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Geral 11/06/2020 09:53
Por: Odete Jochims

Entrevista: Joel Ellwanger e a importância do trabalho do pesquisador

O candelariense integra equipe de pesquisadores convocada pela UFRGS para ajudar no diagnóstico da Covid-19

Joel Henrique Ellwanger, natural de Candelária, é filho de Denise e Gustavo Ellwanger, tem 31 anos e é pesquisador. Já nos tempos de sua primeira graduação, em Nutrição, pela Unisc, se sentiu fortemente interessado em biologia celular e molecular, e percebeu sua vocação para dedicar sua vida à pesquisa nessa área. Após o bacharelado em Ciências Biológicas, também pela Unisc, cursou mestrado em Biologia Celular e Molecular na Ufrgs, em Porto Alegre. Continuou se aprofundando nessa área, doutorando-se em Genética e Biologia Molecular, também pela Ufrgs. Atualmente, Joel cursa pós-doutorado no Departamento de Genética da universidade gaúcha. Trabalha como pesquisador em nível de pós-doutorado no Laboratório de Imunobiologia e Imunogenética do Departamento de Genética da UFRGS, local de maior tradição neste trabalho no país. Como pesquisador, está em contato direto com o tema que vem mobilizando o Brasil – a pandemia do novo coronavírus. Neste período, Joel integra uma equipe de pesquisadores convocada pela UFRGS para ajudar na análise e diagnóstico da Covid-19 das amostras enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen). Para um jovem pesquisador, Joel reconhece tratar-se de uma responsabilidade imensa. Mas ele não se assusta - desde que as normas de segurança sejam respeitadas de forma rígida. Na entrevista a seguir, Joel fala um pouco de sua formação e de seu trabalho frente ao desafio.

O que o levou a escolher esta profissão?

Durante minha primeira graduação, em Nutrição, me envolvi com diversas atividades de pesquisa na área de biologia celular e molecular. Essa experiência me mostrou que queria dedicar minha carreira inteiramente à pesquisa nesta área, com foco especialmente em estudos no campo da Biologia, onde pudesse integrar questões envolvendo humanos, outros animais, meio ambiente e patógenos. Então ingressei no curso de Ciências Biológicas, me formei novamente, e fui para a UFRGS para me especializar. Na UFRGS, concluí meu mestrado em Biologia Celular e Molecular e meu doutorado em Genética e Biologia Molecular. Durante o doutorado, pesquisei principalmente a influência da genética humana sobre infecções virais, com foco em patógenos como o HIV e o vírus da hepatite C (HCV). Também estudei a influência de fatores ambientais no surgimento de novas doenças infecciosas e disseminação de epidemias. Me sinto realizado estudando como os diferentes vírus se disseminam nas populações a afetam a saúde humana.

Onde está trabalhando e desde quando?

Sou pesquisador em nível de pós-doutorado no Laboratório de Imunobiologia e Imunogenética do Departamento de Genética da UFRGS, que é o local com maior tradição nesta área no país. Iniciei este trabalho logo após defender meu doutorado, no início de 2019.

Como é sua experiência de trabalhar no setor de pesquisas que pode mudar o mundo?

As doenças infecciosas são ameaças constantes para a saúde das pessoas e a estabilidade dos países. O HIV e a atual pandemia de COVID-19 exemplificam isso muito bem. Trabalhar com estes temas é muito estimulante do ponto de vista científico. Além disso, é também muito gratificante porque são os avanços científicos que subsidiarão os novos tratamentos, vacinas e as medidas que permitirão controlar, ou até mesmo evitar, novas epidemias e pandemias.

Já parou para pensar nesta responsabilidade e o quanto é importante?

Trabalhar com ciência de ponta é sempre uma grande responsabilidade. Tudo precisa ser realizado de forma metódica e sem erros. Os resultados obtidos em laboratório são conferidos diversas vezes por colegas pesquisadores antes de serem publicados e considerados como válidos. Por isso a ciência é uma forma tão robusta de solucionar problemas e entender como as coisas funcionam. Para que isso seja feito de forma correta, os cientistas são submetidos a um longo treinamento. Por exemplo, para ser considerado um pesquisador em nível internacional, além da graduação (que já leva em média quatro anos), no Brasil o profissional precisa passar por um mestrado que dura em média dois anos e um doutorado, que leva em média quatro anos (ou mais). Só então a carreira de fato inicia. O trabalho dos cientistas envolve grandes responsabilidades e é fundamental para a prosperidade de qualquer sociedade. Tenho consciência do quanto a atuação do cientista é importante. Infelizmente, atualmente no Brasil as verbas para as pesquisas científicas e formação de novos pesquisadores são cada vez menores. Porém, mesmo com as dificuldades, não trocaria minha profissão por outra.

Você saiu de Candelária para exercer esta profissão. Fale sobre este trabalho e este batismo de fogo nesta pesquisa do coronavírus.

Durante o meu doutorado, lidei com patógenos bastante perigosos, entre eles o HIV. Trabalhei em ambientes com diferentes riscos biológicos, tendo adquirido experiência no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e em diferentes laboratórios no Brasil e na França. Dessa forma, trabalhar com o novo coronavírus não é algo que me assusta, desde que as normas de biossegurança sejam seguidas de forma rígida.