Coral Municipal lan�a seu primeiro CD

Conta a antiga lenda grega que no mesmo dia em que desposou a bela Eur�dice, Orfeu, famoso por sua arte do canto, viu sua esposa morrer de maneira precoce. Transtornado com a perda, ele resolveu descer � mans�o dos mortos e pedir aos esp�ritos infernais que devolvessem a esposa, tendo como �nico recurso a sua m�sica. Comovidos tanto pelo seu canto quanto pelo seu gesto, os esp�ritos lhe restitu�ram Eur�dice. Essa antiga hist�ria, que ilustra muito bem a natureza da m�sica, descreve com perfei��o o rigor formal e o alcance emocional de uma das mais populares formas de arte. Desde 2006, a cidade de Candel�ria habituou-se a conviver com dois herdeiros dessa tradi��o milenar: Ana Schmitt e Claudio Cirolini, regentes do Coral Municipal de Candel�ria. Conhecidos por sua dedica��o integral e incans�vel � causa da m�sica, Ana e Cl�udio chegam a um momento especial em termos profissionais: o lan�amento oficial do primeiro CD do Coral Municipal, na pr�xima sexta, 9, �s 20h30, na Igreja Evang�lica Luterana Cristo. Fruto de v�rios anos de dedica��o, de ensaios e de muita inspira��o, os regentes definem a grava��o deste primeiro registro como "um trabalho de encontro e reencontro, de passo e compasso, de equil�brio e harmonia, de ritmo e melodia". E n�o poderia ser de outra forma. O disco � uma bela s�ntese desses �ltimos anos dos regentes � frente do Coral Municipal. Para Ana e Claudio, esse CD pode ser resumido como "uma prova concreta, fruto de um trabalho que pode ser comparado a uma �rvore que n�o d� fruto na hora, porque precisa primeiro crescer". Trata-se de uma colet�nea de um colorido variado, que re�ne pe�as essenciais dos mais diversos repert�rios, da qual constam tanto pe�as folcl�ricas da tradi��o ga�cha como latina e da MPB, n�o faltando o erudito. Como m�sica de abertura, o Hino a Candel�ria, de Prot�sio M. Knewitz, com o acompanhamento ao teclado de Vera Hintz Beurmann. Segue-se uma bem-sucedida reuni�o de pe�as consagradas, como El condor, Guantanamera, ao lado de t�tulos conhecidos da MPB, tais como Sapato Velho, Maluco Beleza, Vira virou, Tocando em frente e Barra da Lagoa. Tornando o trabalho ainda mais atraente, h� a participa��o mais que especial de instrumentos variados, como a flauta transversa de Ana Schmitt, a gaita de Giovana Rocha Pasa, o viol�o de Vitor Pasa (que, al�m de Fernanda Kaercher e Lorena Gazalle, fazem tamb�m os solos vocais) e a percuss�o de Nelson Farias. Os regentes Ana Schmitt, natural de Ivoti, e Claudio Cirolini, de S�o Jo�o do Pol�sine, descrevem a sua dedica��o � m�sica atrav�s de palavras em que se evidenciam a poesia e a paix�o pelo seu trabalho, entrega que pode ser percebida em cada pe�a que regem: "Um cora��o impregnado de m�sica sorri com mais facilidade, entusiasma-se com mais frequ�ncia, doa-se aos outros com maior generosidade. A m�sica realiza milagres que o rem�dio nem sempre consegue atingir. � uma ponte que aproxima, que solidariza, que aconchega, que redime e que salva". A respeito desse dom a cada dia mais raro e, portanto, mais precioso, da m�sica, Ana e Claudio recorrem �s palavras do compositor austr�aco Wolfgang Amadeus Mozart: "N�o consigo escrever poesia: n�o sou poeta. N�o consigo dispor das palavras com tal arte que elas reflitam as sombras e a luz: n�o sou pintor. Mas consigo fazer tudo isso com a m�sica...". Percebidas ao longo de cada faixa do CD, essas palavras resgatam o papel a ser cumprido pela m�sica em um mundo em que os valores espirituais s�o substitu�dos pela superficialidade, o apego � trivialidade e ao brilho fugidio do ilus�rio. � nesse contexto que se insere o papel da m�sica em nossa realidade. Uma das raz�es da exist�ncia das grandes utopias � que a humanidade encontre nelas um ideal que, se n�o � poss�vel transformar integralmente em verdade, ao menos permane�a como uma ideia de perfei��o a ser buscada. Foi esse o lema que o grande Beethoven, na sua Ode � Alegria, quis deixar como legado aos homens de todas as �pocas: a vis�o de uma humanidade em que todos fossem irm�os. Atrav�s do canto coral, a utopia se desfaz para avizinhar-se da concretude. Ao menos � isso que o primeiro CD do Coral Municipal de Candel�ria deixa entrever: um mundo em que as diferen�as j� se tornam mais raras e os povos esquecem que um dia houve guerras e disputas pol�ticas. Desde sempre, a m�sica se notabilizou por ser o territ�rio dos arqu�tipos da paz universal, um fen�meno em que a humanidade, apaziguada, se d� as m�os e caminha rumo a um futuro imposs�vel de ser descrito por meio das palavras. A partir disso, rompem-se as distin��es entre cantores e ouvintes para que todos se tornem um s� povo. � essa realidade que deixamos que a m�sica defina, em sua linguagem incompar�vel. E agora, com a palavra, o Coral Municipal de Candel�ria.