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Rural 19/01/2023 19:33
Por: Arthur Lersch Mallmann

Soja vem ganhando espaço nas terras baixas

Nesta safra, as terras destinadas ao arroz em Novo Cabrais e Candelária tiveram uma redução de 20 e 25%, respectivamente

  • Terceira geração de uma família arrozeira, Dionata introduziu o plantio da soja há 4 anos | Foto: Arthur L. Mallmann / Folha de Candelária
  • Contraste das cores ilustram até onde Dumke consegue irrigar sua plantação de arroz | Arthur L. Mallmann / Folha de Candelária
  • Em sua plantação de arroz, o produtor projeta um prejuízo 4 vezes maior em relação à última safra | Foto: Arthur L. Mallmann / Folha de Candel
  • Foto: Arthur L. Mallmann / Folha de Candelária

A fotografia de localidades tradicionalmente produtoras de arroz, como a Rebentona e a Linha Palmeira, vem mudando nos últimos anos. O elemento novo é a forte presença da soja nas terras de várzea. Estes locais, propícios à inundação, não costumavam ser indicados para soja, mas a estiagem dos últimos anos e a maior rentabilidade desta cultura tem atraído produtores para este caminho.

Um destes casos é do agricultor Dionata Dumke, 35 anos, que faz parte da terceira geração de uma família produtora de arroz da Linha Palmeira. Há 4 anos, passou a introduzir a soja em rotação com o arroz em suas terras de várzea. “A parcela da rotação eu decido conforme o clima. Se for ano de La Niña, que são mais secos, eu destino uma maior área para a soja”, explica. Ele conta que houve uma época que sua família cultivava 110 hectares exclusivo de arroz; nesta safra, 60% desta área foram destinadas à soja. Segundo Dumke, a principal razão para isso é econômica: os altos custos de produção e o maior retorno financeiro da soja.

O Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA) vem se adaptando à essa nova realidade. O órgão não apenas contabiliza quantos hectares das áreas tradicionalmente arrozeiras são destinadas à soja, mas também produz cultivares de soja mais adaptados às características destes solos. O Engenheiro Agrônomo e Técnico Superior Orizícola do IRGA de Candelária, José Fernando Rech de Andrade, ressalta que a incorporação da cultura da soja para os arrozeiros é salutar. Para além da sobrevivência financeira do produtor, Rech aponta que, com a rotação de culturas, a necessidade de herbicidas é drasticamente reduzida, o que é bom tanto para o solo quanto para o bolso do produtor.

Avaliando esta tendência, o Engenheiro Agrônomo da Agrican, Adalton de Siqueira, afirma que a rotação da soja ganhou força nestes anos de estiagem. Segundo ele, em terras que não são propícias ao alagamento, a mudança para a soja é provavelmente definitiva. Nas alagáveis, tudo depende do contexto. “A soja está dando certo porque são anos mais secos. Em um ano de El Niño extremamente chuvoso, a produção de soja é dificultada em ambientes alagados. Se o arroz valorizar e a perspectiva for de um ano chuvoso, os produtores das várzeas tendem a voltar para o arroz”, pontua.

REGIÃO - A tendência do plantio da soja em terras de várzea vem ganhando força em Candelária, Novo Cabrais e Cerro Branco. Segundo dados do IRGA, destes três municípios, Candelária teve a maior redução no cultivo do arroz: de 6.320 para 4.750 hectares – uma diminuição de 25%. Hoje, a área semeada de soja nas terras baixas em Candelária é de 4.000 hectares e em Novo Cabrais é de 1.150 – muito próximas à área destinada ao arroz. Em Cerro Branco, apenas 11% desta área está sendo usada para o cultivo da soja. De acordo com a Emater de Cerro Branco, a incorporação da soja nestes locais está apenas iniciando no município. Ainda segundo os extensionistas, o vínculo cultural com o plantio do arroz e o fato do município ter uma área agrícola menor podem ter contribuído para uma menor migração para a soja.

 

Redução da área cultivada de arroz (hectares semeados)

 

2021/2022

2022/2023

Redução (%)

Candelária

6.320

4.750

-25%

Novo Cabrais

1.620

1.300

-20%

Cerro Branco

830

800

-4%

 

Estiagem causará mais uma safra com perdas

A falta de chuva vem, mais uma vez, tirando o sono dos produtores rurais. Dionata Dumke, por exemplo, relata as dificuldades enfrentadas pelos agricultores frente às incertezas do clima. “Quando plantei a soja em dezembro, veio uma chuva forte que inundou o solo e perdi muitas plantas. Precisei fazer um replante logo em seguida. Agora, é a seca que está matando as plantas”. O arroz, segundo Dumke, está ainda mais ameaçado. Ele complementa afirmando que, no ano passado, perdeu cerca de 1.500 sacos de arroz por causa da estiagem; este ano, a expectativa é de um prejuízo estimado de 6.000 sacos.

Para o engenheiro agrônomo da Agrican, Adalton de Siqueira, o quarto ano consecutivo de La Niña desanima os produtores de arroz. “Existe uma preocupação dos agricultores que migraram para a soja. Por um lado, eles acertam em não plantar uma área grande de arroz, pois não há água para irrigação. Por outro lado, a seca está avançando para as terras baixas e pode causar prejuízos também para a soja”, explica.