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25/08/2009 16:56
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Candel?ria: ainda h? muito a ser feito

E mais uma vez, olhando no calendário, vemos que chega o dia 7 de julho. Passaram-se 82 anos desde que aquele pequeno e promissor núcleo urbano emancipou-se, no sentido político e administrativo da palavra. Mas quanto trabalho houve antes que esse dia chegasse! Tanto que 7 de julho de 1925 é apenas um dos pontos culminantes de uma trajetória iniciada muito antes, como já havíamos ressaltado em anos anteriores. É o ponto de chegada de uma história vivida em nosso solo desde os primeiros habitantes, tendo memoráveis capítulos nos séculos 17 e 19. Isso sem falar na Pré-História. Mas é impossível contar a história de um povo sem entrar nos domínios da colonização alemã e dos primeiros habitantes de origem lusitana e afro-brasileira. Tudo começou muito longe daqui, além do oceano Atlântico.
Mas, para facilitar a tarefa, procuremos imaginar o atual território candelariense antes de qualquer vestígio dos primeiros imigrantes aqui chegados. E imaginemos, se possível, os diversos estágios desse solo, as diversas etapas desse trabalho. Resumindo: mata virgem; terra arada; chão semeado; sementes germinando; lavoura à espera da colheita. Parece pouco? Homens, mulheres e crianças trabalhando desde o primeiro até o último raio de luz. Noites escuras. Frio intenso. Calor inimaginável para quem veio de regiões frias. E a eterna saudade da velha Alemanha. Para quem sente essa indescritível e quase intraduzível Heimweh, há o consolo de poder usar aqui o idioma pátrio e cantar as antigas e tradicionais melodias. (Isso antes que as guerras trouxessem com elas a proibição do idioma alemão). E de tempos em tempos surgem notícias d’além mar.
E como tudo que se renova, há uma vantagem: o trabalho de um ano torna menos árduo o do ano seguinte. Pois os principais caminhos já haviam sido abertos. As gerações mais novas, ao menos, já sabem o caminho a seguir. Isso não quer dizer que o trabalho ofereça menores desafios. Pois até para as gerações de hoje surgem sempre novas dificuldades. E isso os torna também, sem dúvida alguma, verdadeiros desbravadores. E nessa história vivida com tanto ardor cada detalhe conta. Nem um dia é desperdiçado, nem um ensinamento deixa de ter um significado imenso. E nem um nome se perde no tempo. Desde o berço até a última morada, cada dia desses pioneiros foi vivido com grande intensidade. E através desta história descobrimos também que, no esforço de ganhar o dia, acabou-se também por ganhar a vida e, na tentativa de viver em sociedade, formou-se por fim um povo, pode-se dizer mesmo uma civilização, única em sua identidade. Detalhes mais precisos, como datas, locais de nascimento, são encontrados ainda hoje, em antigos documentos ou em lápides espalhadas por todas as partes do município, encimadas por pequenas cruzes ou anjos. Às vezes nem isso. O estado em que se encontram não escondem o tempo que, simbolicamente ou não, nos separa deles. As casas que serviram de moradia aos pioneiros, infelizmente, estão desaparecendo indiscriminadamente. Contam-se nos dedos esses museus a céu aberto ainda existentes. Nós os vemos desaparecer um a um sem nada poder fazer, mesmo que alguns valorosos anônimos façam tudo a seu alcance para impedir essa progressiva perda de memória. Surgem então alguns antigos utensílios, e os mais jovens nos perguntam: para que serviam? Será que leva a alguma coisa tentar disfarçar que nós mesmos nem sempre sabemos essas respostas? A cada dia que passa, torna-se mais difícil iniciar ou dar continuidade a resgates dos tempos passados. E nosso prejuízo é de valor incalculável.
Há ainda algo que possa ser feito? Sim, com certeza, há ainda muito que pode ser feito por esse município que a cada dia revela tantas novas e belas surpresas escondidas em toda parte. Um bom começo é interessar-se por sua história. Até porque ocupar-se do passado de Candelária é interessar-se por si mesmo. E, de resto, unir-se a esses poucos que buscam resgatar tudo o que ainda é possível de preservar de nossa história. Ela é o que temos de mais precioso. E esta é a semana ideal para começar este trabalho. Feliz aniversário, amigos candelarienses!