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Geral 10/07/2020 17:08
Por: Redação

Hino a Candelária: uma inspiração de 50 anos

Primeiras notas foram compostas pelo professor Protásio Moreira Knewitz em 1970. Mas o hino seria oficializado apenas em 1983 e se popularizou com um arranjo da professora Vera Hintz Rocha

  • Parceria: Vera e Protásio em apresentação conjunta durante um chá no Clube Rio Branco
  • Vera Hintz S. Rocha: privilegiada
  • Protásio Moreira Knewitz: em sua entrevista para a Folha em 1993: “algo me impulsionou”

A caneta rabisca as primeiras notas no papel. Em seguida, o violino é chamado para traduzir em sons os pequenos símbolos gráficos. Essa cena completa neste ano 50 anos. Conforme reportagem veiculada pela Folha em 1993, no ano de 1970, o professor Protásio Moreira Knewitz começava a esboçar o que seria, somente em 1983, o hino oficial do município de Candelária. “Algo me impulsionou para tentar compor um hino a Candelária. Bem ou mal, escrevi a música”, relatou Protásio na matéria. A ideia, segundo ele, era estimular a juventude a colocar uma letra na música que ele havia composto.”Enviei correspondência às direções das escolas, mas não houve ressonância”, relatou.
Somente três anos depois, em 1973, o então prefeito Sebaldo Wohlenberg pediu ao professor Protásio que colocasse uma letra na música. Após um levantamento histórico dos principais aspectos que caracterizam o município, os primeiros versos começaram a ser escritos. Em 1978, o então prefeito Elcy Simões de Oliveira renovou o pedido de finalização do hino. Protásio registrou que, na época, trocou algumas ideias com o falecido Arnaldo Jacobi. A redação definitiva da letra foi feita alguns dias depois. Considerando sua missão cumprida, o autor da obra enviou ao prefeito Elcy a letra e a música do hino, doando-o à Prefeitura de Candelária. “A música é do município; não me pertence mais”, justificou Protásio. 
No entanto, o professor Protásio não guardou boas lembranças da primeira execução pública do hino. Um grupo de crianças, obedecendo a regência de um alto funcionário municipal, fez a apresentação inaugural do hino. Presente ao ato, Protásio confessou não ter gostado do resultado, e chegou a retirar-se do Clube Rio Branco, onde acontecia o ato.”Creio que muitas pessoas que viram e ouviram também não gostaram”, observou. Depois disso, segundo ele, o hino foi relegado ao esquecimento. Passado algum tempo, a então professora de música da Escola Lepage, Vera Hintz Rocha, tomou conhecimento do hino e ensaiou com seus alunos e com um coral misto que havia organizado. “O hino ganhou vida nova”, destacou Protásio, lembrando que foram realizadas várias apresentações em recinto fechado e em solenidades públicas a céu aberto. “Se Candelária tem seu hino, isso se deve ao esforço da professora Vera”, reconheceu Protásio. A legitimação como hino oficial do município se deu através do Decreto Executivo 015, de 4 de julho de 1983, pelo então prefeito Ronildo Gehres. Questionado sobre o sentimento que lhe moveu a criar um dos principais símbolos do município, seu Protásio respondeu com uma frase impregnada com a mesma poesia presente nos versos do hino. “Inspiração é como o termo saudade, que não se traduz em todas as línguas. Ela vem simplesmente, não se sabe de onde”.
Vera confessa: “o hino sempre me emociona”
Com a humildade que lhe é característica, a professora de música Vera Hintz Rocha minimizou o crédito que Protásio lhe deu em relação à nova configuração musical que deu ao hino. Mesmo assim, admitiu que o autor lhe deu toda a liberdade para, segundo suas palavras, “mexer onde quisesse” no hino. Vera registrou que Protásio tocava violino e, por isso, compôs o hino em uma tonalidade voltada para este instrumento. Diante disso, trabalhou para tornar a tonalidade da melodia mais apropriada para a voz. Vera também acrescentou um acompanhamento harmônico e, dessa forma, ganhou forma a versão mantida até hoje. Esse novo arranjo musical está presente na versão gravada já há alguns anos em Santa Cruz do Sul, executada sempre nas solenidades oficiais. Vera relata que a gravação é tocada e interpretada pelo professor Abílio Piovesan com o acompanhamento dela própria. A professora de música diz se sentir privilegiada por ter contribuído com a estrutura musical do hino e confessa sempre se emocionar quando ele é executado. Embora nem de longe ela reivindique isso, talvez seja justo acrescentar o nome de Vera Hintz Rocha na composição do Hino à Candelária. Pelo que se viu, seu Protásio certamente iria concordar totalmente com essa co-autoria.

Hino a Candelária
Nas campinas e florestas,
Partilhando da caça e da guerra
Lusitanos audazes cruzavam
Com os índios, os donos da terra.
Lado a lado, enfrentando,
O espanhol, invasor da querência,
Finda a luta na gleba ficaram,
Que legaram a sua descendência.
ESTRIBILHO
Vê que bela paisagem se vislumbra
Vê que solo fecundo, abençoado,
Aguardando somente de seus filhos,
Um esforço maior e dedicado...
Coração deste estado altaneiro,
Encoberta também por céu de anil,
Candelária parcela do Rio Grande,
É pedaço do imenso Brasil...

Entre legiões que passam
As belezas da terra feraz,
Vão prendendo de plagas distantes,
O colono, homem livre, capaz.
E nasceste, Candelária,
Junto ao cerro do Botucaraí
E entre lendas e o rude trabalho
Os teus filhos viveram por ti.
ESTRIBILHO
Vê que bela paisagem...

Se te orgulhas do passado
Teu presente é risonho, feliz,
Há trabalho, há promessas de sonho
É a cidade, é a colônia quem diz.
Mocidade que se ilustra,
E homens guapos, em rude labor.
Candelária, tens certo o futuro
Que é seguro, brilhante, promissor.
ESTRIBILHO
Vê que bela paisagem...

(Confira essa e outras matérias especiais alusivas aos 95 anos de Candelária na edição impressa da Folha do dia 10 de julho de 2020)