Logo Folha de Candelária
Geral 11/01/2019 15:56
Por: Luciano Mallmann

Entre guardados e legados, o mundo de Íria Faber

Candelariense completa 25 anos distribuindo mudas de árvores, ajudando a criar um município mais verde

Duas décadas e meia se passaram desde que, pela primeira vez, a agricultora aposentada Íria Faber fez a doação de uma muda de árvore aos pais de uma criança recém-nascida. Conforme lembra, essa criança era Arthur Lersch Mallmann, filho do jornalista Marco Antônio Mallmann e da artista plástica Cristine Lersch. Em 2018, essa doação completou 25 anos. De lá para cá, a falta de cuidados da maior parte da população em relação ao meio ambiente se impôs com certa violência, sem conseguir, porém, que essa destemida candelariense desistisse de seu sonho de ver, como ela mesma define, um planeta mais vivo. Valendo-se de sua capacidade de fazer as pessoas reunirem-se em torno dela e colocarem sua mão de obra à disposição da causa da natureza, é inegável o valor de tudo que se fez pela preservação do meio ambiente. Conforme os cálculos de Íria, hoje com 76 anos, as mudas de árvores doadas, daquele ano na década de 1990 até hoje, somam aproximadamente 1.250 árvores que, graças à sua iniciativa e à boa vontade da pessoas que as receberam, viram o tempo passar, tornando-se árvores, algumas hoje muito frondosas, como a própria Íria testemunha.

Ela própria se antecipa em registrar, antes de qualquer palavra, um agradecimento a todos de quem vem recebendo uma ajuda contínua. Porém, o trabalho de produção das mudas, ou, como define Íria, o “trabalho de formiguinha”, é um tanto solitário e se divide em etapas. A primeira delas tem início quando a agricultora aposentada recolhe uma quantidade da terra fértil do mato em sua propriedade. Como a intenção é plantar sementes ou mudas muito pequenas, toda a terra precisa ser peneirada. Após esse trabalho, a etapa seguinte é colocar porções dessa terra em bandejas ou outros tipos de recipiente, a fim de que então ela receba as sementes. É nessa fase que se pode observar que na verdade não há muito segredo em tomar uma semente – de qualquer árvore –, colocá-la na terra, com o cuidado necessário a tudo que é vivo e frágil, e cuidar dela até fazê-la brotar. E que é absolutamente natural a maneira como a água, a terra, a luz e o ar, como elementos, ajudam um ao outro, fecundam-se e compreendem-se. Assim, as mudas brotam de uma maneira que, se não se soubesse tão bem o funcionamento de tais elementos naturais, se diria que é por milagre. Pois bem: depois de brotarem, as mudas passam a exigir outro tipo de atenção, incluindo o olhar, a presença sempre vigilante e os cuidados para que haja água na quantidade certa, sem luz em excesso e, chegado o momento, o replantio em um recipiente maior, onde a muda receberá os mesmos cuidados, até chegar ao estágio, por fim, em que estará pronta até o seu o destino final, ou seja, o chão de terra. Foi assim com cada uma das cerca de 300 mudas, das mais diversas espécies de árvores e plantas, que a candelariense dispõe, no momento, para doação.

Tendo recentemente realizado entrega de mudas em escolas e entidades, Íria reitera a necessidade dos agradecimentos às pessoas voluntárias de quem recebe uma ajuda que ela considera inestimável, empresas, escolas, entidades, imprensa falada e escrita, os poderes executivo e legislativo, à Universidade Federal de Santa Maria, bem como a todos que, de uma forma ou de outra, tornaram possível a produção das mudas e a criação e a manutenção do projeto Planeta Vivo. A partir do resultado dessa colaboração, é possível falar da concretização, ou criação, de algo que irá ficar: foram inúmeras as pessoas, de todas as idades, que ouviram e aprenderam, através da voz de Íria, sobre a importância do plantio contínuo de árvores, intensificado para cada criança que nasce no mundo. As árvores já crescidas e as mudas recém-plantadas constituem a parte concreta de um trabalho cuja base é, na verdade, um lento trabalho de conscientização – talvez o maior legado dessa candelariense.

Considerando a existência de uma realidade adversa, hostil, a tudo que diz respeito ao meio ambiente e sua preservação, não teria sido possível atingir esses objetivos se não fosse essa ajuda mencionada. Conforme a própria Íria relata, quando se deu o surgimento do projeto Planeta Vivo, ela não imaginava “quantas emoções estavam por vir, nem adivinhou quantos desafios teria de enfrentar”. Entre essas emoções, pode-se destacar o fato de ela saber, como mulher lúcida e que enxerga nitidamente a realidade, o quanto a destruição é maior do que a preservação, formando um contraste desigual e covarde. Ela tem plena consciência do quanto o mundo, em seus aspectos naturais, está maltratado, bem como das ameaças que a capacidade do planeta em abrigar vida num futuro muito distante. Não obstante essas questões nada amenas, essa senhora destemida, entre as várias possibilidades de escolha, opta por ter esperança em um mundo mais verde e em um ser humano mais consciente.

Porém, o motivo para sua preocupação é, na verdade, bastante simples: “Nosso planeta é um só.” E Íria conta das dificuldades, inclusive financeiras, que não raro enfrenta para poder distribuir mudas gratuitas. É o desejo de dar continuidade ao projeto que a leva a aceitar doações (“Mesmo de valores que pareçam insignificantes”), tanto em dinheiro como em caixas de leite, necessárias para plantar as mudas, e outros materiais. Quem quiser doar qualquer valor – qualquer valor - pode se dirigir ao Sicredi, agência 0403, conta corrente 41069-1, no nome de Íria Faber. Parece desnecessário dizer, mas, desse modo, as pessoas estarão colaborando para a preservação de sua cidade. Trata-se de uma causa a ser acolhida da mesma maneira como a terra acolhe uma pequena semente.