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25/08/2009 16:56
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Brummers tamb?m em Candel?ria

Por Marli Marlene Hintz, pesquisadora e escritora

Brummer, uma palavra exótica com a qual eles próprios se autodefiniram. Tal qual o som pesado, emitido pelas grandes moedas de cobre, era o som que eles diziam grunir, durante as lutas violentas, nas batalhas que enfrentavam. O termo foi aceito também pelos demais soldados brasileiros, italianos e de outras etnias que compunham os seus batalhões, traduzindo-a para rezingões, porque reclamavam de tudo, desde as estratégias militares até a comida, o clima, o soldo.
Muitos deles provinham do extinto exército Schleswig Holstein, outros da Revolução de 1848, outros ainda jovens aventureiros que, desempregados na Alemanha, encontravam nas constantes guerras da Província, uma proposta de trabalho e de sobrevivência.
Em 1850, Sebastião dos Regos Barros, ex-ministro das guerras (1837), foi enviado à Alemanha pelo Império brasileiro, a fim de formar novo exército de soldados e oficiais alemães, pois descortinava-se, para breve, mais uma nova guerra. Era a Guerra do Prata, iniciada em 1851 pelo ditador argentino Juan Manoel Rozas, aliado ao Gen. Manuel Oribe, que queria anexar o Uruguai e o Rio Grande do Sul ao seu território, a fim de formar a grande República do Prata. Surgia assim a Legião Alemã, integrada por 1770 homens, vinda diretamente da Europa, composta de um batalhão de infantaria, quatro baterias de artilheiros e duas companhias de pioneiros. Junto a esses soldados, veio enorme quantidade de munição, além de tecidos para os fardamentos.
Quando chegaram ao Brasil, foram recepcionados, na Praia Vermelha, por D. Pedro II, que falava o alemão com fluência. Trajando o uniforme do exército prussiano, traziam capacetes blindados em suas cabeças e uma cruz de ferro no peito. Dali seguiram para Pelotas, de onde partiram para Jaguarão e, a pé, até Colônia do Sacramento. Não acostumados ao forte calor produzido em seus capacetes, muitos teriam adoecido e morrido naquele trajeto.
Terminada a batalha em Monte Caceros, em 03 de fevereiro de 1852, que também findou com a guerra, os brummers retornaram novamente a Pelotas e dali, levados de barco a Porto Alegre, onde chegaram em 06 de julho daquele ano. Fazia um inverno rigoroso, e a maioria encontrava-se de pés descalços, trajando farrapos, motivo pelo qual teriam sido rejeitados pelos demais alemães da Capital. Frente a este fato, uma minoria aceitou aguardar em outras guarnições do Estado, até o final do período a que foram contratados pelo Império (1854). Os demais teriam sido despachados a Rio Pardo e dali distribuídos nas novas colônias. Como pagamento, os soldados receberam 22500 e os oficiais 62500 braças quadradas de terras, podendo escolhê-las livremente em Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul. Teriam permanecido cerca de 1500 no Estado.
Por terem sido homens cultos, alguns formados em universidades tradicionais, amantes da boa música e da leitura de qualidade, eles tornaram-se logo o fermento cultural das colônias, pois mandavam vir carregamentos de livros, instrumentos musicais e armas para os clubes de tiro, atuando como líderes em suas comunidades. Por desconhecer as lidas agrícolas, tornaram-se, na maioria, professores, alguns escritores, outros agrimensores, etc. Não raro foram os que, em conseqüência dos ferimentos de guerra, teriam falecido poucos anos após o retorno.
Dentre os que, até o momento, ainda nos foi possível identificar em nosso município, estão:
Christian Heimerdinger (*24-12-1816 +19-07-1905) – nasceu em Ludwigsburg, Würtemberg. Residiu na Linha Alta. Filho de Friedrich Heimerdinger e de Catharina Letzkurs. Casou-se com Maria Otter.
Karl Koppenhagen (*19-12-1822 +25-07-1908) – nasceu em Grossborgen, Ermeland, Prússia. Residiu na Linha Alta. Filho de pais desconhecidos, casou-se com Henriette Tech.
August Minks (*06-07-1829 +21-12-1901) – nasceu em Schoenwerder, Prenzlau. Residiu na Linha do Rio. Filho de Christoph Minks e de mãe desconhecida. Casou-se com Maria Bappen.
Eduard Zilch (*29-06-1825 +27-10-1911) – nasceu em Köpenik, Berlim. Residiu na Linha do Rio. Filho de pais desconhecidos, casou-se com Caroline Rohde.
Ernest Bechlin – O único dado obtido até o momento é de que residiu na Linha Alta. Não há registro de óbito no Cartório de Registros nem nos livros de igreja. Este fato denota que faleceu ou migrou posteriormente a outro município.