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Geral 01/12/2018 11:12
Por: Luciano Mallmann

Olga Maria e os limites da dedicação à causa do amparo e proteção aos animais

Candelariense destina maior parte de sua casa - e de sua vida - para acolher animais abandonados e dar-lhes um lar

De início, parece uma casa como qualquer outra, espaçosa. A decoração para o Natal está em toda parte: na porta de entrada, sobre cada um dos móveis, nos dois grandes pinheiros, nos menores detalhes. Existe uma palavra que descreve essa ornamentação: exuberante. É apenas ao subir a escadaria em espiral que leva ao andar superior e ao terraço que se percebe que a casa não é como todas as outras. Nos primeiros degraus, um ou dois gatos se apresentam a quem chega, farejando novidade. Um pouco acima, ouve-se um miado de algum dos três ou quatro felinos. Um pouco mais acima, os cinco ou sete, vendo na visita uma oportunidade de receber carinho, pedem atenção, miando timidamente, com olhos arregalados. Porém, é só chegar ao final da escada que se tem uma visão mais geral dos 30 gatos que, juntamente com os cachorros, dividem a casa com a candelariense Olga Maria de Souza. Convivendo em harmonia, sentados lado a lado, os felinos pedem atenção. E recebem. Mas não todos. Do mesmo modo que sempre há algum subindo insistentemente no colo, sempre há um ou dois que se esquivam. E assim, esperando as horas passar, sucedem-se os seus dias, indiferentes a um e outro latido dos 25 cachorros que também vivem na casa.
Quem conhece Olga Maria de Souza sabe que a cena descrita acima não poderia ser diferente. Nascida em 24 de janeiro de 1948, filha Morena Lenz (nascida Braga) e Jorge Delmar Lenz, Olga Maria estudou sempre no Colégio Medianeira e, mais tarde, graduou-se em Educação Física. Viúva do engenheiro agrônomo Cláudio José Silveira Souza, Olga Maria tem uma filha, Maria Inês, que vive em Botucatu, São Paulo. 
A paixão pelos animais começou cedo. A dedicação a essa causa, porém, data de 2001, ano em que foi convidada para participar de uma ONG com o objetivo de proteger e cuidar dos animais. Foram surgindo muitos animais, que, inicialmente, ficavam na casa da veterinária Andréa Becker. No ano seguinte, o espaço na casa de Andréa já era pouco. E Olga Maria, sem pensar duas vezes, passou a levá-los à sua casa. Pelo fato de estar já aposentada, tinha disponibilidade para dedicar-se aos gatos e cachorros que seriam, a partir de então, grande parte do foco de sua vida. 
A candelariense conta que já nessa época as pessoas começaram a abandonar gatos ou cachorros em frente à sua casa, com uma finalidade óbvia. E ela não tinha outra opção senão recolhê-los. Foi somente quando eles começaram a aumentar de maneira descontrolada que se organizou, junto com outros voluntários que sempre a ajudaram, a Feira de Adoção, no primeiro domingo de cada mês na praça Alberto Blanchard da Silveira. Escolhiam os animais e os levavam para a praça. Mas não deu certo: "Depois da adoção, fazíamos uma visita e víamos que os animais não estavam sendo bem cuidados. Foi o que bastou". A partir de então, por volta de 2003, passou a acolher todos os animais abandonados como se, à exceção do andar térreo, a casa fosse realmente destinada a eles. Conta que, em 2005, abrigava 39 cachorros e 70 gatos. Desde então, a casa recebeu adaptações para melhor acomodar a população felina e canina, como portas de vidro e grades. E já naquela época cada um dos inquilinos recebia o mesmo carinho individual que é dedicado a eles ainda hoje. Olga Maria faz questão de salientar que não foi pioneira na dedicação aos animais. Além de Andréa Becker, já mencionada, o candelariense Hugo Gewehr também destinava um espaço para os cachorros. Em nenhum momento também deixa de valorizar o imenso auxílio que recebe até hoje de diversas pessoas da comunidade, bem como de todos os veterinários. Por esse papel fundamental, ela deixa seu profundo agradecimento.

Uma casa organizada em torno do bem-estar dos animais 
A vida dedicada a uma causa traz consigo inúmeras renúncias, como a impossibilidade de viajar ou mesmo de assistir a algum espetáculo na cidade. Conta que em 2005 visitou a filha, em Botucatu. Depois disso, nunca mais viajou. E, assim, a rotina da casa foi sendo organizada em torno do bem-estar dos animais. Da mesma maneira foi feito, recentemente, numa propriedade sua na Vila Fátima, com toda a infraestrutura necessária para receber os animais, onde estão abrigados hoje 36 cães, com os cuidados a cargo de Wagner Eilert. Na casa, as cuidadoras, altamente qualificadas, são Loni de Bairros e Marina Madalena.
Além das pessoas que prestam seu auxílio, também não faltam pessoas que não compreendem a escolha de Olga Maria, e que aconselham-na a deixar os animais. Por sua vez, ela também não compreende esse modo de pensar e menciona como exemplo uma de suas cachorrinhas prediletas, Aimée, que, bastante velha, morreu ainda neste ano. Interroga-se como poderia abandonar um animal que viveu desde sempre em sua casa. É com o pensamento em Aimée que ela orienta as famílias a se conscientizarem de que a adoção é para a vida inteira, incluindo todos os ciclos da vida do animal. E também é no sentido de pedir um maior respeito que fala do quanto esses animais são "indefesos contra a maldade das pessoas". Ela menciona como exemplo os cavalos que, forçados a trabalhar a vida inteira, ao final são vendidos para extrair deles o que lhes resta, "até o couro", destaca.
Abrir as portas de uma casa para nela abrigar um sem-número de gatos e cachorros é missão dispendiosa e os auxílios de custo são mínimos. Por isso, toda doação é bem-vinda. Olga Maria informa que essas doações podem ser feitas de inúmeras maneiras, até mesmo, por exemplo, deixando pagos banho e tosa nas pet shops.
E os resultados, a compensação por todo esse volume de trabalho? Dizer que existe comunicação, ou troca, entre humanos e animais talvez seja uma afirmação arriscada. Todavia, o simples fato de tanto gatos como cachorros olharem no fundo dos olhos de seus donos certifica que alguma comunicação existe, e não é tão superficial. Da mesma maneira, não é superficial a alegria que esses seres especiais trazem ao cotidiano das pessoas - e também uma dose de tristeza, quando o ciclo de um deles chega ao seu final. Pensando em tudo isso, não há como não dizer que existe, sim, uma intensa troca entre seres humanos e animais.
(Por Luciano Mallmann)