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Geral 11/05/2025 10:08
Por: Arthur Mallmann

Onde faltam palavras, sobra presença de mãe

A relação entre Nádia da Rosa e a sua primogênita, Manuela, uma criança com autismo, é prova viva que o amor incondicional pode ser vivido de diversas formas

  • Nádia com a sua filha Manuela e seu filho Gael: amor que transborda (Foto: Acervo pessoal)
  • Manuela, com seu olhar curioso sobre o mundo, com o irmão Gael (Foto: Acervo pessoal)
Com o Dia das Mães se aproximando, a história da educadora física Nádia da Rosa nos convida à reflexão sobre maternidades que, embora diferentes em seus desafios, são igualmente movidas pelo amor incondicional. Mãe de Manuela, 10 anos, diagnosticada com autismo aos 2, e de Gael, 3, Nádia vive uma jornada marcada por descobertas, adaptações e uma força silenciosa.

Os primeiros sinais de Manu ter Transtorno do Espectro Autista (TEA) surgiram discretos, mas insistentes. Ainda com pouco mais de um ano, ela não respondia aos chamados pelo nome. O olhar, que muitos pais esperam ansiosamente dos filhos, não vinha da maneira esperada. Em saídas de casa, o choro diante de ambientes barulhentos se tornava constante. Para Nádia, o estranhamento era evidente, mas a reação, ao contrário do que se poderia imaginar, foi prática e direta. “Ok, é autismo. Então o que eu tenho que fazer?”, lembra ela. “Não sofri por antecipação. Fui indo pelo momento”, acrescenta.

O diagnóstico confirmou o que o instinto materno já apontava. Manuela estava no espectro autista, em nível severo, a ponto de não desenvolver uma fala funcional. Hoje, aos poucos, ela aprende a se comunicar de forma diferente. Se quer um bolo, por exemplo, não diz frases inteiras. Puxa a mãe pela mão, leva até o local e diz apenas: “bolo”.

Manuela, com seu olhar curioso sobre o mundo, com o irmão Gael (Foto: Acervo pessoal)




Rede de apoio, para mães como Nádia, não é apenas um conforto — é uma necessidade. Conversar com outras mães, trocar experiências, saber onde encontrar um dentista com acolhimento, uma terapeuta especializada ou simplesmente desabafar. Projetos como a Associação Pró-Autismo Mandala, ou o TEAcolhe, na Apae de Candelária, que promovem acolhimento e aproximam especialistas das famílias, se tornaram fundamentais nos primeiros anos após o diagnóstico. “Foi bastante importante nesse primeiro momento”, diz ela. É nesse espaço coletivo que muitas mães entendem que não estão sozinhas.

Felizmente, a acolhida da família de Nádia e de seu marido, Edenir Schuller, sempre foi natural. Ao visitarem parentes, Manu sempre foi esperada com tudo pronto. Estes ambientes, em um gesto de amor, se adaptaram a ela — não o contrário. “Deixa ela entrar. Deixa ela fazer isso”, recorda, com gratidão, ao falar sobre os familiares. Aos poucos, todos foram se ajustando a um tipo de amor que precisa aprender a existir com menos respostas e mais presença.

Há um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia para educar uma criança. No caso de uma criança autista, isso se torna ainda mais verdadeiro. Se há algo que a história de Nádia revela é que essa aldeia pode ser feita de familiares, amigos, profissionais e até projetos sociais — mas é sempre, antes de tudo, sustentada pela força de uma mãe.