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Geral 30/08/2024 09:38
Por: Diego Foppa

Marcas da enchente ainda estão presentes na Linha do Rio

Quatro meses após a tragédia climática, o trabalho de reconstrução ainda continua para recuperar os danos causados

  • Obra de contenção na margem do rio não foi finalizada
  • Após ver sua residência destruída, Márcia está construindo uma nova moradia no mesmo local
  • Marcar do desastre climático presentes: José Airton Perussatto mostra a altura que a água chegou a atingir
Quatro meses após a devastadora enchente que atingiu Candelária, muitos moradores ainda enfrentam as consequências da tragédia climática. A chuva incessante que caiu dia 29 de abril e os dias seguintes jamais sairá da memória de muitas pessoas, sobretudo das que foram diretamente atingidas. Em algumas localidades as precipitações superaram os 900 milímetros. Inúmeras pessoas ficaram desabrigadas ou viram suas moradias e pertences serem ‘engolidos’ pela água. Além disso, diversos estragos em pontes, deslizamentos de terras, entre outros, também foram registrados. Passado esse período mais crítico, é visível a recuperação, mas dois fatos são claros: as marcas da tragédia climática ainda são evidentes e vai levar algum tempo para o município retornar à sua normalidade por conta do impacto deixado. 
Na Linha do Rio, uma das localidades que mais sofreu com os estragos, as marcas ainda são visíveis. Quem trafega pela VRS-858 pode perceber que os destroços ainda estão presentes. Em junho, o governador Eduardo Leite esteve visitando a localidade. Dias depois, uma obra de contenção teve início na margem do Rio Pardo, visando oferecer uma maior proteção à estrada, já que o barranco ficou muito próximo da pista. No entanto, moradores relataram para a reportagem que o trabalho foi interrompido há alguns dias e não foi finalizado. A Folha entrou em contato com o Daer, mas não obteve uma resposta até o fechamento desta edição.  Outro local onde é possível ver cicatrizes da enchente é o Cemitério Türk, localizado no quilômetro 6 da rodovia. Apesar do esforço da comunidade, o acumulado de destroços é perceptível. Circulando pela localidade também é possível ver o estrago deixado nas lavouras, que aos poucos vêm sendo recuperadas graças ao esforço da população. 
Segundo relato de José Airton Perussatto, morador da Linha do Rio há 29 anos, ele nunca presenciou algo semelhante. Ele que trabalha como fabricante de instrumentos musicais de percussão, conta que entrou aproximadamente 40 centímetros de água em seu estabelecimento. “Uma sensação de impotência, pois a água subiu muito rápido. Levantamos o que deu”, revela ele. Quando a água baixou foi possível ver um pouco do cenário de destruição deixado pela correnteza. “Muito lodo, barro e árvores caídas por todo o lado. Algo jamais visto”, ressalta.  


Cenas de destruição e desespero gravadas na memória 
Entre as histórias de desespero e de luta diante da catástrofe, está a de Márcia Liliane Machado, de 42 anos, e de seu namorado Carlos. Ela recorda que no dia 30 de abril, a água começou a invadir a moradia. “Entrou cerca de 70 centímetros dentro de casa. Rapidamente levantamos os móveis que conseguimos”, recorda. Depois, água chegou a baixar e foi possível tirar parte da lama do interior da casa, mas o pior ainda estava por vir. “Antes do meio-dia a água subiu novamente. Desta vez, com ainda mais intensidade. A única alternativa que encontramos foi tirar o forro e subir na casa”, relata. Eles ficaram por aproximadamente duas horas na parte de cima da residência até ela desabar e ambos serem levados pela correnteza. “Eu consegui me segurar em uma porta e o Carlos na tábua de um armário da cozinha”, conta Márcia. O casal foi arrastado pela correnteza por aproximadamente um quilômetro, até conseguirem se segurar galhos de árvores amontoados. Cerca de três horas depois, foram resgatados por um bote dos bombeiros. Conforme Márcia, que reside desde 2010 na localidade, sendo os últimos seis anos na casa que foi totalmente destruída pela força da água, as imagens jamais se apagarão da memória. Passado todo esse tempo da enchente, ela ainda recorda as imagens da água atingindo sua casa e a dos vizinhos, mas relata que é preciso seguir em frente. Aos poucos, vai reconstruindo sua casa no local em que estava a antiga. “Agora, é dar mais valor para a vida e menos para os bens materiais, pois tivemos uma nova oportunidade para viver”, relata. A mobília e as roupas também foram totalmente perdidas, mas ela enfatiza que recebeu muitas doações. 


CADELA FOI ENCONTRADA A CERCA DE 1,5 QUILÔMETRO DA MORADIA
Dos bens da residência, Márcia conta que sobrou somente uma motocicleta pelo fato dela ter ficado presa na camionete do namorado, em meio as árvores, lama e entulhos. A cadela de estimação que atende pelo nome de Guriazinha, estava junto com o casal no telhado, quando acabou caindo na água e foi levada pela enchente. Contudo, ela foi encontrada dias depois a cerca de 1,5 quilômetro do local em que desapareceu.