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Rural 23/07/2021 09:28
Por: Odete Jochims

A tradição que aponta para o futuro

Agroindústria familiar garante viabilidade econômica para as novas gerações do campo

  • Entre as colinas do Alto Passa Sete, a cerca de 12 km do centro de Candelária, situa-se a Agroindústria Rodeio da Figueira
  • Maria Elisa Hennig e seu esposo Givanildo Vidal de Souza, responsáveis pela agroindústria Rodeio da Figueira

Podemos dizer que o colono, por ser um trabalhador do campo e pela sua trajetória de imigração e assentamento, possui uma ligação especial com a terra. Ou seja, a terra, além de local e insumo da sua lida cotidiana, também o conecta com a trajetória de seus antepassados. Estes largaram tudo o que tinham para atravessar o Oceano Atlântico e vir para cá fixar território. O chão de Candelária e região que muitas famílias do campo e pisam, pisaram seus pais, e os pais dos seus pais, e assim geração após geração.

As mesmas forças sociais que empurraram os antigos imigrantes europeus para cá, hoje levam muitos jovens da agricultura familiar para outros ofícios. Muitas vezes, as situações de trabalho se deterioram e a necessidade de buscar outro sustento se impõe. Outras vezes, o avanço da economia urbana cria atrativos, e o sonho de uma outra vida é o que leva ao abandono do campo. De qualquer forma, no contexto da agricultura familiar, a manutenção do vínculo à terra para as gerações vindouras é sempre um desafio presente, tanto do ponto de vista afetivo quanto econômico.

Uma forma de manter vivo este vínculo com a terra é a promoção de iniciativas que não descaracterizem o elemento familiar, mantendo-as atrativas para os mais jovens e, ao mesmo tempo, economicamente viáveis. Ao redor do estado, existem exemplos de propriedades familiares agregando valor a seus empreendimentos por meio do turismo histórico ou agroecológico, da produção orgânica de alimentos e, como veremos nesta matéria, da agroindústria familiar.

Entre as colinas do Alto Passa Sete, a cerca de 12 km do centro de Candelária, situa-se a Agroindústria Rodeio da Figueira. A denominação chama a atenção de quem chega, pois não há nenhuma figueira à vista. Há, ainda assim, uma razão por trás do nome: as paisagens, além de belas, carregam o peso da história. Afinal, a propriedade está na família desde 1830, e hoje se encontra na sétima geração. A localidade se situa nas cercanias da histórica Rota dos Tropeiros. Neste ponto, na beira da estrada, existia uma figueira onde os tropeiros costumavam repousar sob a sombra. Já nesta época, um dos pioneiros da terra, Frederico Welsch, vendia cachaça e melado para os transeuntes. Por isso, o local ficou conhecido como Rodeio da Figueira

PIONEIRISMO

A primeira agroindústria de melado legalizada do estado

Segundo Maria Elisa Hennig e seu esposo Givanildo Vidal de Souza, atualmente responsáveis pela agroindústria, a história do empreendimento tem início com os pais de Maria Elisa, em 1998. À época, o casal de agricultores Ari Arnaldo Hennig e Amélia Stoeckel Hennig decidiu abandonar o cultivo do fumo. Um dos motivos, dentre outros, era migrar para uma cultura que não dependesse tanto de agrotóxicos. Assim, focaram todas as suas energias na produção de melado batido, que tradicionalmente o casal produzia na época de inverno. De início, o processo era ainda bastante artesanal, mas a partir do ano 2000, com o auxílio da Emater, a família Hennig construiu a primeira agroindústria legalizada de melado do estado e a primeira agroindústria do município.

Com o crescimento do negócio, Givanildo e Maria Elisa abriram mão de suas atividades para ajudar na agroindústria no ano de 2007. Em 2008, contribuíram para a modernização da produção, substituindo o método mais rudimentar de fogo à lenha direto no tacho por outro que se utiliza de caldeiras a vapor. Dessa forma, a agroindústria passou a produzir mais que o dobro com o mesmo custo. Hoje, a Agroindústria Rodeio da Figueira completa 20 anos e leva sua produção, através de feiras ou encomendas, para diversas cidades do estado. “É um orgulho para nós termos conseguido chegar tão longe”, afirma Maria Elisa.

No entanto, a permanência da sétima geração, a de Maria Elisa, junto ao Rodeio da Figueira não era uma garantia. “Eu trabalhava na cidade, na farmácia”, explica Maria Elisa. “Se fosse como era antes, dificilmente teríamos ficado”, reflete ela. Dentre os benefícios de seguir no campo, Maria Elisa destaca o fato de estar mais livre dos compromissos. “Eu tenho uma filha, e assim pude aproveitar todo o tempo de infância dela”, disse Maria Elisa, “deu para curtir bem”. A agroindústria familiar viabilizou a permanência de Givanildo e Maria Elisa, mantendo a sétima geração na terra de seus antepassados. “A nossa geração está aqui”, afirma Givanildo, “o problema é a próxima