pescava e pegava bastante trara", lembra. Sigmar acredita que a enchente contribuiu para a transformao do rio, que j vinha acontecendo com o assoreamento das margens. "Infelizmente, hoje temos um riacho, com o nosso rio morrendo a cada dia", frisou.
J na opinio de Mara Krick Dittberner, filha do aposentado, preciso realizar um trabalho de proteo nas nascentes, vertentes e nas margens do Rio Pardo para mudar sua imagem. "Como vai ser para as geraes futuras ver o rio como ele est? Precisamos nos conscientizar que necessrio cuidar do nosso rio", finalizou.