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Rural 06/06/2025 11:21
Por: Odete Jochims

Produtores pedem securitização das dívidas

  • Djalmo Dumke
  • Adalton Siqueira
  Epicentro nacional das mudanças climáticas, o Rio Grande do Sul tem vivido uma cruel sequência de perdas nos últimos anos. Desde 2018, o Estado passou por quatro secas e uma enchente, em maio de 2024, que atingingiu 90% do território gaúcho. Com isso, desde o dia 19 de maio, manifestações estão sendo registradas em diversos municípios do Estado. Na última sexta, 30, Candelária se somou a estas cidades e deu início a um ato pacífico. Contanto com o apoio de autoridades municipais e representantes de entidades e empresas locais, os produtores se reuniram no trevo do Lago Azul, nas margens da RSC287, para mostrar descontentamento com a situação enfrentada pela classe. Em alguns momentos, o trânsito chegou a ser bloqueado por alguns minutos nos dois sentidos. Na última semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a prorrogação das dívidas por até três anos. A resolução autoriza as instituições a renegociarem as operações de crédito rural de custeio contratadas pelo Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e pelos demais produtores rurais. O prazo para pagamento pode ocorrer em até três anos. Já as parcelas de investimento com vencimento em 2025 podem ser prolongadas para até um ano depois do vencimento contratual. Contudo, na avaliação dos produtores, a oferta da CMN não soluciona os problemas da classe, afetada pela estiagem e as enchentes nos últimos cinco anos. O agricultor e engenheiro agrônomo Adalton Siqueira, enfatiza que a normativa atinge poucos produtores. “Existe um passivo acumulado dos últimos cinco anos. Além do acumulo de prejuízos, o preço da soja e arroz vem caindo. Muitos produtores estão com dificuldade em acessar crédito e, consequentemente, com dificuldade em continuar plantando”, comenta. Na visão de Adalton, a situação deve impactar diretamente o consumidor. “Se houver uma redução de produtores, haverá menos alimento. A consequência disso será o aumento do preço do alimento do comércio de maneira geral”, complementa.

     NINGUÉM QUER NADA GRÁTIS, AFIRMA PRODUTOR 
 Na segunda, 2, e na quarta,4, os participantes realizaram um tratoraço no Centro. O movimento mobilizou centenas de pessoas. Entre os participantes estava o agricultor Djalmo Dumke. Em entrevista para a reportagem da Folha, ele salientou que a manifestação tem objetivo de conscientizar a população e explicar o que é a securitização. “O que os agricultores querem é alongar os prazos para o pagamento das dívidas, pois a carga está muito grande. Ninguém quer nada grátis. Estamos lutando para permanecer na atividade”, afirma. Ainda de acordo com Dumke, os agricultores não estão conseguindo absorver a queda no preço do produto e a taxa de juros. “O produtor acaba se endividando cada vez mais. Com isso, se desenhou a necessidade desse cronograma de pagamento”, finalizou.
 
FANTASMA DO ENDIVIDAMENTO 
Na prática, os agricultores pedem apoio ao projeto de lei 320/2025, de autoria do senador Luís Carlos Heinze (Progressistas), que defende a securitização e a prorrogação das dívidas. Segundo o projeto, os produtores teriam até 20 anos para pagar as dívidas securitizadas, incluindo um período de três anos de carência. A taxa de juros, com capitalização anual, iria variar de acordo com o perfil do produtor. Além disso, a PL prevê uma linha de crédito especial para recuperação do solo e implantação mentos, o trânsito chegou a ser bloqueado por alguns minutos nos dois sentidos. Na última semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a prorrogação das dívidas por até três anos. A resolução autoriza as instituições a renegociarem as operações de crédito rural de custeio contratadas pelo Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e pelos demais produtores rurais. O prazo para pagamento pode ocorrer em até três anos. Já as parcelas de investimento com vencimento em 2025 podem ser prolongadas para até um ano depois do vencimento contratual. Contudo, na avaliação dos produtores, a oferta da CMN não soluciona os problemas da classe, afetada pela estiagem e as enchentes nos últimos cinco anos. O agricultor e engenheiro agrônomo Adalton Siqueira, enfatiza que a normativa atinge poucos produtores. “Existe um passivo acumulado dos últimos cinco anos. Além do acumulo de prejuízos, o preço da soja e arroz vem caindo. Muitos produtores estão com dificuldade em acessar crédito e, consequentemente, com dificuldade em continuar plantando”, comenta. Na visão de Adalton, a situação deve impactar diretamente o consumidor. “Se houver uma redução de produtores, haverá menos alimento. A consequência disso será o aumento do preço do alimento do comércio de maneira geral”, complementa. de programas de irrigação. O levantamento mais recente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) indica que as dívidas dos agricultores gaúchos somam R$ 72,81 bilhões. A cifra considera valores já renegociados anteriormente (R$ 22,28 bilhões) e os não renegociados, que venceram ou estão por vencer em 2025 (R$ 50,53 bilhões). Mais que o montante em si, preocupa o perfil de produtores endividados. A maior parte (R$ 32,04 bilhões) se refere a crédito tomado pelos chamados "demais produtores", ou seja, que não se encaixam no Pronaf (R$ 24,36 bilhões) e nem no Pronamp (R$ 16,41 bilhões), que são programas de fomento à atividade. São agricultores sem acesso a recursos subsidiados, e, portanto, mais suscetíveis ao rombo financeiro gerado pelo acúmulo de dívidas. Conforme o levantamento, as perdas na produção agrícola do RS entre 2020 e 2024 totalizam 50 milhões de toneladas de grãos, o que representa um prejuízo direto de R$ 106,6 bilhões para os produtores do Estado.