Por: Mariana Bataioli
Chuvas aliviam estiagem no município
AGRICULTURA | Volume variou entre 85 mm e 165 mm no município; soja se recupera e arroz segue estável, enquanto milho apresenta quebra de até 60%
Após mais de três semanas de estiagem,
a chuva retornou a Candelária trazendo alívio às lavouras e modificando o
cenário da safra de verão. Os volumes registrados ao longo da semana variaram
de 85 a 165 milímetros, conforme balanço realizado pelo Escritório de
Planejamento Agrícola e Consultoria de Candelária (Agrican). Segundo o engenheiro agrônomo, Adalton Siqueira, o comportamento foi
diferente em cada região. “Quanto mais ao sul do município, maior o volume. No
norte, choveu menos. Mas choveu muito bem em todo o município, e estávamos
precisando muito dessa chuva”, destacou.
Ele explica que a chuva superou as
previsões meteorológicas, que indicavam entre 50 mm e 100 mm, mas que o volume
está dentro do comportamento esperado para o verão. “Às vezes, as frentes
entram e acabam trazendo um acumulado acima do previsto. Ficamos 21 a 23 dias
sem uma gota e, de repente, cai 150 mm em 48 horas, o equivalente a três chuvas
de um mês inteiro. Mas ainda é melhor isso do que continuar na seca”, afirmou.
Impactos nas culturas
A análise dos efeitos por cultura
mostra diferenças significativas. No arroz, não houve danos. “O arroz é
irrigado, então essa chuva não afetou em nada. Segue tudo normal”, disse. A
soja, por sua vez, foi beneficiada, especialmente porque cerca de 25% da área
ainda precisava ser plantada. Com o solo úmido, os produtores poderão concluir
a semeadura. “Algumas áreas podem ter alguma dificuldade de emergência, mas o
índice de replantio será muito baixo. Não falamos em perda para a soja”,
ressaltou. Segundo ele, se o padrão climático se mantiver, a produtividade pode
alcançar a média histórica de 55 a 60 sacas por hectare. “Temos boas condições
de alcançar essa média, se as chuvas continuarem regulares”, projetou.
No tabaco, os efeitos foram limitados.
“Pode ocorrer uma queima de folha ou atraso na coleta, mas são perdas pequenas.
Nada muito significativo”, explicou. O milho do cedo, porém, é a cultura mais
afetada pela estiagem. Plantado entre o final de julho e meados de agosto, o
cereal sofreu com a falta de chuva em um estágio crucial de desenvolvimento.
“Temos lavouras com perdas de 25%, outras de 30% e algumas chegando a 60%. O
que iria colher 160 ou 180 sacas pode cair para 100 ou 120”, afirmou. Ele
calcula uma quebra média de 35% a 40%, considerando todas as áreas. “Mesmo com
essa chuva agora, o que já se perdeu, perdeu. Ela ajuda, mas não recupera o
dano anterior”, reforçou.
Desafios financeiros agravam cenário
no campo
Além dos efeitos climáticos, o
engenheiro agrônomo alerta para um agravante financeiro que tem preocupado o
setor. “Hoje muitos produtores têm dívidas antigas, das secas anteriores e de
enchentes. Isso reduz o investimento nas lavouras, porque o produtor já não
consegue aplicar o mesmo nível de insumos”, explicou.
Ele afirma que essa redução pode
impactar diretamente na produtividade, mesmo com condições climáticas
favoráveis. Também preocupa o preço atual da soja. “Hoje a saca está em torno
de R$ 125,00. Há dois anos era R$ 180,00. Para ser mais remunerador, deveria
estar acima de R$ 150,00”, destacou.
Quanto às próximas semanas, Adalton afirma
que o município ainda pode enfrentar períodos curtos sem chuva por causa da
influência do La Niña, especialmente até o fim de dezembro. No entanto, ele
acredita que a regularização deve ocorrer a partir de janeiro. “A expectativa é
de uma produção normal de soja, desde que as previsões se confirmem. Nada
indica grandes problemas”, disse.