Por: Odete Jochims
Cartas, fotografias e a história oral como pontes para o passado
Quem adentra o escritório de Hilton Roberto Gewehr, 89 anos, abre um portal para o passado. Em uma coletâneo de arquivos, caixas e similares, estão presentes verdadeiras relíquias da imigração alemã no Brasil. Dentre as fotos, algumas ilustram a mesma casa da Linha Bernardino ao longo de gerações. Segundo a estimativa de seu Hilton, a residência rural foi construída entre 1870 e 1880.
Em meio a alfarrábios e rascunhos, destaca-se uma carta do século 19 escrita em alemão. “Meu bisavô se correspondia com a família que havia ficado na Alemanha. As cartas recebidas eram enviadas para São Leopoldo, mas uma ficou com nós. Acredito que em 1897 ele tenha escrito a última carta”, revela.
Uma vez, quando era criança, seu Hilton recorda que seu pai leu para ele e seus irmãos uma das correspondências redigidas pelo seu bisavô em resposta a indagações de sua família da Alemanha. “Lembro que falavam da necessidade de derrubar árvores, pois aqui era tudo mato. E eu e meus irmãos ficávamos surpresos: ‘Mas precisa escrever isso? Eles não sabiam?’”, lembra com ar nostálgico. “Também me recordo de constar na carta que se colhia muito bem nas terras daqui”, pontua.
Uma jornada ao encontro da ancestralidade
Mesmo os escritos mais recentes denotam a importância que a família atribuía à conservação dos laços ancestrais. Em 1978, seu pai organiza um texto cujo título é “Alguns dados sobre os nossos antepassados”. Segundo Gewehr, seu pai sempre enfatizou a importância da cultura e do conhecimento, mesmo que ele próprio não tivesse tido a oportunidades de ter uma educação formal.
Em meio à conversa, folheando um exemplar de “Os caminho da Família Gewehr”, de Lúcia Hilda Gewehr e Derti Jost, seu Hilton para e aponta: “Essa aqui é Sören, minha família veio daqui”. Na sequência, ele contou sobre a primeira vez em que ele e sua esposa, Nelda, foram à Europa, em 1992. De Trier, na Alemanha, alugou um carro e foram em direção a Sören. “Chegando lá eu perguntei se tinha algum Gewehr nas redondezas, me apontaram um local e fui em direção à casa onde encontrei o sobrenome escrito no vidro. Fomos recebidos e o que mais me chamou a atenção é que eles sabiam a história dos Gewehr que emigraram – melhor que os daqui tinham contado”, ressalta.
Este primeiro encontro foi o pontapé inicial para uma série de outros, inclusive com ramos distintos da família. Seu Hilton também conta que manteve contato com muitos deles. Mais do que simplesmente recordar suas raízes, ele as abraçou como uma parte essencial de sua identidade. Nesse caso, o seu passado tornou-se uma contínua celebração do presente. Cada encontro, cada memória compartilhada, reafirma não apenas a importância de suas origens, mas também a vitalidade de manter vivas essas conexões familiares. Para seu Hilton, o poeta alegretense Mário Quintana diria o seguinte: “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”.