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Opinião 16/01/2024 16:25
Por: Odete Jochims

O Tempo Não Para. Estou morrendo ...

Quando somos meninos ainda, somos compelidos a acreditar que somos imortais, ao menos isso aconteceu comigo, quando na minha infância achava que jamais iria morrer, uma espécie de Super Homem, que eu adorava ver e ler nas histórias em quadrinhos, os chamados “gibis”, e aquilo me dava a idéia de que os anos não fariam a menor diferença para mim, jogava as horas pro alto em intermináveis jogos de futebol de várzea, que acabava quando a mãe mandava o irmão ou irmã ir me avisar que se eu não fosse imediatamente para casa, a surra ia pegar, então, quando via um irmão vindo na direção do campo onde jogávamos, já ia me despedindo, porém, quando o time estava perdendo ficava, e invariavelmente a mãe passava o “corretivo”, e não morri por isso, a despeito do que dizem hoje que não se pode dar umas “palmadinhas” em crianças, mas isso é outra história, e em outras brincadeiras. 
Com o passar dos anos, quando ficamos jovens, o tempo também não parece ser problema, temos a vida inteira pela frente, envoltos em estudos, em brincadeiras, namoros, nem percebemos o tempo passar, e mais uma vez a sensação de eternidade toma conta, porque sendo um jovem, e não se envolvendo com drogas, que graças a Deus este vicio não tive, a gente pode tudo, ou quase tudo. Pode comer um prato de negrinho misturado com pepino e tudo bem, nada fazia mal...suco, refrigerante, cerveja, vinho, cachaça...misturado...e nada fazia mal, era uma beleza. A gente vive este tempo e nem percebe o quanto é bom, e o que é pior, exagera, não cuida, já que a sensação é de imortalidade, pra que se cuidar???
Porém o tempo passa e é implacável!!! Quanto entramos na fase dos “enta”, que começa com os quarenta anos, tudo começa a mudar. Primeiro é a agilidade que não é mais a mesma. Eu gostava de jogar futebol e tênis, porém, com as juntas doendo, joelhos especialmente, o esporte já não é mais esse, agora é caminhada e bicicleta, e confesso que atualmente nem caminhada nem bicicleta, pra delírio de minha filha Carol que é educadora física e que me cobra via telefone, já que mora longe, os exercícios que tenho, ou deveria fazer.
Mas não para por ai... você leu ai que dava pra comer e misturar qualquer tipo de comida né? Pois é, agora nem pensar... se jantar de noite, muito tarde, é certo que terei uma noite mal dormida. Daí é chazinho que não gosto, comprimidos para o estomago que gosto menos ainda, e ainda assim, é noite de pesadelos.
Mas o pior mesmo são algumas coisas que vão se agregando as nossas vidas sem pedir licença, vão chegando e vão ficando, e não largam de nosso pé...comprimidos para pressão alta, comprimidos para fazer xixi...é verdade, até pra isso tenho que tomar comprimido, não que eu não faça, mas segundo meu amigo e meu médico, Dr Vasconcelos, tenho que eliminar o excesso de água no corpo, e portanto...comprimido pra fazer xixi...e o pior dos meus males: o açúcar. Este sim, terrível, doença silenciosa, que não tem efeitos aparentes e que devagar vai minando minha saúde. Meu pai era diabético, e o final de sua vida não foi muito agradável não. Tudo bem que meu pai, como a doença não tem sintomas aparentes por longo tempo, jamais se cuidou, devorava pudins, doces em geral, e de quebra tomava cerveja, o que acarretou em problemas de visão, rins e circulação, que levaram meu pai a morte, então, entendo e sei que tenho que me cuidar, ou seja, doces...sé diet, e olhe lá. 
Este titulo, estou morrendo, não é de forma alguma desesperador, já que todos nós estamos, a gente mal nasce e já começa a morrer, mas como vamos viver é que é a questão. Se tivermos problemas com doenças, a qualidade de vida vai lá pra baixo, e convenhamos, até quero ficar velhinho, mas...gostaria de ficar velhinho com saúde razoável, se não, se assim o Senhor permitir, gostaria de morrer de um ataque fulminante do coração, já que não quero ficar definhando numa cama, ninguém quer. Isso me faz lembrar de um amigo que encontrei totalmente desolado, triste mesmo! Quando o indaguei, disse-me que estava vindo do cardiologista. Fiquei penalizado e perguntei: mas o que foi? Tens uma cardiopatia? Que doença do coração que tu tens? E ele me respondeu: Nenhuma!! Justamente por isso estou desolado, vou morrer definhando numa cama....claro que ninguém quer sofrer, que todos gostariam de viver não eternamente, mas ter qualidade de vida até o fim. 
Percebo agora, na minha atual idade, 53 anos bem vividos (dizem que de aparência parece 28...hahaha) que não sou imortal, que o tempo passa e sem que percebamos vamos ficando velhos. O tempo, não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém...
 ps: Escrito há dez anos atrás (to vivendo)

Erni bender/ Jornalista