Por: Arthur Mallmann
Mulheres ampliam presença nos espaços de poder
Segurança pública e política registram aumento da participação feminina, mas desigualdades ainda persistem
A mulher tem ampliado a área de atuação nas mais diversas funções. Trabalhos que eram exercidos apenas por homens, como nos setores da segurança pública e da política, contam, cada vez mais, com a mão feminina. No caso da segurança pública, o Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com mais mulheres na Polícia Civil e o terceiro em ocupação funcional feminina na polícia militar. São 43,1% delas na Polícia Civil e 20,9% na Brigada Militar, conforme dados do Raio X das Forças de Segurança Pública do Brasil, divulgado em 2024.
Por sua vez, os dados da política no estado dão conta que, mesmo que componham a maioria absoluta dos eleitores (53%), as mulheres perdem espaço no “funil” do poder. De acordo com dados do TSE Mulheres, de 2024, no Rio Grande do Sul 34% dos candidatos a cargos políticos são mulheres e, dos eleitos, somente 19% são do gênero feminino. Ainda assim, é possível ver que estes números estão crescendo. Nos últimos seis anos, o percentual de mulheres candidatas, eleitas e reeleitas subiu em 3%.
A capitã
Em Candelária, a Brigada Militar é comandada pela capitã Bruna Simon desde outubro do ano passado. Natural de Santa Cruz do Sul, ela é graduada em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Conforme Bruna, desde muito jovem ela foi incentivada por seus pais a buscar independência. “Venho de uma família com uma trajetória simples. Meu pai é agricultor e minha mãe é professora. Eles sempre me motivaram a seguir o caminho dos concursos públicos. Durante o curso de Direito e, após me formar, tive a oportunidade de transitar pelo Ministério Público e pelo Judiciário, o que me proporcionou uma visão mais ampla do sistema. No entanto, acabei me apaixonando pelas carreiras policiais, e foi assim que ingressei na Brigada Militar”, disse.
Ainda segundo ela, o que lhe atraiu para a área da segurança pública foi a possibilidade de, diariamente, fazer a diferença na vida da comunidade. “A profissão policial é extremamente dinâmica, abrangendo desde a atuação em ocorrências graves, passando pela orientação de cidadãos e, até mesmo, a realização de atividades como as aulas do PROERD com as crianças. Cada dia é uma nova experiência, e isso é muito gratificante”, acrescentou.
Sobre trabalhar com um quartel predominantemente masculino, a policial salientou que é necessária liderança firme e respeito mútuo. “Acredito que, independentemente do gênero, o que mais importa é a competência, a dedicação e a capacidade de tomar decisões em momentos críticos. Entendo que a convivência e o trabalho em equipe são fundamentais para a harmonia e o sucesso de qualquer ambiente”, destacou.
Para as mulheres que também sonham em seguir essa carreira, a capitã enfatiza para que nunca desistam de lutar pelos seus sonhos. “Se a segurança pública é a sua vocação, vá em frente. Não permita que ninguém diga o que você pode ou não pode fazer. Acredite no seu potencial e busque sempre aprimorar suas habilidades. O mundo da segurança pública é desafiador, mas também é extremamente gratificante, e as mulheres têm um papel fundamental a desempenhar. Acredite em si mesma, pois o sucesso depende da nossa coragem e determinação”, finalizou.
A presidente
Desde o início do ano, o Legislativo candelariense é presidido pela vereadora Jaira Diehl. Em entrevista, ela destacou o crescimento da participação feminina nos espaços públicos da comunidade candelariense. “Tivemos recentemente, por exemplo, a primeira presidente mulher da ACIC. A nossa primeira dama também possui um perfil muito atuante, ocupando uma secretaria com grande destaque. Sem falar nas mulheres que são gerentes de banco, empresárias, e assim por diante”, pontua.
Mais especificamente na política, Jaira vê com bons olhos as cotas de participação femininas, que hoje preveem 30% de candidatas mulheres. “É um processo um pouco lento, mas se olharmos para 20 anos atrás, as coisas eram bem diferentes. Temos uma excelente representatividade feminina no Legislativo de Candelária hoje. De 11 vereadores eleitos, 4 eram mulheres, e todas com vozes fortes. Às vezes é tudo uma questão de oportunidade”, refletiu a presidente da Casa do Povo.
Dentre os desafios apresentados às mulheres, Jaira reconhece a existência da sobrecarga feminina, mas reconhece que este cenário está mudando nas novas gerações. “A rotina diária ainda recai mais sobre as mulheres. Cabe a nós ensinarmos aos nossos filhos que todos que moram na casa tem as suas responsabilidades", opina.
A vereadora alertou, por fim, para uma das mazelas da sociedade hoje, que é a violência contra a mulher, e a necessidade de torná-la mais visível no debate público. “O desafio não é tratar apenas da violência física, mas da violência econômica, psicológica, e em vários outros níveis. E isso só ganha relevância com as mulheres ganhando cada vez mais presença nos espaços decisórios”, destaca. “E seguiremos avançando”, conclui.