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25/08/2009 16:56
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Origem do cemit?rio Schuch: lenda ou verdade ...

Por Marli Marlene Hintz - pesquisadora e escritora

Perdido no alto de uma leve coxilha do potreiro, lá está ele, o cemitério Schuch, a mais ou menos um quilômetro da entrada para a Linha Bernardino. Suas poucas sepulturas parecem esquecidas no tempo, enquanto, ao fundo, se ouve o barulho tranqüilo de um pequeno córrego, cujas águas deslizam suaves, por entre a sombra de uma minúscula mata ciliar.
Quem chega ao local, passando pelas velhas e grandes plataneiras, talvez nem imagine o sofrimento vivenciado pelos membros daquela família pioneira e da qual alguns ali estão em seu repouso eterno.
Antes de 1870, o imigrante Christian Ellwanger estabeleceu-se naquele lugar, em uma área de terras que adquirira ao chegar no então Distrito de Costa da Serra. Certo dia, mais especificamente em 17 de outubro de 1873, ele decidira moer canas-de-açúcar para assim, com a calda, cozinhar um tacho de gostoso melado. Sua esposa Elisabeth achava-se em seus últimos dias de gravidez.
Era uma época de muito trabalho árduo, praticamente braçal, em que as crianças, por falta de educandários, aprendiam na escola da vida, observando e auxiliando seus pais. E foi assim que sua filha Christina, de apenas oito anos de idade, encontrava-se sob o teto do mesmo galpão, junto a seu pai, talvez o ajudando em alguma tarefa. O fato é que, enquanto Christian estava ocupado em enfiar os caules das canas por entre as rodas da prensa, em determinado momento, os burros que moviam a moenda pararam de súbito. Pensando que o motivo fosse o cansaço dos animais, deu-lhes um tremendo açoite. Os jumentos deram um brusco salto à frente, acionando de novo as rodas. Ao mesmo tempo em que teria ouvido o estalar de algo anormal, a cabeça da pequena Christina caía frente a seus pés.
Arrasado pela tristeza, Christian Ellwanger teria decidido que sua filha não seria sepultada no cemitério da localidade, mas sim em sua propriedade, nos fundos e bem próximo à residência, pois todos as manhãs, ao abrir a porta da casa, queria ver o seu túmulo e poder lhe dizer: “Bom dia!, minha pequena Christina”.

Descrição das fotos:
O cemitério Schuch, na Linha Bernardino, iniciado com o sepultamento de Christina Ellwanger, em 1873. Túmulos (da esquerda para direita) de Christina Ellwanger, Friedrich Ellwanger, irmão de Christina, Christian Ellwanger, o pai, Elisabeth Weide Ellwanger, a mãe e Karolina Ellwanger Schuch, irmã de Christina.

Foto da residência de Christian Ellwanger na Linha Bernadino. A casa, hoje não mais existente, deve ter sido construída por seus filhos Peter, Wilhelm e Georg Christian, pois eram construtores. Tirada em 6 de junho de 1889, retrata o matrimônio de Peter e Georg Christian, filhos de Christian Ellwanger, cujo casamento ocorreu no mesmo dia, respectiva-mente com as irmãs Elisabeth e Philippine, ambas filhas de Friedrich Ellwanger e Elisabeth Bender, residentes na Linha Boa Vista do Botucarahy.

Biografias
Christian Ellwanger – *29-08-1829 / +03-04-1895
Nasceu em Beutelsbach, Reino de Württemberg, Império da Prússia, hoje localizado no Estado de Baden-Württemberg, Alemanha. Filho de Johann Friedrich Ellwanger e de Margarethe Becker. Casou-se com Elisabeth Weide. Quando veio ao Brasil com seus pais, em 1826, ou seja, com apenas três anos de idade, a família estabeleceu-se, ao que tudo indica, em Baumschneiz ou São Miguel dos Dous Irmãos, hoje município de Dois Irmãos, mas, na época, pertencente a São Leopoldo. Posteriormente, morou em Sommer Picade ou Picada Verão, também São Leopoldo. Deve ter chegado ao nosso município, por volta de 1870. Residiu na Linha Bernardino da Roza Loureiro, mas que, naquele tempo, pertencia à Linha Germânia, atual Linha Brasil. Era colono. Faleceu de tuberculose.
Elisabeth Weide Ellwanger – *22-06-1833 / +04-06-1919)
Nasceu em Baumschneiz. Filha de Wilhelm Weide e de Sophia Spindler. Casou-se com Chris-tian Ellwanger. Faleceu de senilidade.
Christina Ellwanger – *21-12-1865 / +17-10-1873)
Nasceu em São Miguel dos Dous Irmãos. Filha de Christian e de Elisabeth Ellwanger. Faleceu tragicamente. Foi a primeira a ser sepultada no cemitério Schuch.
Friedrich Ellwanger – *23-10-1873 / +15-03-1894
Nasceu em Linha Bernardino da Roza Loureiro, ou seja, cinco dia após o acidente que vitimou sua irmã Christina. Nunca se casou. Residiu com seus pais Christian e Elisabeth Ellwanger.
Karolina Ellwanger Schuch – *23-10-1876 / +13-06-1954
Nasceu em Linha Germânia, mas hoje pertencente à Linha Bernardino. Casou-se com Wilhelm Schuch (*27-10-1874 +02-02-1939, filho de Adam Schuch e de Elisabeth Strassburger). Ela e seu esposo residiram com os pais. Faleceu de asma.
Filhos do casal Christian e Elisabeth
* Johannes Ellwanger (* 22-05-1856). Esposa: Wilhelmine Fuchs.
* Sophia Ellwanger Mohr (*08-08-1858). Esposo: August Mohr, seleiro.
* Peter Ellwanger (*17-12-1861). Construtor. Esposa: Elisabeth Ellwanger. Era adotado. Filho natural de Jacob Ellwanger.
* Wilhelm Ellwanger (*18-06-1863). Construtor. Esposa: Ana Maria Ellwanger.
* Christina Ellwanger (*21-12-1865).
(* Todos nascidos em São Miguel dos Dous Irmãos, São Leopoldo)
Georg Christian Ellwanger (*28-03-1868). construtor Esposa: Philippine Ellwanger. Este nasceu em Picada Verão, São Leopoldo.
** Luise Ellwanger Schneider (*11-05-1871). Esposo: Friedrich Schneider, construtor.
** Friedrich Ellwanger (*23-10-1873). Solteiro.
** Karolina Ellwanger Schuch (*23-10-1876). Esposo: Wilhelm Schuch.
** Theobald Ellwanger (*14-08-1893). Faleceu com menos de um ano de idade.
(** Todos nascidos na Linha Bernardino da Roza Loureiro)