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Geral 16/11/2018 09:05
Por: Redação

Candepaleo evidencia riqueza paleontológica de Candelária

Evento realizado na Acic destacou a evolução dos cinodontes triássicos de Candelária

  • Paleontólogo argentino Agustin Martinelli
  • Professor Cesar Schultz
  • Professora Marina Bento Soares
  • Prefeito Paulo Butzge, Carlos Rodrigues, Belarmino Steffanello e Agustin Martinelli ao lado do diorama
  • Prefeito Paulo Roberto Butzge
  • Carlos Nunes Rodrigues
  • A formação da mesa principal do evento

Debater, evidenciar e compreender melhor o destacado potencial de Candelária na área paleontológica. Essa missão, incluída entre os objetivos da I Candepaleo, foi muito bem cumprida no evento realizado na noite de terça, 13, no auditório da Acic. Conforme a Folha já destacou em matéria anterior, a Candepaleo é o primeiro resultado concreto de uma comissão criada para pensar e planejar ações para explorar melhor o reconhecido potencial de Candelária na área da paleontologia. Essa comissão é formada por representantes do Museu Aristides Carlos Rodrigues, o curador Carlos Nunes Rodrigues e Belarmino Stefanello, pelos secretários municipais Jorge Mallmann e Marta Emmel, pelo vice-presidente da Acic, Flávio Karnopp, e pelo coordenador de projetos dos espaços de saúde e bem-estar do Sesi, Rafael Siqueira Oliveira. A I Candepaleo teve como palestrantes renomados paleontólogos que abordaram a temática “Candelária: Terra de Cinodontes e sua Importância na Origem dos Mamíferos”. No evento ainda foi apresentado o diorama - um painel representativo - sobre a evolução dos cinodontes triássicos de Candelária.
Após a abertura - que teve manifestações rápidas do prefeito Paulo Butzge e de Carlos Rodrigues -, o evento começou com vídeos mostrados em um telão, apresentando depoimentos de pesquisadores estrangeiros sobre a paleontologia de Candelária. Inicialmente, foi destacado o renomado paleontólogo argentino José Bonaparte, que escreveu um livro destacando a importância dos cinodontes encontrados em Candelária como fósseis-chave na elucidação da história evolutiva dos mamíferos. Após, o público acompanhou depoimentos do também paleontólogo argentino Fernando Abdala e das professoras inglesas da Universidade de Bristol, Emily Rayfield e Pam Gill, igualmente enaltecendo a importância da fauna do triássico candelariense, especialmente no que se refere ao estudo dos cinodontes, reconhecidos como os mais próximos animais pré-históricos dos mamíferos. O evento seguiu sob a mediação de Carlos Rodrigues com a participação dos palestrantes. Inicialmente, o professor César Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), iniciou sua explanação, apresentando dados de uma pesquisa que fez na internet. Afirmou ter encontrado 11 mil páginas relacionadas ao Aqueduto e 33 mil sobre o Botucaraí. Já em relação à denominação Candelária fóssíl identificou 152 mil páginas na internet, resultado ilustrativo da importância da paleontologia local nos dias atuais. Schultz ainda falou a respeito dos períodos geológicos e a razão desses fósseis serem encontrados em Candelária. A seguir, a professora Marina Bento Soares, da UFRGS, salientou que o estudo das formas avançadas de cinodontes é de vital importância para a ciência em virtude da sua aproximação das características dos mamíferos. Conforme destacou, não existe no planeta um lugar com tanta variedade de cinodontes como Candelária. 

Diorama será atração do Museu Municipal
No evento ainda foi apresentado o diorama - um painel representativo - sobre a evolução dos cinodontes triássicos de Candelária. O trabalho foi elaborado pelo paleontólogo argentino Agustin Martinelli, em parceria com o Museu Municipal. Martinelli baseou sua explanação na Candepaleo no diorama, que ajuda a compreender a transformação dos animais na direção dos mamíferos. Trata-se de uma peça com apresentação artística tridimensional com 2,5 metros por 1,8 metros de altura, retratando 15 animais encontrados no município através de desenhos, crânios e esculturas (veja quadro). Segundo Carlos Rodrigues, o diorama será uma importante nova atração do Museu Municipal e será exposto no novo espaço para o qual o museu se mudará em breve. Na Candepaleo ainda foi destacado um histórico da paleontologia de Candelária, elaborado por Carlos Nunes Rodrigues, que pode ser lido na íntegra no site da Folha.

Os cinodontes de Candelária
Aleodon cromptoni (Bom Retiro) - Bonacynodon schultzi (Pinheiro) - Botucaraitherium belarminoi (Sesmaria do Pinhal) - Brasilodon quadrangulares (Sesmaria do Pinhal) - Candelariodon barberenai (Rincão do Simeão) - Charruodon tetracuspidatus (Sesmaria do Pinhal) - Chiniquodon theotonicus (Bom Retiro) - Exaereton riograndensis (Linha Bernardino) - Irajatherium hernandezi (Sesmaria do Pinhal) - Luangwa sudamericana (Pinheiro) - Massetognathus ochagaviae (Rincão do Simeão) - Riograndia guaibensis (Sesmaria do Pinhal) - Scalenodon riberoae (Rincão do Cedro) - Trucidocynodon riograndensis (Linha Bernardino) - Traversodontidae indet (Pinheiro)

Histórico da paleontologia de Candelária
Na década de 30, Llewellyn Ivor Price chefiou a chamada Harvard-Brazilian Expedition, em parceria com o DNPM do Rio de Janeiro, trazendo a pesquisa paleontológica, pela primeira vez, a Candelária. Chegaram à região do Pinheiro e, desde então, o nome do município começou a fazer parte das citações do meio científico, especialmente com o achado do holótipo do então desconhecido animal Candelaria barbouri, um pequeno réptil, que desencadeia nas próximas décadas o achado de dezenas de outros de diferentes espécies. Nessa expedição, foram coletados vários outros materiais depositados nas coleções de Harvard, nos EUA, e no Museu Nacional do Rio de Janeiro. 
A história tem novo marco na década de 70, quando o Padre Daniel Cargnin ampliou a descoberta de afloramentos no município, incluindo o Bom Retiro, retirando dali muitos fósseis, hoje depositados nas coleções da UFRGS, PUC e no museu de Mata. No final dos anos 70, início dos 80, entra em cena o cientista professor Mario Costa Barberena, que amplia o conhecimento de nosso território e desenvolve aqui, como na região, a paleontologia do triássico brasileiro, encerrando, por motivo de doença e consequente aposentadoria precoce, sua atuação em 2002. Em 1979, uma das descobertas mais marcantes da equipe do professor Barberena, às margens da RSC 287, corresponde aos restos de um novo dicinodonte, que até então só tinha um similar conhecido na Argentina. A descrição deste material foi publicada em 1981, sendo o mesmo denominado Jachaleria candelariensis.
Na década de 90 os afloramentos de Candelária continuaram sendo visitados por equipes da UFRGS, PUC, UNISINOS, UFSM e FZB. Esta última, nos trabalhos de campo relacionados ao projeto Pró-Guaíba, descobre, entre outros, o primeiro espécime do dinossauro Guaibasaurus candelariensis. Em 2002, a UFRGS, sob o comando do Professor César Schultz, inicia a parceria com a curadoria do Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues e temos um novo marco na história. Dá-se um grande salto, a partir do qual a paleontologia se confunde com a história do próprio Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, do seu corpo de Voluntários e com a imagem do Município com a adoção do mascote "Candino". Desde então, o número de afloramentos fossilíferos subiu para a casa das dezenas, e o número de animais inéditos aqui achados e descritos pela primeira vez, passa a ser expressivo e, juntamente com outros registros importantes, ultrapassam o número de 30 animais pré-históricos de espécimes diferentes.
Trabalhos científicos anunciando novas descobertas levam o nome de Candelária ao mundo científico, tornando citação obrigatória no estudo da formação dos dinossauros e dos mamíferos, contribuindo para afirmações da deriva continental com achados como Aleodon e Candelariodon, além de uma série de informações sobre a natureza no período triássico. A paleontologia hoje leva o nome de Candelária aos mais afastados rincões do planeta e traz a presença de pesquisadores das mais diversas partes, a conhecer nossas rochas e nosso acervo. Neste cantinho do Brasil, representamos o País na guarda dessa riqueza imensurável. Dignifica-nos aqui estarmos, e a responsabilidade pela proteção e o respeito, recai sobre todos os nossos ombros. 
(Por Carlos Nunes Rodirigues, curador do Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues)