Por: Redação
Caçador de Esmeraldas
Juntei durante a vida algumas coisas interessantes. Guardo uma infância ambígua de riqueza e miséria, passos indecisos que tentavam trilhar uma linda reta, devidamente amparada pelos meus pais. Guardo momentos felizes de alegres brincadeiras com irmãos, quando tudo era somente alegria e felicidade. Até mesmo nos piores momentos, conseguíamos dar risadas e juntos crescermos. Tenho fartas lembranças do começo na escola, em um colégio de freiras, onde o meu “imenso” pecado era ser canhoto, e, portanto, levei muitas "reguadas" de madeira na minha mão esquerda, porque escrever com essa mão era proibido. Até mesmo minha mão foi amarrada com cordas, para deboche de todos os colegas e da menina que eu era apaixonado, a Simone. Guardo com muito carinho a professora Rute, do segundo ano, que não se importava com qual mão eu escrevia, e eu escrevia.
Guardo no peito as loucuras que fazia, meus passeios de motocicleta com meu irmão Jeferson, a quem tenho apreço especial, e minha irmã Lia, que sempre foi cuidadora. Guardo as farras, os primeiros sentimentos, os primeiros beijos, as primeiras decepções. Guardo o tempo da faculdade, em São Leopoldo, onde conheci minha esposa Miriam, e lembro que quando a vi pela primeira vez pensei: vou casar com essa menina... e estamos casados até hoje. Guardo as lembranças da minha filha, do dia que soube que seria pai, e ainda mais de uma menina, uma alegria imensurável. A infância da Carol, as preocupações, as confusões, o amor imenso, a alegria.
Guardo também as dificuldades da vida: os primeiros erros, a depressão profunda, o alcoolismo, que com força da família consegui superar. Seria impossível tê-lo feito sem a Miriam e a Carol – que grande amor! Guardo as brigas, as dificuldades, a falta de dinheiro, a alegria de ver que tudo foi superado. Amadureci, cresci.
Guardo a impressionante alegria de ser avô, de ser chamado pelas minhas netas e elas me pedirem a mão para se sentirem seguras. Amo esses momentos. Tenho netas lindas: o maior presente que ganhei na vida, “a cereja do bolo”. E por tudo isso, por tudo que vivi, sou grato a Deus. Talvez tenha alguns anos ainda, que pretendo viver em companhia de minha filha, meu genro, minha esposa e netas, e depois disso, Deus (espero que ele) pode levar um filho que realmente foi feliz. Meu avô veio da Europa para o Brasil para encontrar esmeraldas; eu as encontrei.
Texto: Erni Bender