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Colunista 11/02/2019 08:41
Por: Ângelo Savi

A reforma da Câmara e a lei do plantão das farmácias

Acordei enfezado hoje. Resolvi entrar com uma ação contra o absurdo rodízio de farmácias que foi instituído em Candelária. Para quem é de fora e não sabe do que se trata: cada semana uma farmácia fica de plantão, sendo proibida a abertura de todas as outras. Assim, a plantonista tem uma semana de monopólio. Não interessa se as pessoas têm a preferência por comprar noutra farmácia, se o preço da que estiver aberta é maior, nada disto. É a velha tradição brasileira de fazer leis para beneficiar minorias, no caso as farmácias. E a maioria que se dane. Toda esta bronca é porque o meu netinho, que tem um ano, consome um suplemento ou composto alimentar infantil. Obviamente, o suplemento sempre termina quando já passou das oito horas da noite, que é quando começa o plantão, e justamente a farmácia que está aberta é a que não tem o suplemento. E aí o que se faz? Nada. Não tem como comprar e acabou. É preciso esperar até o dia seguinte para comprá-lo no horário comercial. E aí o guri fica berrando de fome, porque é justamente quando falta que ele só aceita comer o maldito composto e nada mais.

Foi com a alma cheia de pensamentos hostis contra as farmácias que fui trabalhar e passei pela Câmara Municipal que foi reformada. Está bem bonita, por sinal. Mas qual é o sentido em gastar com o prédio da Câmara de Vereadores se há tantas outras coisas mais importantes e necessárias que não são feitas? Eu sei que a Câmara tem orçamento próprio e que o dinheiro que recebe não é destinado à realização de obras nem pagamento de serviços públicos e blá, blá, blá. Mas e daí? Não é o Município nem a Câmara quem paga TODOS os gastos. Somos nós. E eu, como pagador, não quero gastar meu rico dinheirinho em obra para Câmara. Aliás, não quero que o governo gaste MEU dinheiro em nada. Quero eu mesmo gastá-lo.

Já estou ouvindo a reação dizer que a Câmara tem que ter um local adequado e digno para que possa prestar seus serviços, que é a casa do povo e outras baboseiras de costume. Vamos fazer uma experiência mental: o pagamento da reforma na Câmara é facultativo, quem achar que é indispensável para o bem de todos que contribua voluntariamente. Sabe quem vai contribuir? Ninguém, nem os vereadores. Esta experiência já foi feita e comprovou o que eu estou dizendo. Em 2013 o governo de centro direita da Noruega reduziu impostos para compensar uma recessão que o país estava atravessando. Recessão na Noruega é o seguinte: eles ficam só ricos, ao contrário do que acontece normalmente, que é serem muito, muito, muito ricos. Mas mesmo assim cortaram impostos, que eles não são bobos nem nada e queriam voltar a ser muito, muito, muito ricos. O corte foi fortemente criticado, principalmente pela oposição de esquerda, que veio com a cantilena de sempre, que os mais pobres seriam prejudicados, que faltaria dinheiro para as “políticas sociais” e por aí vai. A resposta do governo foi a de criar um imposto facultativo para que aqueles que discordavam do corte pudessem contribuir voluntariamente. Adivinha o que aconteceu? Ninguém pagou. Nem os esquerdistas que tanto criticavam. Nem o líder da oposição.

Pois é. Na riquíssima Noruega eles cortam impostos quando a economia vai um pouquinho mal. No Brasil, quando há um desemprego permanente, o dinheiro se desvaloriza o tempo todo (a propósito, esta história de inflação de 3 ou 4% ao ano é balela), quando mais e mais empresas são fechadas, quando o Rio Grande do Sul está quebrado a União acumula dívidas e mais dívidas bilionárias ou trilionárias e o município permanentemente não faz nem uma pequena fração do que deveria, o prédio da Câmara de Vereadores é reformado. Para que? Para promulgar leis idiotas, como a que privilegiou as farmácias.