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Geral 25/03/2020 19:27
Por: Redação

Ministro Mandetta descarta saída após pronunciamento de Bolsonaro

Mesmo assim, ele prometeu seguir focando sua atuação na proteção da vida. Já o ex-secretário de Saúde Osmar Terra criticou o isolamento social

Mandetta muda discurso, diz que fica no cargo e critica quarentena. Com esta manchete, o jornal O Estado de São Paulo sintetizou a entrevista do ministro de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na tarde de quarta, 25, no dia seguinte ao polêmico pronunciamento em rede nacional do presidente Jair Bolsonaro. Para os desavisados, vale lembrar que Bolsonaro criticou as medidas de isolamento social em função da pandemia do novo coronavírus, defendendo uma volta à normalidade no país. Mesmo adotando um tom conciliador em sua manifestação, Mandetta não contestou a posição do presidente. Pelo contrário. Criticou a quarentena como estratégia de prevenção ao avanço da doença, opinando que as medidas restritivas foram tomadas cedo demais, além de terem sido desarrumadas. Acredita que as medidas devem ser pactuadas com os diversos setores do país, defendendo uma proposta de unidade nacional de ações, em conjunto com os estados. O ministro Mandetta ainda observou que é preciso elencar setores essenciais que não podem ser interrompidos. Neste aspecto, observou que há maneiras de fazer uma quarentena, desencadeando gatilhos de acordo com o avanço de casos. Ele também negou sua saída do Ministério, garantindo que seguirá trabalhando para preservar ao máximo o critério técnico e focar na proteção da vida.

Já o ex-secretário de Saúde do Rio Grande do Sul e atual deputado federal pelo MDB, Osmar Terra, não precisou “pisar em ovos” para defender a posição do presidente Jair Bolsonaro. Terra esteve a frente da campanha contra o surto de H1N1 no Brasil em 2009. Em entrevistas para emissoras de rádio e para o jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, nesta semana, Terra usou argumentos técnicos e baseou-se em estatísticas de outras epidemias para criticar as medidas de isolamento social para impedir o avanço do coronavírus. O parlamentar disse que restringir a circulação de pessoas que estão fora do grupo de risco não irá impedir o avanço da pandemia e que o ideal seria concentrar as estratégias de proteção na população idosa. Para ele, é preciso considerar o impacto econômico que providências como o fechamento de lojas e empresas pode representar.

Sem nenhum receio das eventuais críticas à sua opinião, Osmar Terra fez uma estimativa que chama a atenção. Acredita que cerca de 20% da população brasileira - em torno de 40 milhões de pessoas – já está contaminada pelo vírus. “E elas nem sabem e nunca vão saber se não fizerem o exame”, argumentou. Conforme explicou, o vírus infecta, a pessoa contamina por um período e depois desenvolve anticorpos. Dessa forma, prosseguiu, a epidemia termina. “Um vírus para o qual não tem remédio nem vacina, teoricamente teria que só aumentar sem parar. Ele aumenta, em seis semanas geralmente estabiliza e aí começa a cair. Em 12 ou 13 semanas se cumpre o ciclo inteiro, entre o início da epidemia e o fim”, pontuou.

Osmar Terra afirmou não haver diferença entre a curva do novo coronavírus e a do H1N1. Segundo registrou, a curva do H1N1 no Rio Grande do Sul se deu em exatamente 13 semanas. Na China, conforme acrescentou, a epidemia do coronavírus já regrediu, o que abre margem para calcular e ver o comportamento do vírus. “O que vai acontecer é que a epidemia vai aumentar muito rápido agora porque é a subida da curva, vão ser 300 ou 400 casos novos por dia e, ali pelo dia 24 de abril, vai começar a cair. E aí, no fim de maio ou início de junho, termina a epidemia.”, sustentou. O próprio deputado explicou porque se dá o fim da epidemia. “Porque mais da metade da população brasileira já vai estar contaminada. Mais de 99% da população vai ter contato com o vírus, vai ser infectada e não vai ter nem dor de cabeça. No H1N1, as pessoas que morreram eram jovens, grávidas e obesos. Os idosos, porém, não pegaram, mesmo sendo mais frágeis. E por quê? Porque o H1N1 tem um perfil genético muito parecido ao da gripe asiática, que atingiu o planeta nas décadas de 50 e 60. Então, todo mundo que nasceu nesse período estava imunizado.” Demonstrando muita convicção e usando um tom enfático, Terra adiantou outra previsão: “Vai morrer mais gente de gripe sazonal só no inverno do Rio Grande do Sul do que de coronavírus em todo o Brasil.”

Questionado se, desta forma, qualifica como demasiadas as medidas restritivas adotadas, Osmar Terra não mediu palavras. “É um absurdo. Fechar sala de aula aumenta a epidemia, não diminui. Se não se contaminarem na escola, as crianças vão se contaminar de outra maneira. E quem vai cuidar delas em casa, se os pais têm que trabalhar? O vovô e a vovó, que são grupo de risco, e esses sim têm que ficar em isolamento porque têm risco de vida.” Por fim, Terra defendeu o isolamento apenas para as pessoas consideradas do grupo de risco.