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Geral 28/09/2020 04:06
Por: Luciano Mallmann

Iria Faber: mensagem e agradecimento pela passagem do Dia da Árvore

Desde sempre preocupada com o futuro do planeta, candelariense se notabiliza pela atividade em defesa do meio ambiente

Embora o Dia da Árvore já tenha passado, o assunto ainda está longe de ser esgotado. Em tempos em que as queimadas colocam em risco tantas áreas vitais para o meio ambiente no Brasil e no mundo, falar a respeito se coloca como um imperativo, obrigatório, assim como tantos outros. E, ainda a respeito do Dia da Árvore, a impressão é de que, enquanto não se mencionou a pessoa e o trabalho de Iria Faber, sempre ficará faltando algo sobre o tema.

Ela era ainda uma menina quando passou a ver o mundo à sua volta com duas raras características: o instinto de proteção e o espírito de liderança. Numa idade em que a maior parte das meninas de sua geração desenvolvia o instinto maternal através de brinquedos, como as usuais bonecas, Iria Faber se habituou a dirigir seu olhar e seus cuidados a seres desde então muito mais indefesos e carentes de atenção, como os pequenos animais e, com especial devoção, as plantas e as árvores. O fervor quase religioso com que via a natureza e o meio ambiente nunca foi tomado como uma excentricidade, pois desde muito cedo, de modo extremamente precoce, ela viu nisso uma missão de vida. Nesse aspecto, o já mencionado espírito de liderança e a capacidade de fazer as pessoas em sua volta enxergarem o mundo através de seu próprio olhar exerceram um papel que teria consequências diretas sobre sua vida. E também na vida de inúmeras outras pessoas, próximas ou não.

Quem conheceu Iria Faber ao longo de sua trajetória teve a oportunidade de testemunhar o sentimento de urgência que caracterizou o modo como ela, desde sempre, percebeu os rumos que o planeta tomava, como, por exemplo, os abusos contra o meio ambiente cometidos pelo ser humano em sua passagem pela terra. Diante disso, ela resolveu fazer algo. Hoje, sua participação na criação do Horto Medicinal Girassol é apenas um dos muitos exemplos. Além disso, Iria soube aproveitar muito bem sua capacidade de agregar pessoas em torno de si e levá-las a pensar como ela, criando o projeto Planeta Vivo, responsável pela distribuição de incontáveis mudas de árvores em toda Candelária. Se hoje o município está mais verde, isso se deve em grande parte ao seu trabalho e abnegação – bem como a todos que, ao seu lado, abraçaram esse imenso desafio.

O casamento com Ênio Faber e o nascimento de Elisabeth, Liselote, Eliseu Paulo e Juliana, se por um lado possibilitaram a Iria o desenvolvimento de um instinto materno de modo mais específico e direto, por outro aumentou o sentimento de urgência em relação aos cuidados com o meio ambiente. Pois era o futuro dos próprios filhos que estava em jogo. Nesse aspecto, a distribuição de mudas de árvores aos pais de crianças que nasciam na cidade se justificava pelo modo como Iria via as necessidades desses pequenos cidadãos ao longo da vida, carências essas que somente as árvores poderiam prover: desde o lápis e o caderno até a classe escolar, bem como os frutos como alimento. Desse modo singelo, Candelária ganhou um número de árvores atualmente impossível de precisar.

Se as queimadas em curso em diversas partes do planeta parecem fugir ao controle do ser humano, levando-o a repensar os limites de suas possibilidades, os danos por elas causados ao meio ambiente há muito tempo já eram um dos grandes receios de Iria. Ao mesmo tempo em que ocorrem estes tristes fatos, a candelariense, atualmente com 78 anos, se diz cansada e no limite de suas forças. Por outro lado, é com o antigo sentimento de urgência que a marcou por toda a vida que ela viu a passagem do Dia da Árvore, no último dia 21 de setembro, vislumbrando na data a obrigação de deixar uma mensagem. Para esse dia tão importante, através de contato com a redação da Folha de Candelária, Iria escreveu algumas frases que ela própria definiu como uma despedida e um agradecimento. Porém, se o que ditou essas palavras foi a consciência de Iria do aspecto de finitude que caracteriza tudo que é relacionado ao ser humano no mundo, todos que a conheceram ou conhecem sabem que Iria, enquanto um resto de força animar seu corpo e seu espírito, sempre estará defendendo a causa que a moveu durante suas quase oito décadas de vida.

Independente de ser ou não um adeus, a Folha de Candelária se sentiu no dever de transcrever literalmente essa mensagem, levando em consideração o fato de se tratar possivelmente da pessoa que mais lutou pela causa do meio ambiente no município, além da esperança de que tais palavras sirvam de inspiração e exemplo às novas gerações: “O Dia da Árvore deveria ser comemorado como o Dia dos Pais, das Mães, das Crianças, pois ela é parte integrante da manutenção do nosso planeta. Nós, os humanos, nada seríamos sem o benefício que a árvore nos fornece. Mas ela precisa dos elementos – água, ar, terra e luz. Nós somos responsáveis em cuidar de tudo isso. A árvore é nossa amiga mais sincera. Se penso na semente da qual ela veio para se tornar frondosa e majestosa, ao longo do tempo, através de sua vida essa semente nos fornece frutos como alimento para nós e para os animais, folhas como remédio e sombra para nosso descanso, madeira para nossas casas, móveis e papel. E tudo isso ela nos retribui se tivermos cuidado com ela. Agradeço a Deus pela força que Ele tem me dado para plantar e distribuir muitas das mudas de árvores para escolas, com a esperança de um mundo mais verde e vivo. Em visita à minha filha Elisabeth em Belo Horizonte, aproveitei para plantar uma árvore no dia a ela dedicado”. Estes são os termos usados por Iria Faber sobre a passagem desta importante data. Em relação a esta candelariense, a Folha espera, sinceramente, que ainda haja muitas “despedidas”, por muitos Dias da Árvore, ao longo de muitos anos.