Por: Odete Jochims
O Museu Rural de Candelária e os desafios próprios do passar do tempo
Numa propriedade pertencente à família Hennig há oito gerações, localiza-se museu histórico sobre a colonização
Quando algum utensílio se torna ultrapassado, é possível interrogar se algo nele justifica a sua permanência entre equipamentos mais modernos e de acordo com a época que vivemos. É possível que uma das características mais essenciais da indústria dos tempos atuais, ao mesmo tempo em que busca desenvolver aparelhos mais modernos, é a produção em massa do que em breve se tornará também ultrapassado, gerando assim um acúmulo de objetos que, se hoje são modernos, possuem desde o momento em que são lançados no mercado um prazo de validade sempre menor. Porém, a partir do momento em que já não se sabe exatamente qual foi a utilidade de um determinado objeto, já se vislumbram nele outros atributos, e ele passa a carregar em si a história de gerações há muito passadas, tornando-se peça de museu. Foi mais ou menos dessa maneira com inúmeros entre os utensílios pertencentes ao acervo do Museu Rural de Candelária, na propriedade de Marlise e Cláudio Mario Hennig, no Alto Passa Sete.
O próprio lugar onde se localiza o museu possui grande interesse histórico, pois constitui parte do passado da família, o que equivale a nada menos que oito gerações – “oito gerações de muita teimosia”, segundo define Cláudio. Ao longo de todo esse tempo, muitos objetos pertencentes à família Hennig, em vez de serem descartados, como hoje geralmente acontece, foram se acumulando. Foi através de um curso de Turismo, frequentado por Cláudio e Marlise, há 12 anos atrás, que surgiu a ideia da criação do museu, que hoje é uma realidade. Formado pelos mais diversos objetos, entre livros (sobre história e almanaques em alemão, entre outros temas), utensílios domésticos e ferramentas usadas na lavoura (entre eles um grande número de curiosidades, como a arma de um conhecido justiceiro de muito tempo atrás), o acervo do museu se constitui, em sua maior parte, de objetos usados pelas diferentes gerações da família, com no máximo 10% sendo fruto de doações.
Segundo o casal, o museu já foi muito visitado. No momento, a pandemia interrompeu a frequência das visitas. Porém, o atual desinteresse pelo passado e a preocupação com a continuidade da preservação do museu é mencionado por eles tantas vezes ao longo da entrevista que é de se interrogar o quanto desse descaso em relação à história é de fato causado pela pandemia. Entre as causas desse receio estão as sérias dúvidas sobre o interesse ou não de as novas gerações em dar continuidade a algo que, desde o início, em vez de apenas um modo de vida, é também uma filosofia de vida. E o receio de Cláudio e Marlise diz respeito ao risco da atividade não chegar às futuras gerações da família com o mesmo sentido histórico que hoje é sua principal característica.