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Geral 15/09/2017 13:56
Por: Luciano Mallmann

Diversos projetos movimentam a rotina do Recanto da Vida

Reconstrução da cozinha está entre as exigências da Vigilância Sanitária

"Eles sentiam medo de precisar ir embora do Recanto. Assim, de um dia para o outro e sem aviso. Mesmo que aqui fosse a única casa deles. E agora aquela preocupação não existe mais. A angústia passou. O clima hoje é de alegria e bem-estar". É com essas palavras de alívio que o coordenador do Recanto da Vida, João Matias Corrêa, define a atmosfera hoje reinante na instituição depois que a comunidade de Candelária respondeu ao seu modo, através de doações e obras, à ameaça de interdição e à necessidade do abrigo de se adequar às normas da Vigilância Sanitária. Quem hoje visita o lugar não tem dificuldade em perceber essa mudança nos semblantes dos internos, sempre sorridentes ao responder ou mesmo desejar um bom dia - ressalvados alguns olhares contemplativos, característicos de certos estados de humor ou mesmo da idade. Contudo, se para os idosos o tempo é de paz e de repouso, para a equipe de 23 funcionários que trabalha no local, mesmo sendo também de alegria, é, de igual modo, de intenso trabalho. Em ritmo incansável.

É o que se pode deduzir quando se ouve acerca dos inúmeros projetos que têm sido desenvolvidos pela equipe responsável, visando possibilitar sempre o bem-estar e a felicidade dos que têm no Recanto da Vida seu lar. Desde que o abrigo se comprometeu a se adequar às normas exigidas pela Vigilância Sanitária, o Recanto passou por reformas rigorosas em sua estrutura. Dos 35 quartos, 23 estão com as reformas ou revitalizações concluídas; os corredores receberam corrimões e, nos últimos meses, a enfermaria e a despensa também foram reformadas. Os trabalhos em geral foram organizados para serem realizados ao longo de três anos: 2017, 2018 e 2019. Entre as orientações do Corpo de Bombeiros de Santa Cruz do Sul está, como parte do PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndios), a instalação de lâmpadas de emergência, trabalho já concluído. Segundo Dalton Hoppe, presidente da Sociedade Assistencial Candelária, a meta, até o final de 2017, é estar em dia quanto ao planejado para este ano.

Por sua vez, João Matias organiza os papéis do Censo Psicossocial, solicitado pelo promotor da Comarca de Candelária, Martin Albino Jora. Trata-se de um levantamento, feito com cada um dos 60 internos do Recanto, contendo dados como o município de origem, histórico psíquico e social e também o porquê de o idoso estar morando no abrigo. Outro trabalho que vem sendo desenvolvido por João Matias, juntamente com a enfermeira Ivana Moura, é o "Projeto de Resgate Familiar contra o Abandono Afetivo Inverso". A medida visa conseguir entra em contato com familiares de internos que, depois de deixar o pai ou a mãe no local, passam anos, em alguns casos décadas, sem visitá-los. No caso, são familiares que há muito tempo não visitam os pais. Com o auxílio dos serviços de assistência social, busca-se saber os telefones atuais desses familiares para possibilitar o contato. Esse trabalho de resgate já proporcionou belos resultados. Um deles é de um interno que deixou sua família numa época em que seu filho tinha apenas poucos meses de vida. Há poucas semanas, passados já 50 anos, ocorreu o encontro - o filho não conhecia o pai nem o pai conhecia o filho. E o Recanto soube provar mais uma vez que, quando existem laços de sangue ou de afetividade, nenhum tempo de espera é vão. Outro caso de resgate bem-sucedido envolveu quatro irmãos, filhos dos mesmos pais, juntamente com um filho desse pai - interno do asilo - com outra mulher. Entre esses mencionados, um ainda não conhecia o pai, que deixara a família quando o filho tinha ainda poucos meses de vida. Da comoção desse reencontro dão testemunho lágrimas sorrateiras nos rostos de Dalton e de João Matias.

Quanto à estrutura do abrigo, que, pelo fato de contar com internos vindos de 11 municípios, se tornou referência regional, além das reformas do refeitório e da lavanderia, o foco está voltado para a tão sonhada construção da nova cozinha. Respeitando à risca as normas da Vigilância Sanitária e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Dalton elaborou um projeto para cuja concretização já está sendo feita uma mobilização junto à comunidade. O custo aproximado está orçado em R$ 42.500 para a construção e R$ 24 mil para os equipamentos, totalizando R$ 66.500. A reforma da cozinha está entre as principais mudanças exigidas pela Vigilância Sanitária, e as campanhas de arrecadação de materiais de construção têm sido uma das principais pautas das agendas de Dalton e de João Matias. Quem quiser fazer doações pode efetuá-las diretamente no asilo, ou ainda fazendo um pagamento em lojas de construção e autorizando a retirada em prol do abrigo. As prioridades, esclarecem eles, são cimento e ferro. Eles também fazem questão de reiterar o agradecimento por tudo que já foi doado e que continua sendo oferecido diariamente, deixando sempre o convite para que a comunidade visite a entidade, não apenas para conhecer, mas também para conferir a maneira como sua doação foi utilizada.  

GALETO - Tendo em vista a arrecadação de recursos para a cozinha, também está sendo organizado um galeto (com acompanhamentos) para o próximo dia 23. Quem quiser colaborar pode adquirir fichas até esse dia, ao custo de R$ 16, e a retirada será no salão da Comunidade Sinodal. As fichas podem ser encontradas com a diretoria da entidade, na página do Recanto no Facebook, podend também ser solicitadas por telefone, e os funcionários irão providenciar a entrega.

MAIS INFORMAÇÕES - Como a capacidade do Recanto é de até 90 internos, há ainda o objetivo de aumentar o quadro de 60 moradores. Nesse sentido, estão sendo feitas visitas às secretarias municipais de Assistência Social da região e junto ao Conselho Municipal do Idoso, para saber da possibilidade de haver idosos em situação de inadequação de cuidados ou de vulnerabilidade, sempre contando com o apoio das comunidades e, em cada caso, pensando no melhor para cada idoso. Para uma velhice digna, João Matias fala da importância não só dos cuidados básicos, como também de um maior acompanhamento dos familiares, lembrando que, "para os que não têm família, o abrigo cumpre essa função". Como exemplo, ele cita um acontecimento recente envolvendo um idoso que, em casa, pelo fato de o familiar não dispor de tempo ou mesmo de condições de fazer todo o necessário, acabou permitindo que o pai fosse para o abrigo. Ao constatar, um dia depois, o quanto o familiar estava já inserido e se sentindo renovado no novo ambiente, o filho deixou o Recanto em lágrimas de uma rara felicidade - com a consciência de ter cumprido da melhor forma possível, naquele caso específico, seu dever de amor filial.