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Colunista 15/10/2018 10:12
Por: Ângelo Savi

Mandrake para presidente (ou o Capitão Marvel)

Quando eu era guri tinha uma história em quadrinhos chamada Capitão Marvel, onde o herói dizia a palavra mágica Shazam e no próximo quadrinho dava um estouro, BUUUUUUUM, e ele se transformava no Capitão. Aí, como em toda história de super-herói ele se punha a fazer peripécias, a lutar pelos fracos e oprimidos, a combater o mal, essas coisas. A gurizada ficava o tempo todo dizendo Shazam, Shazam, Shazam, para ver se a mágica funcionava. Tinha também o Mandrake que era um mágico que hipnotizava todo o mundo. Ele morava num palácio chamado Xanadu, vestia cartola, smoking e luvas, era namorado da Princesa Narda e tinha uma espécie de assessor, o Príncipe Lothar que surrava os bandidos que o Mandrake hipnotizava.

me lembrei destas histórias porque vamos escolher no fim do mês o presidente da República. Nós brasileiros, esperamos que o presidente seja um Capitão Marvel, que diga Shazam, se torne num super-herói e resolva tudo num passe de mágica. E também que seja como o Mandrake, elegante, polido, sedutoramente hipnotizante e, claro, um defensor vitorioso do bem e da virtude. A má notícia é que não existe ninguém assim. E a notícia pior ainda é a de que o Brasil ESTÁ FALIDO, só se ajeita daqui a muito, muito, muito tempo. E principalmente porque os presidenciáveis estão mais para os bandidos com quem Mandrake e o Capitão Marvel lutavam do que qualquer outra coisa. Basta ver o debate na Globo que aconteceu na semana anterior à eleição do primeiro turno. me dispus a assisti-lo, contrariado porque debates políticos não estão entre meus programas favoritos. Não figuram nem em último lugar, mas que remédio, quer queira, quer não, o presidente inevitavelmente irá influir na minha própria vida e o mínimo que posso fazer é tentar escolher o melhor entre os que se apresentam.

A decepção se confirmou. Não me lembro de muita coisa do debate porque dormi uns cinco minutos depois de começado. Vagamente, me parece que a Marina estava vestida com uma cortina ou toalha de mesa e os outros não deveriam estar melhores porque a palavra elegância não me ocorre quando tento recordar do debate.

E que gente feia. Candidatos à presidência deveriam pelo menos tentar ser mais apresentáveis, deixar de se atacarem reciprocamente, dizer tantas banalidades e ir direto ao ponto, revelando clara e objetivamente o que pretendem fazer. Mas não, o que temos é uma gente enfadonha e feia que também me faz lembrar um poema do Mário Quintana chamado Cocktail Party que começa assim:

Não tenho vergonha de dizer que estou triste

Não desta tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas.

Estou triste porque vocês são burros e feios

E não morrem nunca.

Não, não desejo a morte de ninguém, como aquele psicopata que esfaqueou o Bolsonaro, muito menos a dos candidatos, eu só lembrei do poema por causa da parte que fala em “burros e feios”. O que eu desejo mesmo é que eleições deixem de ter importância. Que não dependamos mais de políticos para nos dar as coisas, que obviamente antes nos tiraram por meio de impostos, regulamentos, obrigações, leis estapafúrdias e sabe-se lá o que mais. Que tenhamos que escolher políticos para retirar encargos das nossas costas que antes foram colocados pelos mesmos políticos. É, eu acho que só o Capitão Marvel para resolver os problemas do Brasil. Ou o Mandrake.