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Colunista 14/05/2020 13:29
Por: Ângelo Savi

Vai piorar

No terceiro século da nossa era, o imperador romano Diocleciano promulgou o Édito Máximo, que impunha um congelamento de preços na tentativa de acabar com a alta inflação. A inflação tinha como causa os imensos gastos que ocorreram por séculos para custear as guerras do império. Como não poderia deixar de ser, o comércio simplesmente parou, pois os preços tabelados não cobriam os custos dos bens, o que teve o efeito de travar a produção. Dessa forma, a população foi deixando as cidades em direção ao campo para poder sobreviver do cultivo da terra, pois nas cidades não havia mais comida. O império definhou, porque sua economia - que havia alcançado um grau alto de complexidade - retrocedeu para um estágio em que só havia a agricultura de subsistência. Este fato foi uma das principais causas da queda do império romano. Todo o ocidente regrediu, ingressando na Idade Média. A população europeia diminuiu, o progresso que havia sido alcançado foi perdido e só mais de mil anos depois voltou a se recuperar.

Agora, a produção empacou devido a uma política mundial de encarceramento domiciliar da população e fechamento do comércio, da indústria e dos serviços, em nome de um suposto combate à pandemia do coronavirus. Não é nem um pouco difícil antecipar que a consequência disto será uma crise de tamanho sem precedentes. Nunca antes na história da humanidade aconteceu de o mundo todo ser paralisado, o que levará a um modo de vida impossível de ser previsto, assim como na Antiguidade houve a extinção do Império Romano pela desastrada condução da economia.

O pior é que o isolamento não está adiantando nada, pois o problema continua. Não há como isolar completamente todas as pessoas do mundo. Talvez, se não houvesse o isolamento, a pandemia fosse mais grave do que está sendo. Pode ser. Ou pode não ser, pois não se pode mensurar a eficácia do isolamento. Para isto se teria que comparar duas populações semelhantes, em que uma seria isolada e outra não.

O fato é que, como consequência do isolamento, haverá inevitavelmente uma crise econômica inédita. Empresas já estão sendo fechadas aos milhares, não por quebradas, mas porque é impossível continuar trabalhando devido ao isolamento. Obviamente, o desemprego aumenta exponencialmente e não é preciso ser adivinho para concluir que tudo isso trará penúria, fome, fraqueza, moléstias, que trarão mais mortes.

De modo que o isolamento mundial compulsório é medida que, para dizer o mínimo, é contrária ao bom senso. Não se pode ter ilusão, por muito tempo nada vai ficar bem, já fomos condenados e executados. Se não morrermos de coronavirus vamos morrer de miséria e, como sempre, quem mais sofrerá serão os pobres. Não há como prever a intensidade do mal que nos espera logo adiante, pode ser até que ao fim de tudo nasça um mundo melhor que o atual. Mas vai demorar, e antes que isto ocorra tudo vai piorar. A vida de todos irá piorar. E muito.