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Colunista 01/06/2017 10:06
Por: Ângelo Savi

Eleições

Com a permanente turbulência política, que parece que vai nos infernizar pelo resto dos tempos, uns e outros se puseram a reivindicar eleições. Até um grupo de artistas andou fazendo um show no Rio de Janeiro em favor de diretas já. Se não ocorrer nenhuma malandragem legal (o que nestas terras está sempre na iminência de acontecer – e acontece), é óbvio que trazer as eleições do ano que vem para agora é um processo lento, que exige mudança da constituição e, ainda, que o congresso começasse as alterações imediatamente, as eleições normais de 2018 serão realizadas antes que se terminem as modificações. Isto, repito, se não houver safadeza.

No entanto, é a coisa mais clara do mundo que a considerável maioria dos que bradam por eleições não as quer por amor ao país ou para solucionar os problemas crônicos que enfrentamos, mas sim para voltar ao poder colados em Lula, que inegavelmente ainda é dono de farto prestígio popular. E indiretamente livrá-lo da da justiça, pois todos sabem que, eleito presidente, terá foro privilegiado, não poderá ser processado por fatos ocorridos antes da assunção ao mandato e mais todas os privilégios dos que se elegem no infeliz Brasil.

Pode ser que eleições sejam convenientes agora. Pode ser até que sejam recomendáveis em vista da bagunça imperante. Mas de modo algum resolvem quaisquer dos problemas criados e intensamente aumentados com o passar do tempo pelo próprio estado. É que o problema não é o Temer, ou a Dilma, ou o Lula, ou o Fernando Henrique, ou a esplêndida alcateia de ladrões que se aninham em todos os desvãos desta república eternamente deitada em berço esplêndido.

É bem verdade que gerações sucessivas de políticos se empenharam em construir o monstrengo. Uns por ingenuidade, muitos por burrice, a maioria por má-fé. Da tomada de três pinos, que ninguém sabe para que serve, às licitações alegremente arranjadas para burocratas, políticos e grandes empresários se cevarem com o nosso suado dinheirinho. Das obras malfeitas, que nunca se concluem, à Brasília que foi construída em quatro anos. Que fenômeno, uma capital inteira, construída no meio do deserto em apenas quatro anos. Como os empreiteiros não devem ter ficado agradecidos ao Juscelino pelo milagre da multiplicação das obras. Aliás, Brasília consegue ser um sobre absurdo num Brasil que por si só já é O absurdo. Daqui a cinco ou seis mil anos, algum arqueólogo deverá derreter os miolos tentando compreender a razão para um povo tão atrasado e pobre ter construído uma obra faraônica, cheia de palácios inúteis, no meio do nada. Ele haverá de procurar razões racionais para a construção da capital, mas como elas não existem nunca as encontrará.

A realidade é que enquanto houver um estado gordo e sugador dos recursos da nação, uma massa de funcionalismo inútil e dispendiosa, eleições proporcionais custosíssimas, quociente eleitoral, senado, foro privilegiado, número mínimo de deputados por estado, partidos de aluguel (que todos sabem que são criados com a finalidade única de se vender), regulação de tudo pelo governo e muito mais, estarão presentes as condições para a criação dos parasitas que nos roubam. E não há o menor risco de que eles não continuem a se criar e a nos roubar.

Vou dar um exemplo concreto de como as coisas deveriam ser feitas. A Nova Zelândia, até a metade do século XX, era um dos países mais ricos do mundo. Depois, num movimento que, diga-se a bem da verdade, foi generalizado no mundo, foi se socializando mediante o inchaço do estado e, consequentemente, empobrecendo. Passou do terceiro lugar como país mais rico em 1950, para o 27º no meio da década de oitenta. Então eles resolveram fazer o que tinha que ser feito, não com eleições, mas com ações.

O funcionalismo do Ministério dos Transportes foi reduzido de 5.600 servidores para 53. O do Meio Ambiente, de 17.000 para 17. O das Obras Públicas de 28.00, para 1. Isto mesmo, apenas 1, que era o ministro. Foram vendidas todas as estatais. O governo, que absorvia 44% do PIB do país, passou a consumir 27%. A criação de ovelhas, uma das principais atividades econômicas, deixou de receber subsídios, o que obviamente gerou uma gritaria dos produtores. No entanto, sem a proteção do estado, eles tiveram de se adaptar à nova realidade. E, como se diz, a necessidade é a mãe da invenção, com aplicação de tecnologia e novo modo de produção, em poucos anos o preço do quilo da carne de cordeiro passou de U$ 12,50 em 1989 para U$ 115,00, em 1994. Os impostos foram reduzidos a dois, o de renda e o de consumo; o imposto de renda baixou de uma alíquota de 66% para 33% e o de consumo para 10%. Resultado? A arrecadação aumentou.

E muito mais foi feito para reduzir o estado. Não há espaço nos limites desta crônica para relatar tudo. Tirei estes dados do relato dos políticos que encabeçaram a mudança, Roger Douglas e Maurice P. McTigue (pode ser conferido no seguinte endereço: waynedaniel.net/images/Document1.pdf ), integrantes do Partido Trabalhista, que é de esquerda. De esquerda, mas não de burros e canalhas.

É claro que no início das reformas houve desemprego e descontentamento, logo revertidos pela quase imediata mudança para melhor. Hoje a colocação da Nova Zelândia no índice de riqueza mundial varia conforme as diversas instituições que realizam a medição, entre o primeiro e o quinto lugar como país mais próspero do mundo. Como consequência, é um dos mais pacíficos, de maior estabilidade e, principalmente, com melhor qualidade de vida. De quebra, lá o índice de corrupção é tão pequeno que pode ser considerado zero, o menor do mundo segundo a ONG Transparência Internacional, pois não há burocracia e, portanto, não há condições para um funcionário ou político criar dificuldades para vender facilidades como no Brasil. Além disto, como não há o que roubar do estado, os aspirantes a parasita nem se criam.

Este é um sonho para o Brasil que precisa parar de pensar que mais política resolve os enormes problemas que a própria política cria e impedir, mediante a redução do estado, que ela esteja sempre e cada vez mais a nos desgraçar.