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Região 12/04/2024 15:23
Por: Odete Jochims

Desfazendo mitos sobre o solo

Na segunda-feira, 15 de abril, é o Dia Nacional de Conservação do Solo. Com os temas sobre preservação da terra em evidência, buscamos o conhecimento de um especialista para explicar o que é verdade e o que é mito em relação à produção do eucalipto, espécie exótica às vezes acusada de secar o solo e prejudicar o desenvolvimento das espécies nativas. O engenheiro florestal Jorge Antônio de Farias, professor-doutor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), esclarece porquê a produção florestal não causa danos ambientais e mostra que pode ser uma fonte de diversificação de renda para as pequenas propriedades rurais. Leia a entrevista:

O agro tem uma série de mitos e o plantio de eucaliptos não passa ileso. Muitos produtores ainda acreditam se tratar de uma espécie que resseca o solo. Por que esse ainda é um mito tão difundido? Qual a verdade sobre isso?

Jorge Antônio de Farias: Essa questão dos mitos em torno das florestas plantadas, especialmente de eucaliptos, é histórica. O principal deles é que o eucalipto seca o solo, consome água, enfim, de que a gente não deve plantar porque vai acabar a água. Isso é uma lenda e não procede de forma alguma. O que acontece é que o eucalipto é uma espécie de rápido crescimento e, como qualquer organismo vivo que cresça rápido, ele precisa se alimentar e beber na velocidade do seu crescimento. Então, se houver disponibilidade de água originária das chuvas, o eucalipto vai crescer muito rápido. Se houver uma seca, o eucalipto vai parar de crescer, como qualquer planta faz. O eucalipto absorve do solo a água necessária para o seu crescimento, aliás, nada de diferente de qualquer outra planta. Se a gente olhar o solo, se vê que tem espaços vazios entre as partículas de terra que são preenchidos de água da chuva. E é essa água dentro do solo que todas as plantas utilizam para o seu crescimento. Então, dizer que se plantar eucalipto na beira do rio ou do açude vai secar a água, é pura mentira. A prova é que se andarmos no interior, a gente vê vários açudes cercados de eucaliptos e o açude não seca. Outra coisa, se o eucalipto comprometesse o fluxo hídrico, haveria alguma evidência, vídeo ou documentário mostrando que determinado arroio secou por esse motivo.

Existem outros mitos sobre o tema que precisam ser desfeitos?

Jorge Antônio de Farias: Com certeza. Além da água, outro mito é de que as espécies de rápido crescimento como o pinus, o eucalipto e a acácia, são tão ruins que não permitem o crescimento de outras plantas. Essa é outra mentira terrível. O que acontece é que quando se tem um monocultivo, mesmas árvores crescendo juntas e próximas uma da outra, pouca luz chega ao solo para permitir a germinação. Esse é o motivo, não é a árvore que largaria uma substância que inibe a presença de outras plantas. É a falta de luz porque as plantas são plantadas muito perto. Tanto é que quando a gente faz um raleio, tanto numa floresta de pinus como de eucaliptos, o sub-bosque formado pela vegetação nativa aparece. Outra questão importante em relação a isso é a existência de matas nativas próximas para que joguem sementes para dentro do bosque de eucaliptos. E, também, é só andarmos pelo interior, que encontramos muitas florestas de eucaliptos cheias de espécies nativas.

A produção de espécies exóticas pode significar bons negócios para o produtor rural? O que eles precisam observar ao optar pela produção florestal?

Jorge Antônio de Farias: Nós não temos alternativas a não ser plantar florestas. A legislação inibe e o mercado não consome mais produtos florestais de floresta natural, como araucária, canela, cedro e loro. Então, partindo desse pressuposto de que só temos essas espécies de rápido crescimento para fornecer o que se precisa, vai ser sempre um bom negócio plantar floresta com espécies de rápido crescimento. No contexto do nosso pequeno agricultor, da agricultura familiar, especialmente aquele que cultiva tabaco, o negócio da lenha vai ser sempre bom. Temos feito vários estudos na Universidade Federal de Santa Maria e por outras entidades que atuam no setor e as pesquisas têm apontado a necessidade sempre presente de fornecedores de lenha para a cadeia produtiva do tabaco. Então, a lenha é um componente importante nesse cenário de geração de renda, de diversificação e segurança financeira. Acredito que o produtor pode tranquilamente pensar em investir nisso como uma renda complementar. Na minha opinião, o produtor familiar deve optar por eucaliptos porque a espécie é pau para toda obra e dela se tira lenha, vara, escora e madeira para serraria. Se o preço está ruim, o eucalipto não vai morrer e pode continuar crescendo mais alguns anos. Já com relação á acácia negra, por exemplo, ela tem uso limitado, só se consegue fazer lenha e carvão, e começa a morrer com sete anos. E com o pinus é a mesma coisa, além de demorar muitos mais para crescer, não tem os mesmos preços que o eucalipto e é usado só em serrarias, que tem um mercado restrito. Então, a minha aposta, com segurança, é que plante eucaliptos.

O projeto Ações pela Sustentabilidade Florestal na Cultura do Tabaco já tem apontado para algumas conclusões? Quais?

Jorge Antônio de Farias: Esse programa da UFSM e SindiTabaco já tem apontado para conclusões muito importantes. A primeira é que a lenha vai continuar sendo um bom negócio para o agricultor familiar que está perto ou inserido na cadeia do tabaco. A outra questão é específica para o agricultor familiar que cultiva tabaco e trouxe importantes resultados, por exemplo, na orientação sobre a melhor espécie a ser implantada, com materiais demonstrando aos produtores a necessidade de como plantar melhor, com mais distância, controlar a matocompetição, como fazer controle de formigas e outros manejos. E já temos resultados em relação ao aumento da área e a produtividade das florestas plantadas já são indicativos de que este programa está caminhando na direção certa.

Para o produtor de tabaco, além de lenha, quais outras vantagens podem ser obtidas com o cultivo dos eucaliptos?

Jorge Antônio de Farias: As vantagens dependem muito de onde o produtor está. Se ele estiver próximo a grandes centros consumidores, vender madeira para serrarias pode ser um mercado bastante promissor. Porém, acredito que a demanda da lenha dá mais segurança, mais estabilidade, é um mercado que todos os agricultores conhecem e sabem se está bom, alto ou baixo. Se o produtor não domina o mercado de madeira para serrarias, ele corre um sério risco de acabar comercializando mal a sua floresta. Para ser um bom negócio para serrarias, os produtores precisariam estar organizados em torno de uma entidade que desse suporte para eles poderem entrar nesse mercado com segurança e garantir o retorno do investimento feito.