Por: Arthur Lersch Mallmann
Candelária prepara decreto de Situação de Emergência
Prejuízos da agricultura e da pecuária são estimados em pelo menos R$ 52 milhões
O município de Candelária irá declarar novamente Situação de Emergência em razão da estiagem. O decreto deverá ser assinado nesta sexta, 27, pelo prefeito Nestor Ellwanger (Rim). Mais uma vez, a escassez de chuvas no verão trouxe problemas graves de desabastecimento na área rural. Segundo dados da Defesa Civil do município, mais de 600 mil litros de água já foram levados pela Prefeitura a famílias do interior (sem contar as entregas realizadas pelos Bombeiros Voluntários, que tem realizado cerca de 10 entregas por dia em caminhões de 2.500 e 5.000 litros). Na agricultura e na pecuária, foram contabilizadas as perdas nas culturas do tabaco, soja, milho e arroz, além do gado de corte e da produção do leite. Nestes setores, o prejuízo é estimado em R$ 52.730.777,00.
A mobilização para o decreto ganhou força na segunda, 23, quando o Sindicato Rural (SR) organizou uma reunião com diversos representantes de entidades ligadas ao agro, especialistas, instituições financeiras e uma representação da Prefeitura. O objetivo, segundo o presidente do SR, José Daltro Emmel, era levantar informações sobre os prejuízos da seca para amparar o poder público municipal em uma declaração de Situação de Emergência.
Partindo dessa reunião inicial, os presentes agendaram um encontro do Conselho Municipal de Agricultura e Pecuária, ocorrido na manhã de quarta, 25, também no SR. O encontro contou com a participação de 100% dos membros do Conselho. Estiveram representados no encontro a Emater, o IRGA, a Inspetoria Veterinária, a Secretaria de Agricultura, a Defesa Civil, cooperativas, associações de produtores, o SR e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Candelária. As entidades participantes validaram o laudo de perdas reunido pela Emater. A ata do encontro do Conselho foi encaminhada à Prefeitura para amparar o decreto. Após o reconhecimento da Situação de Emergência, o município poderá ter acesso a recursos federais para amenizar os prejuízos econômicos da estiagem.
QUADRO
Levantamento dos prejuízos da estiagem*
Soja – R$ 21.874.000,00
Gado de corte – R$ 11.003.040,00
Tabaco – R$ 7.973.000,00
Milho – R$ 7.015.100,00
Arroz – R$ 4.478.760,00
Leite – R$ 386.877,00
*Os gastos com água e os prejuízos dos hortifrutigranjeiros não foram orçados
Falta de água no interior preocupa
Os efeitos da estiagem estão indo muito além da agricultura. Para muitas famílias da zona rural de Candelária, já falta água para necessidades básicas. O agricultor Ismael do Nascimento, de 28 anos, morador da Linha Brasil, recebeu na segunda, 23, a sua quarta encomenda de abastecimento hídrico em 2023. À reportagem, Ismael conta que a água que recebe é utilizada principalmente para tomar banho e para lavar roupas. Seu pai, que vive no Travessão Schoenfeldt, complementa o abastecimento da casa trazendo galões cheios d’água em seu carro, os quais são utilizados pela família para cozinhar.
Em sua propriedade, Ismael planta tabaco e milho. Mas, devido à intensidade da estiagem e o medo de prejuízos acentuados, a família optou por não plantar o milho nesta safra. “Nós geralmente alimentávamos as ovelhas, o gado e o porco com o milho que plantávamos, mas este ano estamos precisando comprar o alimento deles”, explica. A cada dia sem chuva, a preocupação com seus animais aumenta. “Nós estávamos buscando água para os animais no arroio próximo, mas ele também está ficando seco”, complementa. Quando a reportagem saía do local, Seu Hélio Teófilo do Nascimento, de 70 anos, se despediu dizendo: “que Deus traga chuva em breve”.