Por: Odete Jochims
Inspiração: Dona Olga, uma história de vida em prol da causa animal
A professora aposentada se dedica ativamente ao cuidado de cães e gatos desamparados há pelo menos 22 anos
Um trabalho feito com muito afinco, paixão, mas sem muito alarde. Assim pode ser definida a atuação de Olga Maria Lenz, professora aposentada de 74 anos, no cuidado com os animais. Há 22 anos trabalhando ativamente na causa animal, Dona Olga já perdeu a conta de quantos animais passaram pela sua mão. Hoje, ela cuida de cerca de 100 cães e gatos, todos eles recolhidos da rua ou de situação de maus-tratos. Sua rotina começa cedo, por volta das 6 da manhã, e às vezes, em razão de demandas adicionais dos bichinhos, termina por volta da meia-noite.
Dona Olga conta que sua relação especial com os animais vem da sua infância. “Desde criança, eu sempre fui muito apegada aos animais. A alegria que eu sinto ao acolher um animalzinho que, muitas vezes, está quase morrendo e poder salvá-lo é indescritível”, explica. A partir do ano 2000, o que era uma relação especial, passou a ser efetivamente uma causa a qual dedicaria o resto da sua vida. “Por volta dessa época, uma turma se reuniu para trabalhar em defesa dos animais. Com o tempo, uns saíram, outros foram embora, e eu fui ficando”, lembra a professora.
Ao longo dos anos, Dona Olga contou com a colaboração de vários veterinários, voluntários e outros profissionais que contribuíram neste trabalho. No entanto, ela não chegou a ter um auxílio permanente, seja financeiro, seja de pessoal. “Algumas pessoas colaboravam com mensalidades para comprar um pouco de ração ou alguma medicação e nós fomos levando. Hoje, algumas voluntárias trabalham comigo e me auxiliam na rotina de cuidado e limpeza”, enfatiza.
Com frequência, pessoas que conhecem o trabalho desenvolvido por Dona Olga e seus voluntários se aproveitam da sua dedicação para esbanjarem irresponsabilidade. Não foram poucas as vezes que a professora aposentada encontrou animais abandonados em frente à sua casa. “Uma vez, eu tinha ido para o interior e deixei um rapaz em casa para limpar o pátio. Quando eu cheguei, eu me deparei com um cachorro diferente. Eu disse ao rapaz: 'ué, tu trouxeste o teu cachorro junto?'. Ele disse: 'não , Dona Olga; parou um caminhão, desceram com esse cachorro e amarraram no portão'. As pessoas se desfazem dos animaizinhos como se estivessem se desfazendo de uma coisa velha, de um objeto", conta a professora, com indignação.
Este cãozinho em específico, abandonado pelo caminhão, construiu uma bela história com Dona Olga. De acordo com ela, o cachorro era, em um primeiro momento, muito revoltado. Com o tempo, e muitas conversas e brincadeiras depois, ele se revelou um companheiro maravilhoso. “Infelizmente, ano passado ele desenvolveu um câncer. Em abril, eu o levei para fazer uma cirurgia em Santa Cruz do Sul, mas ele acabou não conseguindo se recuperar e, em novembro, veio a falecer”, lamenta Dona Olga.
Em certo ponto da conversa, Dona Olga pausou por um instante e respirou fundo. “A minha maior preocupação é o dia que eu não estiver mais aqui. Será que haverá alguém que se disponha a continuar este trabalho?”. Um momento de silêncio se seguiu ao questionamento. Neste meio, é muito comum ouvirmos falar a respeito da causa animal, mas poucas pessoas dão peso à palavra ‘causa’ como Dona Olga. Assim como a causa da justiça, da igualdade, entre tantas outras, não se resumem à autopromoção, todas as causas nobres não se encerram no intervalo de uma vida humana. E Dona Olga, como alguém que se entregou de corpo e alma para a defesa dos animais, tem plena consciência disso.
Por : Arthur Lersch Mallmann