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Geral 01/11/2019 14:49
Por: Luciano Mallmann

2 de Novembro: o que podemos fazer pelos mortos?

Desde os períodos mais remotos da civilização existe o hábito de prestar homenagens aos mortos. Pesquisas revelaram que em determinadas tribos as pessoas que morriam eram enterradas juntamente com seus pertences mais pessoais, hábito que teve diversas interpretações, sendo uma delas a crença de que a pessoa morta fosse precisar fazer uso desses objetos numa suposta outra vida. Já a origem do Dia de Finados está ligada ao Halloween, o Dia das Bruxas, no dia 31 de outubro. A Igreja Católica sempre foi contrária a essa manifestação clara de paganismo e não aceitava que seus adeptos cultuassem bruxas e outras entidades fantásticas. Com o objetivo de atenuar os efeitos dessa tradição nos países do norte europeu, a Igreja instituiu o Dia de Todos os Santos, lembrado no dia 1º de novembro, data para reverenciar todos aqueles que tinham passado pela canonização e sido santificados. Porém, essa data religiosa trouxe um desconforto, pelo fato de não haver um dia que homenageasse os outros mortos, não canonizados. E assim se instituiu o 2 de novembro como o Dia de Finados, para reverenciar a memória de todos aqueles entes queridos não lembrados no Dia de Todos os Santos.

 Desde a consolidação do Dia de Finados, tornaram-se comuns hábitos como acender velas para os mortos e levar flores aos seus túmulos, além de limpar as sepulturas como sinal de que os que partiram não foram esquecidos. Outro costume comum, no dia dedicado aos mortos, é fazer orações diante de suas sepulturas. O que muitas vezes passa ignorado é o significado de tais homenagens, como as flores, por exemplo. Ao mesmo tempo em que os ciprestes, árvores comuns em cemitérios, são símbolos da imortalidade, as flores, pela curta duração de sua beleza antes de murchar, tornaram-se símbolo da brevidade da vida. Esse é um aspecto que deveria ser observado antes de tudo pelos vivos, em vez de destiná-las aos mortos, para quem a vida já não existe. Nesse sentido, uma pessoa que toma em mãos um ramo de flores e se coloca diante da sepultura de um ente querido estabelece um elo com a memória daqueles que partiram, demonstrando-lhes que, diante da inevitabilidade da morte de pessoas amadas, lições preciosas foram assimiladas e, tal como a flor de um dia, irá aproveitar seu tempo de vida. O outro aspecto está em enfeitar os túmulos dos entes queridos com o que existe de mais belo na natureza e que, como a vida, é passageiro.

Respostas variam conforme as crenças

A pergunta que fica é o que mais se pode fazer pelos mortos, além do que já se fez no tempo em que eles eram vivos. As respostas variam de acordo com a crença de cada um. Para os católicos, é possível encomendar missas em intenção das almas. Já o espiritismo aconselha reverenciar sempre, de forma constante, a memória dos que se foram e desejar que trilhem caminhos de luz, rumo a uma evolução que, segundo sua crença, passaria por vários estágios, visando um estado de esclarecimento e de iluminação. 

De acordo com muitos outros, nada mais se pode fazer pelos mortos - embora isso não seja necessariamente o fim. Para entender esse comportamento, é preciso compreender o fato de que um ser humano jamais é filho de um homem apenas, mas de mil homens, como às vezes se costuma dizer. Isso se compreende quando se observa do que é feita a personalidade de cada pessoa, cujo caráter é formado pelas características das mais diversas pessoas, e não apenas do pai e da mãe. São pequenos hábitos, opiniões, posturas diante da vida, que, reunidos, moldam um ser humano. Desse modo, os caracteres humanos são às vezes comparados a colchas de retalhos. Herdam-se características das mais diversas pessoas, e de todas elas se é devedor. Levando isso em consideração, alguém pode, por exemplo, almoçar num restaurante. Enquanto faz o seu prato, a pessoa traz à mente todos os ensinamentos aprendidos, por exemplo, com aquela que a trouxe durante nove meses no ventre e a educou. De posse dessas lembranças, lembra que a mãe, antes de partir, lhe ensinou que, para formar uma refeição saudável, é preciso colocar ao menos três cores no prato. Respeitar esse ensinamento é uma maneira de estar em companhia, mesmo que a pessoa já tenha partido. Outra forma é ouvir uma música de que a pessoa falecida gostava. Vendo desse modo, percebe-se que, pelos mortos, de fato nada mais se pode fazer, mas sim com os mortos - a espiritualidade se esconde nas preposições. Todavia, pela força do hábito, sempre se entenderá os que preferem levar flores.

CEMITÉRIO - Em função do Dia de Finados, uma equipe da Secretaria Municipal de Obras trabalhou no Cemitério Municipal, que recebeu pinturas externas e internas, além de limpeza e roçada.