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Geral 10/07/2020 17:29
Por: Redação

Afinal, qual a altitude do morro Botucaraí?

Mais conhecido cartão de visitas de Candelária, o chamado santo cerro sempre despertou fascínio e é cercado de lendas

  • Conhecido como o morro isolado mais alto do estado, Botucaraí é apresentado com uma altitude de 569,63m em relação ao nível do mar
  • O monge João Maria de Agostini: habitante mais conhecido do Botucaraí

A mais destacada referência natural de Candelária, o morro Botucaraí também é, sem dúvida, o principal cartão de visitas do município. O fascínio exercido pelo morro isolado mais alto do Estado começa por sua denominação. Segundo consta da obra do historiador Aristides Carlos Rodrigues, “Candelária - Sua Gente, Sua História”, o nome está associado à expressão Ybyty caray”, que, na linguagem tupi-guarani, significa monte ou cerro santo. Outra questão que gera alguma controvérsia diz respeito à real altitude do morro. Em matéria publicada pela Folha em julho de 1987, o professor e também pesquisador da história do município, Protásio Moreira Knewitz, registrou que causa perplexidade o que é declarado sobre a altitude do Botucaraí. Publicações oficiosas chegaram a informar uma altitude de 1.016 metros. Na referida reportagem, consta que professores do Colégio Mauá encontraram uma altitude de 569m. Já um croquis em poder de Edison Richter, confeccionado pela diretoria de Engenharia da 5ª Zona Aérea, refere a altitude do morro como sendo de 586m. Knewitz ainda salientou que, por sua solicitação, Hilário Grehs sobrevoou o cerro, tendo encontrado nos aparelhos de bordo a altitude de 540m. A altitude de Candelária é reconhecida como de 57m, embora um cálculo feito em 1982 por Edison Richter tenha encontrado 66m. Somando os 57m aos 540m se chegaria à altitude total do Botucaraí de 597 metros. O professor Protásio conclui, por fim, que a maior parte dos números a respeito da altitude do Botucaraí se concentra entre 569 e 606 metros. Uma pesquisa na internet atualmente, registra em 569,63m a altitude do morro em relação ao nível do mar. 
Independente de eventuais diferenças em relação à altitude, o Botucaraí sempre atraiu olhares e lentes interessados em explorar e admirar sua beleza em suas diferentes nuances dependendo do local de sua visualização. Na reportagem veiculada pela Folha, Knewitz refere que pesquisadores teriam também examinado desde a década de 1680 a constituição geológica do terreno ao redor do morro. Alguns teriam procurado ouro e prata sem sucesso. No entanto, pedras como ágatas e ametistas teriam sido encontradas. O professor Protásio ainda escreveu ter recebido há alguns anos um relato de um preto que na década de 1910/20, de acordo com o qual os serviços de seu pai e dele (criança na época) teriam sido contratados por dois alemães, que não permitiam a aproximação do local em que trabalhavam. “De longe, ele e o pai viam os dois homens selecionarem e limparem pedras, depois colocadas em caixas de madeira reforçadas”, relatou, registrando que depois as tais caixas eram colocadas por peões no lombo de mulas, após conduzidas na direção de Bexiga (a estação ferroviária mais próxima). 
A existência do cerro santo ainda é cercada de outras histórias e lendas. O habitante mais famoso do Botucaraí foi, sem dúvida, o monge João Maria de Agostini, personagem que despertou o interesse de diferentes historiadores. Em julho de 2011, a Folha publicou entrevista com o professor e historiador Alexandre Karsburg, que concluiu doutorado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a apresentação da tese sobre a biografia do monge. Em suas pesquisas, Alexandre descobriu que o imigrante italiano viveu mais de 30 anos como peregrino e missionário religioso na América, morando no alto de montanhas, em grutas e cavernas. Com bom conhecimento bíblico e teológico, o eremita, segundo o pesquisador, adotava um discurso severo, com abordagens sobre juízo final e das penas do inferno para aqueles que não se arrependessem de seus pecados. De acordo com Karsburg, o monge esteve no Botucaraí em dois períodos, entre 1846 e 1848. Desde então, conforme registrou, inúmeras pessoas passaram a buscar no Botucaraí a cura para suas doenças, a partir da descoberta pelo monge de uma fonte de água medicinal. Ainda segundo o historiador, na data de 17 de outubro de 1848, o eremita foi detido no Botucaraí por ordem das autoridades da província. Protásio Knewitz, por sua vez, também destacou a fama de milagreiro e algumas lendas que cercam a passagem do monge pelo Botucaraí. Uma delas referia que uma mulher do povo, curada ou aliviada de seus males, levava ao monge, em agradecimento, uma galinha. No caminho, a ave sujou o vestido da mulher. Esta, no momento, teria dito “Ôoo... galinha do diabo!”. Ao entregar a ave, o monge lhe teria dito: “Filha, não posso aceitar essa galinha, porque no caminho, tu já a deste para o diabo...”.
(Confira essa e outras matérias especiais alusivas aos 95 anos de Candelária na edição impressa da Folha do dia 10 de julho de 2020)