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Geral 22/07/2022 10:42
Por: Odete Jochims

Música alemã, o início do Freudenkreis

Origem e trajetória do conjunto estão intimamente ligadas à data do Colono e Motorista

  • Foto referente aos 35 anos do conjunto, celebrados em 2012 | Acervo pessoal / Odilo Butzge
  • : Padre Alfredo Lenz (com o violão) animava os encontros envolvendo o Freudenkreis | Acervo pessoal / Odilo Butzge
  • Primeira apresentação do Freudenkreis com gaitas de boca (data incerta)| Acervo pessoal / Odilo Butzge
  • Freudenkreis se apresentando no Salão de Edwino Schwantz, em 1978 | Acervo pessoal / Odilo Butzge

O Dia do Colono e Motorista tem suas raízes em comemorações relativas à imigração alemã no Brasil. Registros históricos dão conta que a data passou a ser celebrada no Rio Grande do Sul pelo menos desde o dia 25 de julho de 1924, ano do centenário da chegada dos primeiros alemães a Porto Alegre. Desde então, para muitas cidades fundadas a partir da cultura germânica, tratava-se de um dia importante para preservar a tradição de seus antepassados. Dentre elas, as sociedades de canto ocupavam um lugar especial. Era através delas, por exemplo, que os imigrantes podiam cantar as saudades de sua terra.

Na década de 1970, em Candelária, um radialista, de nome Edwino Tischler, lamentava que no Dia do Colono não se via grupos que preservassem essa cultura, justamente em uma cidade que já foi conhecida como Vila Germânia. “O falecido Tischler tinha um programa na Rádio Princesa, chamado ‘A Hora Colonial’, e ele se preocupava que ninguém cantava canções em alemão”, conta o padre Alfredo Lenz, 85 anos. Sabendo que o padre tinha talento para a música e proximidade com a cultura alemã, Tischler pediu a Lenz, através de Harry Nauderer, então dono da churrascaria Cometa, que formasse um conjunto musical com essa orientação.

De acordo com Lenz, tratava-se de um compromisso fácil de cumprir. “Eu conhecia quem ainda sabia cantos em alemão. Assim, eu e Harry Nauderer, em sua churrascaria, que viria o QG do nosso grupo por vários anos, selecionamos cerca de doze nomes para darmos início ao projeto”, lembra. Além do padre Alfredo e de Nauderer, nomes como Roberto Hintz, Emanuel Türk, Hilton Lindemann, Rudy Gewehr, entre outros, participaram da primeira formação do Freudenkreis – em português, “círculo de amigos”.

Depois de três ensaios, o conjunto se apresentou pela primeira vez no dia 25 de julho de 1977, no salão de Edwino Schwantz, na Linha Curitiba. O show foi transmitido ao vivo pela Rádio Princesa. Assim, empunhando seu violão e sob o comando do apresentador do programa “A Hora Colonial”, o padre e o grupo cantaram por quase duas horas. Com o tempo, não demoraram a surgir convites para futuras apresentações e novos integrantes ingressaram no grupo.

No próximo Dia do Colono e Motorista, na segunda, 25, o Freudenkreis completará 45 anos de vida. Pelo conjunto, passaram dezenas de outros nomes. Dentre eles, estão Theofried Wendler, Odilo Butzge, Armin Rathke, René Hoff, Orlando Kochenborger, Almiro Pasa, Willy Hintz, Valdo Türk, Armin Radtke, Elídio Heinen, Cildor Bartz, Cirilo Wagner, Marcos Beskow, René Türk, Lauro Zuse, Reginaldo Hegele, pastor Armindo Grams, entre muitas outras pessoas. E, se depender da bela história escrita até aqui, a trajetória do círculo de amigos seguirá firme e forte no futuro.

Após a primeira apresentação no Salão Schwantz, o Freudenkreis tinha oficialmente dado a largada. Odilo Butzge foi uma das pessoas que passou a integrar o conjunto em seus anos iniciais. Desde então, ele não se afastou mais. Com o fechamento da Churrascaria Cometa, sua casa se tornou, ao mesmo tempo, o QG e o museu do conjunto – algo que se mantém até os dias de hoje.

Seu Odilo conta que, neste contexto, os salões de Candelária passaram a fazer uma espécie de rodízio para hospedar o Freudenkreis no Dia do Colono. Ele recorda que o grupo tocava em vários salões pelo interior: na Linha do Rio, na Linha Facão, na Picada Roos, na Linha Brasil, na Vila Botucaraí, e assim por diante. Mas o Salão Schwantz costumava repetir a cada três ou quatro anos. “No dia 25 de julho era sagrado: o Tischler organizava o evento especial pela rádio e nós nos apresentávamos”, recorda.

Um show que Odilo Butzge guarda com carinho ocorreu em meados da década de 1980, na Comunidade São José, interior de Arroio do Tigre, local onde ele havia estudado quando criança. “O pessoal aplaudiu muito ao final de cada canção. Alguns, mais antigos, que conheciam as músicas em alemão, vieram participar e cantaram conosco. Era lindo de ver”, lembra.

Outro integrante com larga trajetória no Freudenkreis é Theofried Wendler. Desde 1981, ele, com seu bandoneon, participou intensamente das atividades do conjunto e só se afastou por questões de saúde na época da pandemia. Ele revela que, além de Arroio do Tigre, o grupo se apresentou em Vale do Sol, Venâncio Aires, Cachoeira do Sul, na rádio em Santa Cruz do Sul, na Oktoberfest, entre muitos outros locais. “Além do Dia do Colono, nós nos apresentávamos com frequência em bailes e festas de igreja. Até em festinha de escola tocávamos. Se não ia o grupo todo, ia um ou outro. O padre Alfredo gostava muito de música e estava sempre pronto para tocar”, afirma Theofried.

Todas estas lembranças ficaram guardadas com muito carinho por todos do ‘círculo de amigos’. Ao longo das regências do padre Alfredo Lenz, de René Hoff e, hoje, de Edílio Heinen, o Freudenkreis manteve viva a chama da música tradicional alemã em Candelária. Dessa forma, o conjunto viveu à risca o espírito da canção que abria ou encerrava as apresentações do grupo: wir sind die saenger von Candelária / wir leben und sterben für den gesang (nós somos os cantores de Candelária / nós vivemos e morremos pela música).

Por: Arthur Mallmann