Logo Folha de Candelária
Região 09/08/2024 10:26
Por: Diego Foppa

Quinta foi marcada por “tratoraços” no estado

No trevo de Novo Cabrais, dezenas de produtores rurais estacionaram tratores na beira da RSC-287 para reivindicar termos mais favoráveis nas negociações com o governo federal

Na manhã de quinta, 8, dezenas de produtores de arroz e soja de Cerro Branco e Novo Cabrais se mobilizarama no trevo de acesso a Novo Cabrais, na RSC-287. Os agricultores dispuseram seus tratores e outras máquinas agrícolas à beira da rodovia para reivindicar mais medidas de apoio do governo federal ao setor, que foi dramaticamente afetado pelas enchentes de maio. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, que fez a segurança do local, não houve interrupção do tráfego. 

Uma das lideranças desta mobilização, Yuri Fernando Pfeifer, 24 anos, é produtor rural. Segundo ele, o protesto possui natureza ordeira e busca somar ao Movimento SOS Agro, que está convocando “tratoraços” no estado nesta quinta, 8. Na visão do jovem produtor, a situação do homem do campo na região é bastante difícil. “Nós, da agricultura, dependemos do clima. Viemos de três anos de seca, acumulando prejuízos, e este ano sofremos um baque com essa enchente. Tem muita gente que está aqui que não tem mais como plantar”, lamenta. 

Nesse momento, a percepção dos produtores é de que, apesar do governo federal ter feito acenos, a ajuda é insuficiente ou não está chegando na ponta. “O governo prometeu ajuda, mas não chegou na gente. Não chegou nos bancos, nas cooperativas de crédito. Estamos fazendo o movimento para que o dinheiro realmente chegue no produtor, para que possamos começar a plantar novamente. É importante que as pessoas tenham a noção de que o agro não apenas gira a economia, mas faz com que o alimento chegue à mesa das pessoas”, afirma.

No local, histórias de grandes prejuízos nas enchentes são lugar comum. Segundo Yuri, alguns pecuaristas que estavam ali perderam 80 cabeças de gado; outros tiveram perda significativa de colheitadeiras que custam cerca de R$ 500 mil. “Eu venho de família de agricultores, quero seguir nessa vida. Mas minha família investiu muito dinheiro na propriedade e, hoje, não conseguimos plantar. E agora, o que eu vou fazer? Para onde eu vou?”, desabafa. 

Produtores estiveram na capital

Na esteira dessas reivindicações, dezenas de produtores de Candelária, Cerro Branco e Novo Cabrais também estiveram presentes no ato do Movimento SOS Agro, em Porto Alegre. A saída se deu na madrugada desta quinta, 8, com o grupo se dividindo entre carros e ônibus. A concentração da manifestação se deu no Parque Harmonia, com diversos tratores atravessando avenidas importantes da capital gaúcha e sendo colocados na Orla do Guaíba. 
Ao longo do dia, aconteceram palestras, formações, discursos de autoridades, entre outros. No período da tarde, foi realizada uma caminhada até a superintendência do Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (MAPA) para entregar novamente a reinvindicação dos produtores. 
O MOVIMENTO - O SOS Agro RS é um movimento apartidário, mas apoiado por diversas entidades, como Farsul, Fetag, Ocergs,  Acergs, Federasul, entre outras. A principal bandeira até o momento é a defesa da proposta que aumentaria o prazo do pagamento das dívidas para 15 anos, apresentando dois anos de carência e 3% de juros ao ano.  O primeiro encontro de produtores sob essa bandeira havia sido em Cachoeira do Sul, no dia 4 de julho, contando com aproximadamente 4 mil pessoas. No dia 19 de julho, cerca de 10 mil produtores rurais se reuniram no Parque da Expoagro Afubra, em Rincão del Rei. E agora, esta manifestação em diversas cidades e na capital gaúcha.
MEDIDA PROVISÓRIA – No dia 31 de julho, o texto de uma Medida Provisória (MP) sobre a renegociação de dívidas para produtores atingidos pela enchente foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União. Em linhas gerais, a MP indica a possibilidade de desconto das dívidas de maneira proporcional aos danos sofridos pelo produtor na enchente. Contudo, a MP foi considerada insuficiente por muitos. A Farsul, por exemplo, publicou nota no dia 2 de agosto criticando o foco exclusivo nas enchentes de maio, alegando ter um acúmulo de intempéries climáticas (como as estiagens) que não estão abarcadas. A existência de uma burocracia excessiva para acessar estes recursos também é alvo de críticas.