Por: Arthur Mallmann
A força que nasce da dor de muitas mulheres
Lidiane Oliveira perdeu dois filhos e escapou de um relacionamento abusivo; hoje, ela conta sobre a importância do apoio para seguir em frente e a possibilidade de sorrir para a vida
No dia 28 de fevereiro, Lidiane Oliveira completou 45 anos. Uma data que, para a maioria, é sinônimo de celebração, mas que, para ela, carrega um peso emocional imenso. No dia de seu aniversário, em 2017, ela enterrava seu segundo filho, Bernardo, de apenas 8 anos, falecido por complicações cardíacas. A dor de perder dois filhos e a luta para reconstruir a própria vida após anos em um relacionamento abusivo são marcas profundas que, para o bem ou para o mal, Lidiane carrega consigo. Mas, acima de tudo, sua história é um testemunho de resiliência, força e recomeço.
Lidi, como é chamada pelos íntimos, já havia perdido seu primeiro filho, Eduardo, quando ele tinha apenas 11 meses, vítima de leucemia mieloide. “Foi tudo muito rápido. Descobrimos o que era numa segunda-feira, e na terça ele já havia partido”, relembra, com a voz marcada pela dor da memória. Na época, Lidiane tinha 26 anos e vivia um casamento permeado por agressões psicológicas e falta de apoio.
A dor da perda e a ausência de uma base emocional no relacionamento a levaram a uma busca desesperada por preencher o vazio. Em um ano, engravidou quatro vezes. Três gestações não vingaram, mas na quarta veio Bernardo. “Eu queria substituir o Eduardo. Hoje entendo que era isso”, reflete. Bernardo nasceu com uma cardiopatia e precisou de cuidados intensivos desde o início da vida. Lidiane assumiu praticamente sozinha a responsabilidade, já que o pai da criança, seu ex-marido, nunca foi presente. “A partir dessas perdas, eu entendi que tinha que passar por isso. Que isso estava na minha história”, pontua.
Relação abusiva
Apesar da dor sem tamanho de perder dois filhos, Lidiane desabafa que sua luta mais dura é contra as sequelas de um relacionamento abusivo que durou 18 anos. Como muitas mulheres de sua geração, a cachoeirense que adotou Candelária foi “criada para casar”. Seu ex-marido foi seu primeiro namorado e todas as culpas que lhe eram atribuídas acabavam, de certa forma, normalizadas.
Lidi afirma que a chave virou durante a gravidez do seu segundo filho, Bernardo, quando os problemas cardíacos dele foram identificados. “Foi nesse momento me caiu a ficha de que precisava caminhar com as próprias pernas, pois eu não tinha parceria. Comecei a pensar no que faria para sustentar um filho cardíaco que precisava de tratamento constante”. Entretanto, o caminho para a separação foi longo e árduo. “Em casos semelhantes, as pessoas perguntam: ‘Por que não larga dele?’. Mas não é fácil. Eu, por exemplo, era constantemente diminuída. Ele me dizia que eu não iria até a esquina sem ele. E passamos a acreditar e internalizar essas falas”, revela.
Quando Bernardo completou 5 anos, Lidiane conseguiu se separar. Começou um curso de Educação Física na Ulbra com 100% do FIES e, lá, conheceu seu atual marido, que hoje é seu maior apoio. Com muito esforço, conquistou uma oportunidade no SESC, onde trabalhou por vários anos. Sua dedicação levou a um convite para atuar na Prefeitura, onde hoje ocupa o cargo de diretora de Turismo.
Mesmo com o sorriso que carrega no dia a dia, Lidi ressalta que a superação não é algo definitivo, mas uma luta constante. No Dia Internacional da Mulher, sua história ecoa como um lembrete de que a dor não precisa ser um ponto final, mas pode se transformar em um recomeço. E, acima de tudo, que cada mulher tem dentro de si uma força capaz de ressignificar seu próprio destino.