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Geral 05/07/2019 14:19
Por: Tiago Mairo Garcia

Candelária 94 anos: O cajado do monge que ultrapassa gerações

Pedro Gomes de Moraes e seus familiares mantêm peça original que pertenceu ao religioso João Maria D´Agostini. Família está formando confraria para resgatar história do monge que habitou o Cerro Botucaraí

  • Em forma de agradecimento por promessas, fiéis procuram a propriedade da família para agradecer ao monge e deixar fitas no cajado
  • O cajado que pertenceu ao Monge João Maria D´Agostini
  • Cajado fica em móvel doado pela Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte de Candelária na gestão do ex-prefeito Elcy Simões de Oliveira
  • Pedro Gomes de Moraes cuida do cajado entregue pelo monge para o seu bisavô, João Gomes de Moraes
  • Há 171 anos cajado do monge passa de geração em geração na família Gomes de Moraes
  • Leonel e Pedro Gomes de Moraes cuidam  do cajado do monge João Maria D´Agostini há 171 anos na propriedade da família em Cavalhada, Rio Pardo

Cerro Botucaraí. Considerado o morro isolado mais alto do Rio Grande do Sul, com 569,63 metros em relação ao nível do mar, é um dos mais conhecidos pontos turísticos de Candelária. Com vasta vegetação nativa, é a montanha testemunha do rebordo do Planalto Meridional Sul-Brasil (60 milhões de anos atrás). Além da beleza natural, o local também é conhecido pela religiosidade. Conforme registros históricos, o eremita João Maria D´Agostini, um imigrante italiano que viveu no Rio Grande do Sul entre 1844 e 1848, teria residido no Cerro Botucaraí, em Candelária, a partir de 1846. Segundo crenças populares, no Cerro Botucaraí, o eremita teria feito surgir a fonte de água milagrosa que auxiliava pessoas a curarem doenças. Consta que João Maria D´Agostini possuía poderes sobrenaturais para promover curas, fato que gerou uma grande procura por parte da população. A fama do religioso em ajudar a população não foi vista com bons olhos pelas autoridades da época. Conforme consta, o General Francisco José D´Andrea (Barão de Caçapava) decretou a prisão do monge italiano em 1848, mediante o temor de levantes e concentrações populares, na maioria devotos reunidos não por ação da igreja, mas por obra de um estrangeiro com fama de homem santo. O monge foi preso no Cerro Botucaraí e remetido a Porto Alegre, de onde foi expulso do Estado, ficando proibido de retornar ao Rio Grande do Sul. João Maria D´Agostini refugiou-se na Ilha do Arvoredo (SC), Lapa (PR) e Lages (SC), vindo a desaparecer em seguida. Historiadores defendem que o monge morreu em Sorocaba, no interior de São Paulo, em 1870, mas informações presentes em dois livros publicados recentemente informam que o monge peregrinou por países da América do Sul e América do Norte, em missão religiosa, e teria sido assassinado em 1869 no Estado de Novo México, nos Estados Unidos, onde seu corpo estaria sepultado na cidade de Mesilla, na fronteira com o México. 
Um dos objetos usados pelo monge durante a sua passagem por Candelária é o cajado que permanece intacto e bem guardado na propriedade de Pedro Gomes de Moraes, na localidade de Cavalhada, no interior de Rio Pardo. Aos 90 anos, Pedro conta que o monge possuía uma forte amizade com seu bisavô, João Gomes de Moraes. Ele destaca que, após ser preso em Candelária, o monge foi conduzido até Rio Pardo e, ao passar pela estrada da Cavalhada, o religioso teria pedido aos policiais da província para deixar uma lembrança para João. "Ele se aproximou e deixou o cajado pendurado em uma árvore. Meu bisavô recebeu a lembrança e passamos a guardar a peça, passando de geração em geração da nossa família", destacou o agricultor aposentado.
Passados 171 anos, o cajado do monge está sob a responsabilidade de Leonel Gomes de Moraes, filho de Pedro. Aos 57 anos, ele destaca que o objeto sempre trouxe muita proteção e fé. Ele destacou que muitas pessoas já vieram até a propriedade para pagar promessas e deixar fitas no cajado como forma de agradecimento ao monge. Há três anos Leonel leva o cajado ao Cerro Botucaraí na Sexta-Feira Santa para que os fiéis possam agradecer. "Para nós é uma dádiva e motivo de orgulho ter recebido o cajado do monge. É uma lembrança real e nos sentimos felizes de poder levar adiante para que as pessoas tenham mais cumplicidade, compaixão e amor ao próximo, pois essa era a mensagem do monge, de sempre fazer o bem ao próximo", salientou. 
Com o objetivo de resgatar e valorizar a história do monge, Leonel informou que está sendo formalizada a confraria do Monge João Maria D´Agostini e destacou que em breve também deverá ser exibido o documentário "A maravilha do século", que conta a trajetória do monge João Maria D´Agostini. O documentário deverá ser exibido no dia 23 de agosto para a família e no dia 24 de agosto durante a realização da Feira do Livro, em Candelária. "Já estamos realizando algumas reuniões com pessoas da comunidade com o objetivo de resgatar a história do monge através da confraria e mostrar para as futuras gerações", finalizou Leonel.