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Geral 19/06/2020 15:17
Por: Redação

Efeitos da pandemia: se reinventando na crise

Durante a crise do coronavírus, muitas pessoas perderam a renda ou, até mesmo, o emprego. Porém, ao invés de ficarem desanimadas, escolheram se reinventar

  • Marley: “foi um despertar”
  • Paulo: mais fortalecidos e unidos
  • Taís: aprender a viver em uma nova normalidade
  • Nelci: “o vírus igualou a todos”

A decoradora que se redescobriu como profissional e ser humano

Marley Cristina Rohr, 36 anos, trabalha há oito anos na decoração de festas e, com a pandemia, praticamente parou suas atividades. Ela conta saber que uma das características do empreendedorismo é a incerteza do negócio. No entanto, confessa ter entrado em pânico quando em um único dia teve 12 eventos adiados. “Foram dois dias de choro”, admite. Mas, no terceiro dia, Marley conta ter feito uma reflexão. “Parei e precisei me autoconhecer novamente, me questionar: o que eu poderia fazer? Que habilidades eu tenho além de decorar festas?”. Ela conta que foi um momento de redescoberta pessoal. Através de uma “vaquinha” com os amigos, ajudou a confeccionar máscaras para doação. Depois, seguiu confeccionando máscaras para venda e logo recebeu muitas encomendas. A atividade acabou envolvendo toda a família. Depois, as encomendas diminuíram e precisou novamente se reinventar. Não se acomodou e começou a pesquisar, atrás de novas ideías. E, assim, surgiu a decoração delivery para não passar em branco as comemorações em casa. Começou a fazer balões personalizados, divulgados através das redes sociais. “A encomenda é feita sem o cliente sair de casa”, destacou Marley, que disse que a entrega é feita com todos os cuidados exigidos. A ideia, iniciada com a aproximação do Dia das Mães, teve uma grande aceitação e, sem demora, Marley criou outras opções, como o balão box maternidade, o balão box aniversário e o balão box namorados, que são cestas decoradas com flores, presentes e balão. “Fui criando conforme os pedidos iam chegando, pois comemorar um momento especial pode ser em casa sim; simples, mas bonito, e, desde então, me reinvento a cada semana, procurando algo novo para fazer”, completou.

As lições – O aprendizado maior para o momento difícil da pandemia para Marley foi justamente o autoconhecimento. “Me redescobri como ser humano, que sou capaz, que tenho e preciso ter coragem para enfrentar as dificuldades; foi um despertar”, ressaltou. Ela agradeceu a Deus pela saúde e a cada cliente que acreditou no seu trabalho. Por fim, Marley deixa uma mensagem de esperança. “A tempestade vai passar para que possamos sair melhores”.

O motorista de transporte escolar que virou pedreiro

O agricultor Paulo Andreso dos Santos, de 40 anos, da Picada Escura, há cinco anos começou a trabalhar como motorista do transporte escolar. Mas, a chegada da Covid-19 paralisou as aulas e o deixou sem trabalho. Para piorar, a filha que trabalhava como secretária, também perdeu o emprego, e a esposa professora, admitida por processo seletivo, teve o contrato suspenso pela Prefeitura. “Aí me vi em uma situação complicada”, enfatizou. Diante da necessidade da família, Paulo ressalta ter também precisado se reinventar como profissional, passando a trabalhar em construção civil como pedreiro. “Foi assim, de uma forma totalmente diferente, que consegui ter uma renda para sobreviver honestamente”, registrou.

As lições – Para Paulo, o principal ensinamento desta pandemia é a persistência. “É nessa hora que temos que provar que somos capazes, pois o que está acontecendo com todos, nos afeta também individualmente em nossas vidas”, pontuou. Ele acredita que cada pessoa precisa se descobrir capaz de mudar, o que exige tranquilidade, paciência e muita força de vontade. “Eu acredito que depois que tudo isso passar estaremos mais fortalecidos e mais unidos, pois não há mal que dure para sempre; temos que confiar, acreditar e nunca desistir”, finalizou.

A bancária que virou consultora financeira

A ex-princesa do município, Taís Angélica Knies, de 29 anos, após oito anos trabalhando como bancária, não se sentia realizada profissionalmente. Decidiu então empreender e iniciar um negócio próprio como consultora financeira. Segundo explicou, a atividade serve para as pessoas que querem ter uma vida financeira organizada e, assim, conseguir alcançar seus objetivos e sonhos. Porém, poucos dias após iniciar a nova atividade, tudo parou em função da pandemia. E com o vírus, veio o medo duplo: um pela saúde e outro pelo aspecto financeiro. Mas Taís não desanimou. Seguiu atendendo uma única pessoa, agradecendo a esse cliente pela confiança no seu trabalho. A crise se estendeu e ela percebeu que muitas pessoas precisavam de ajuda, mas não podiam contratá-la. Consciente de que todo início é difícil, ela continuou, confiante de que toda crise passa e com essa não será diferente. “A Covid-19 afetou tudo e a todos. Porém, é nesse momento que precisamos nos reinventar, oferecendo algo diferente, que ajude as pessoas a continuar nesse novo normal”, ressaltou.

As lições – Taís acredita que a pandemia irá deixar ensinamentos. “Nos ensinou que temos que cuidar muito da nossa saúde, nos mostrou a importância de um abraço, do aperto de mão, mas também nos mostrou que precisamos estar preparados financeiramente para esses momentos de total imprevisto, ter uma reserva financeira, pois, infelizmente, as crises acontecem. Acredito que ninguém sairá igual ao final dela. Vamos todos aprender algo e que seja algo bom”, concluiu.

De cozinheira desempregada a vendedora de “quentinhas”

A cozinheira e agora empreendedora do ramo culinário Nelci de Oliveira, de 42 anos, trabalhava em um restaurante da cidade quando perdeu o emprego como reflexo da pandemia. Conta ter ficado 40 dias em casa, analisando o que fazer. Lembrou então ter ouvido de seu ex-patrão, André Jahnke, da Loja Cromo, contar certo dia que quando abriu sua loja, as vezes não entrava ninguém, mas, mesmo assim, nunca desistiu. Esse relato lhe serviu de estímulo. Lembrou também dos ensinamentos do pai e da mãe. “Com eles aprendi que nada na vida é fácil, que nada cai do céu e que não é feio trabalhar”, salientou. Nelci já trabalhou como caixa de supermercado e em uma fábrica, mas diz que se realiza mesmo na cozinha. “Montar um prato e fazer uma comida gostosa que a gente gostaria de comer é muito bom e as pessoas comerem e gostar da tua comida é melhor ainda”, explicou. A partir dessa vocação, decidiu iniciar um negócio de venda de “quentinhas”. No entanto, além da insegurança, tinha apenas R$ 180,00 que guardara para uma emergência. Usou o dinheiro para comprar o que precisava e, já no primeiro dia, conseguiu vender seu produto para alguns clientes. “Meti a cara e deu certo. Aprendi no dia a dia a fazer só o necessário de comida, a vender e fazer as coisas como tem que ser. E cada elogio me dava muito incentivo e força para continuar fazendo”, acresentou. E, dessa forma, de cozinheira desempregada, Nelci se transformou em uma bem sucedida vendedora de “quentinhas”, responsável pela NP Quentinhas.

As lições – Para Nelci, a pandemia do coronavírus trouxe várias lições. Uma das mais evidentes é que todas as pessoas estão no mesmo barco, sejam ricos ou pobres, morando numa mansão ou numa casa pequena. “O vírus igualou todo mundo”, destacou. Ela salienta ter aprendido também nesta pandemia que existem pessoas boas, que o ser humano consegue sim ser bom. Como exemplo de ser humano, por quem tem o maior carinho e gratidão pelo incentivo que lhe deu, Nelci cita a professora Denise Ellwanger. “Quando tudo isso passar, a Denise é uma das pessoas que quero abraçar muito”, prometeu com a ênfase sincera de quem se mostra muito agradecida. Por fim, Nelci ainda deixou uma frase de incentivo a todas as mulheres: “Mulher que nasceu para enfrentar tempestades, não se curva a qualquer ventinho”.