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Geral 16/08/2019 15:40
Por: Luciano Mallmann

Críticas à saúde pública e ao hospital marcaram a sessão da Câmara

Vereadores defenderam a criação de uma comissão para que possa haver diálogo com os gestores da saúde

  • Aldomir Severo: uma ação mais preventiva do hospital
  • Vereadora Cristina Rohde defende a criação de uma comissão para haver diálogo entre as diferentes partes
  • Secretária Sandra Gewehr: debate é positivo
  • Aristides pede mais conhecimento da parte técnica

A situação do atendimento no Hospital Candelária foi o tema mais debatido na sessão da Câmara de Vereadores de segunda, 12. Inicialmente, a vereadora Cristina Rohde (PSDB) relembrando manifestação em sessão anterior da vereadora Jaira Diehl (PSB), segundo quem a saúde estaria na UTI, sugeriu a criação, na Câmara Municipal, de uma comissão na área da saúde. Justificou a proposta alegando que a Câmara precisa participar mais ativamente de algumas situações. Reconheceu a dificuldade gerada pela falta de profissionais, mas afirmou faltar mais doação das autoridades de saúde do município. Comentou ter vivenciado seis casos diferentes nos últimos dias, em que foi procurada por cidadãos com necessidade de internação.  Observou também que os profissionais que atendem na área de saúde precisam ter mais paciência com as pessoas que têm familiares doentes. Segundo registrou, faltam mais médicos e uma ambulância de UTI. Além disso, segundo Cristina, existiria a dependência de um sistema que muitas vezes não funciona. Essa comissão poderia dialogar com o prefeito, a secretária municipal, o conselho de Saúde e o administrador do hospital. 
A vereadora Jaira Diehl (PSB) afirmou ser necessário fiscalizar o agente público na área da saúde. Reiterou sua posição de que a saúde local está na UTI, mas que ainda dá para ressuscitá-la desde que seja feita uma melhor gestão.  Por sua vez, o vereador Cristiano Becker (MDB) lembrou que a Câmara possui quatro comissões permanentes e que o regimento prevê a possibilidade de abrir comissões provisórias. Concordou ser urgente a criação dessa comissão. Já o vereador Jorge Willian Feistler (PTB) também abordou o assunto, enfatizando que, infelizmente, a saúde do município é um caos. "E não é por falta de aviso", frisou. Mencionou que todas as semanas surge uma nova situação, observando, ainda, que faltaria boa vontade de alguns profissionais da área. Sobre o assunto, o vereador Celso Gehres (P) declarou que todos os vereadores são procurados para ajudar em questões relacionadas à saúde. Comentou que os próprios funcionários da área orientam as pessoas a procurar o auxílio de um vereador. 
Aldomir Severo (PSB), por fim, reclamou uma ação mais preventiva no hospital. Em alguns casos, são aceitos pacientes de outros municípios, mesmo o hospital não tendo condições, citando, por exemplo, a falta de uma UTI pediátrica. Comentou que haveria pessoas sem responsabilidade assumindo situações sobre as quais não têm controle. Em aparte, a vereadora Cristina relatou que um funcionário do hospital disse não estar autorizado a passar o telefone do administrador. "Como se fala então com o administrador?", questionou, acrescentando sua posição de que se ele não está tem que ter alguém responsável.  Aldomir retomou a palavra, observando que, se o administrador assumiu o compromisso de dirigir uma casa como o hospital, é necessário que esteja disponível 24 horas, destacando, inclusive, que é muito bem pago para isso. 

Cristina Rohde defende maior harmonia entre as partes
Um episódio envolvendo o menino Miguel, que, ainda no ventre da mãe, Karen R. Borstmann, foi diagnosticado como sofrendo de uma grave má formação cardíaca, foi, para a vereadora Cristina Rohde, a gota d'água para transbordar a insatisfação quanto à atual situação da saúde pública em Candelária. O seu arriscado nascimento prematuro em Candelária e a demora em conseguir uma ambulância com UTI neonatal para sua remoção ao Instituto do Coração de Porto Alegre, onde um leito já o aguardava, foi o que evidenciou, juntamente com outros seis casos atendidos pela vereadora, as grandes barreiras enfrentadas pelo setor, fazendo com que ela retomasse as palavras proferidas na sessão anterior pela vereadora Jaira Diehl, segundo quem "a saúde local está na UTI". Cristina menciona ainda a perda recente dos médicos José Luiz Gomes e Fabius Pasqualoto como agravantes da falta de profissionais da área, e a dificuldade, mesmo considerando que a localização geográfica de Candelária seja privilegiada, de encontrar outros profissionais do ramo.
"É preciso haver uma sintonia e uma harmonia muito grande entre nós e a gestão pública da área da saúde". É para essa direção que Cristina aponta quando fala da criação de uma comissão para trabalhar em conjunto com os profissionais da saúde, no sentido de encontrar soluções. E é nesse sentido que afirma que os vereadores, tendo sido eleitos pelo povo, estão aí "para tudo". Porém, como lembrou Celso Gehres, sobre o fato de os próprios funcionários da área da saúde orientarem pacientes a procurarem os vereadores para encontrar soluções, ela opina que isso não deve se tornar uma regra. 
Cristina lembrou da existência das comissões permanentes já existentes na Câmara de Vereadores, tendo já uma legislação específica, o que possibilitaria a criação de uma comissão voltada ao auxílio nas questões relacionadas à saúde. Segundo a vereadora, o primeiro compromisso dessa comissão, caso seja de fato criada, seria uma reunião conjunta com a administração do hospital, a secretária municipal da Saúde, o Conselho Municipal da Saúde, inclusive com a participação do prefeito municipal, "para debater, olhando olho no olho, para resolver essa questão, porque do jeito como está não pode ficar", conclui. 
 

Secretária Sandra Gewehr: convite aos vereadores
Por sua vez, a secretária municipal de Saúde, Sandra Gewehr, prefere comentar as críticas feitas à saúde pública em Candelária através de números e apresentando uma estatística eloquente: "Quanto à UTI, Candelária é hoje um dos municípios da região que mais regula consultas em especialidades médicas". E complementa: "Nas últimas semanas, através do Cisvales (Consórcio Intermunicipal de Saúde dos Vales), investimos mais de R$ 20 mil em exames de consultas e de emergência. O município só não agenda mais porque não há mais vagas. Porém, tudo o que é urgência e emergência é atendido", pondera. 
Sobre as críticas feitas à saúde pública na Câmara, a secretária argumenta que, por diversas vezes, já fez convites aos vereadores para irem à secretaria conhecer o funcionamento dos sistemas de regulação (como o Gerint), e declara que, atualmente, não existe outra maneira de indicação pelo gestor. A regulação é feita pelos médicos, através da classificação de risco, de acordo com o prontuário médico dos usuários (pacientes), regulação que classifica a necessidade de atendimento como eletiva, pouco urgente e urgente. No município, acrescenta, são duas médicas que fazem essa classificação. A respeito dos sistemas de classificação, exemplifica através do Gerint (Gerenciamento de Internações Hospitalares): "O Gerint trouxe organização no Estado para ter acesso a leitos de UTI". E, a respeito da criação de uma comissão municipal para reunir vereadores, Conselho Municipal de Saúde e prefeito, fala abertamente: "Quanto mais pessoas se reunirem para debater a saúde do município, melhor". Porém, a secretária alerta para o fato de que não existe outra maneira de encaminhar pacientes para internação a não ser através dos sistemas de regulação. 

Aristides Feistler: “críticas ofendem profissionais do hospital”
O administrador da Sociedade Beneficente Hospital Candelária, Aristides Feistler, concorda com a ideia da formação de uma comissão para aparar arestas, dialogar e evitar conflitos. Segundo Feistler, muito do que foi dito na sessão da Câmara reflete um grande desconhecimento mais aprofundando. Nesse sentido, concorda sobre a importância de os vereadores conhecerem mais de perto algumas questões técnicas que envolvem o funcionamento e a administração de um hospital.  Afirma ser comum, no mundo da política, ainda mais por haver uma eleição próxima, políticos buscando a todo custo obter notoriedade usando a desgraça alheia - o que considera uma falta de ética. A respeito da gestante em questão, lembra que a secretária Sandra conseguiu uma ambulância com UTI neonatal, e considera que o atendimento no hospital foi perfeito. Para Aristides, é importante ressaltar também o melhoramento desde que assumiu o hospital: "Ampliamos e qualificamos muito os serviços e o ambiente hospitalar, mesmo herdando muitas dívidas e a situação de calamidade, decretada pelo prefeito Paulo Butzge”. De acordo com Feistler, essas melhoras são amplamente reconhecidas pela comunidade, o que é atestado pelo fato de a casa de saúde ser referência regional em diversos setores. Afirmou, por fim, lamentar que pessoas tentarem denegrir ou diminuir a importância do trabalho de uma instituição que atende uma comunidade local e regional e que pertence a essas comunidades: "Essas críticas estão ofendendo o profissionalismo de muitas pessoas envolvidas no funcionamento do hospital. Nós mantemos um serviço organizado, que funciona muito bem, 24 horas por dia, sete dias por semana, que poucas cidades possuem.” E finaliza sua resposta afirmando que "muitas vezes, quando se fala, não se pensa nas consequências, ainda ofendendo aqueles que estão lá noite e dia, para atender da melhor forma possível. São pessoas inclusive de má-fé, buscando distorcer para se promover. Por isso, mais uma vez, é importante se reunir e conversar", conclui.