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Geral 07/06/2024 06:56
Por: Diego Foppa

Moradores vivem momento de incerteza no Alto Passa Sete

Danos causados pela enchente atingiram a Agroindústria Rodeio da Figueira, que precisará mudar sua estrutura de forma provisória

  • Rachaduras atingiram as duas casas e o prédio da agroindústria
  • Em algumas partes do pátio da propriedade, solo baixou aproximadamente um metro

Se em partes baixas de Candelária o Rio Pardo invadiu casas e causou destruição, na parte mais alta do município alguns moradores convivem com o temor dos deslizamentos de terra e rachaduras no solo. É o caso da família Hennig, na localidade de Alto Passa Sete, que enfrenta o drama e as incertezas relacionadas ao futuro por conta dos estragos causados. Na propriedade, os danos causados pela catástrofe começaram a se delinear no feriado de 1º de maio, conforme conta o casal Maria Elisa Hennig e Givanildo Vidal de Souza. Atualmente, os dois são os responsáveis pela Agroindústria Rodeio da Figueira. “Notamos uma pequena rachadura no solo”, comentam. Dias depois, um expressivo volume de chuva foi novamente registrado, com cerca de 250 milímetros contabilizados, causando fissuras na casa deles, bem como na moradia dos pais de Maria Elisa e no prédio da agroindústria. “Nós percebíamos que as rachaduras aumentavam em ‘câmera lenta’ no solo e também nas paredes. Às vezes era possível ouvir uns estalos”, relatam. Diante da situação, Givanildo revela que precisou desprender as madeiras da garagem, que eram fixadas na viga de cima da residência. “A parte do terreno onde ficava a garagem cedeu mais. Acho que se essas madeiras não tivessem sido soltas, toda a estrutura teria desabado”, ressaltam. Em partes do pátio da propriedade é possível perceber que o solo baixou aproximadamente um metro.

Um relatório de vistoria, realizado por um geólogo, recomendou a interdição do local, tendo em vista o iminente risco de novos deslizamentos.  Segundo o chefe da Defesa Civil de Candelária, João Vicente de Oliveira Carrão, a propriedade é sim uma área de risco, mas um laudo detalhado ainda será apresentado de todas as áreas afetadas no município. 

Diante do cenário, a necessidade de repensar o futuro. Inicialmente, a família optou por levar a agroindústria para uma parte aparentemente não afetada do terreno, em um pavilhão que até então servia como garagem e para outros afazeres do dia a dia. “É a única medida provisória que está ao nosso alcance no momento, embora exija um alto investimento”, destacaram. Em paralelo, outra incerteza é com relação às moradias. “A gente não sabe o que fazer. Pensamos em começar uma vida nova em outro local, mas não é fácil. Tudo o que construímos e conquistamos está aqui. Temos vivido e pensado um dia de cada vez”, relata. 

Agroindústria vivia constante evolução 

A história do empreendimento iniciou com os pais de Maria Elisa, em 1998. À época, o casal de agricultores Ari Arnaldo Hennig e Amélia Stoeckel Hennig decidiu abandonar o cultivo do fumo. Um dos motivos, dentre outros, era migrar para uma cultura que não dependesse tanto de agrotóxicos. Assim, focaram todas as suas energias na produção de melado batido, que tradicionalmente o casal produzia na época de inverno. De início, o processo era ainda bastante artesanal, mas a partir do ano 2000, com o auxílio da Emater, a família Hennig construiu a primeira agroindústria legalizada do município. Com o crescimento do negócio, Givanildo e Maria Elisa abriram mão de suas atividades para ajudar na agroindústria no ano de 2007. Em 2012, contribuíram para a modernização da produção, substituindo o método mais rudimentar de fogo à lenha direto no tacho por outro que se utiliza de caldeiras a vapor. Dessa forma, a agroindústria passou a produzir mais que o dobro com o mesmo custo. No ano passado, a agroindústria participou do 11º Concurso de Produtos da Agroindústria Familiar, na Expointer, através do Programa Estadual da Agricultura Familiar, desenvolvido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com os candelarienses obtendo o 1º lugar na categoria melado.

 

LAVOURA DESTRUÍDA 
Outra área também bastante afetada pela enchente foi uma das lavouras da família. Na propriedade, localizada em uma área mais baixa, toda plantação de cinco hectares de cana-de-açúcar foi destruída pela enxurrada. Além disso, grande parte da lavoura foi devastada, tomada por lama seca e pedras. “Na enchente de 2010, perdemos grande parte da matéria-prima, mas desta vez, a chuva levou praticamente tudo o que construímos ao longo destes 24 anos”, lamenta o casal.