Povo da roça, povo de Deus!

Candeia Acesa

Por: Pe. José Carlos Stoffel

Povo da roça, povo de Deus!

O apóstolo Paulo, ao animar o presbítero Timóteo em sua missão lembra que “o agricultor que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos.” (2Tm 2,5) e Tiago pede que nossa fé seja perseverante como a de um agricultor: “Ficai firmes até a vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva” (Tg 5,7).  Na Bíblia são usados vários termos para quem trabalha na terra. Na versão grega, o termo “georgós” indica quem cultivava o solo e colhesse o fruto da terra. Em várias passagens o trabalho do agricultor é empregado simbolicamente como obra do anúncio do Reino de Deus e propagação do Evangelho. A Palavra de Deus é como semente lançada na terra (cf. Mt 13,1-9). Nossa vida em todas as suas dimensões deve estar unida com a vinha, na qualidade de ramos (João 15). Deus Pai é o agricultor. Devemos pedir ao Senhor da colheita que envie mais trabalhadores para a sua messe, terreno dedicado ao cultivo e que se encontra em boas condições para a colheita. (Mt 9,39).

Celebrando a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, um agricultor, ao oferecer as primícias da colheita, agradece a Deus que escutou os clamores e viu a miséria de seu povo. (cf. Dt 26,1-11). Na celebração eucarística, o sacerdote ao apresentar o pão para ser consagrado reza: “Bendito sejais. Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos, e para nós se vai tornar pão da vida.”. Jesus Cristo se faz presente na Eucaristia, pelas mãos dos agricultores. Cheios de fé e esperança vêm com suas mãos endurecidas e marcadas pelas agruras do trabalho na terra receber o Corpo de Cristo!  A mesma mão que faz chegar o pão e comida de verdade em nossas mesas humildemente se abrem para receber o Pão do Céu.

Há cerca de 12 mil anos, os humanos, especialmente as mulheres, começaram a plantar. em diferentes partes do mundo. Mas surgiu pela primeira vez em uma região apelidada de Crescente Fértil, uma área banhada por rios no Oriente Médio. Nossa reverência aos trabalhadores mais antigos da humanidade. Mais do que homenagens aos colonos e agricultores, nossa solidariedade com as organizações dos pequenos agricultores familiares que gritam por dignidade, valorização do trabalho na roça, políticas públicas de fixação dos trabalhadores, especialmente os jovens no campo, por uma agricultura agroecológica, subsídios e crédito para a produção e preço justo, para que todos os seres vivos tenham o direito de comer bem. Se o povo da roça não planta, ninguém almoça ou janta!